Estava eu preparado para escrever nesta rubrica semanal algo sobre a constituição do novo Governo da Nação, assim como as “novidades” que o Sr. Presidente da República lançou sobre uma hipotética ida do Primeiro-Ministro para a Comissão Europeia, daqui a dois anos entenda-se, quando, mais uma vez, fomos assolados pelos relatos dos horrores da guerra que lavra na Europa.
No entanto, e longe de imaginar que em pleno Século XXI e em território europeu as mortes de inocentes poderiam ser uma realidade, eis que somos confrontados com um cenário macabro marcado pelos assassinatos de civis numa localidade da Ucrânia.
Já não foram mortes acidentais e colaterais, foram, e as palavras valem pelo seu peso, assassinatos, sem que nada o pudesse justificar.
A dita localidade, de seu nome “Busha”, faz parte da área de influência da cidade de Kiev, esta última capital da vitimizada Ucrânia, e representava um dos locais de permanência dos russos, tendo em vista o eventual assalto à capital daquele País e à decapitação do poder político existente.
Mais uma vez, a Europa democrática e ocidentalizada tem uma prova do que as ditaduras, ou regimes autocráticos como alguns ainda lhes vão chamando, são capazes de fazer para imporem a sua visão do mundo.
Infelizmente, e mais uma vez, a Europa irá claudicar, acobardando-se na moral de pregar a Paz mas sem disponibilidade para fazer a Guerra, preferindo ir acolhendo os refugiados a ter que mandar a sua juventude para o conflito que grassa às nossas portas.
As sucessivas condenações de pouco ou nada valerão, a começar pelas vidas já perdidas pela falta de coragem dos tecnocratas que estão em Bruxelas e de todos aqueles que nos governam.
Foi assim que começou a Segunda Guerra Mundial e, muito provavelmente, será assim que terminará o próximo conflito global, o qual se vai desenvolvendo de forma a larvar por debaixo dos nossos pés.
Vladimir Putin não descansará enquanto não controlar completamente, não apenas a Ucrânia -entenda-se como mera divisão geográfica, mas acima de tudo a sua forma de existir como Sociedade ocidentalizada, democratizada e livre.
Para os poderes político e militar russos, a Ucrânia apenas pode existir enquanto espaço de exploração dos seus recursos, sejam eles materiais, sejam eles humanos, pela Rússia, servindo ao mesmo tempo como zona “tampão” de expansão, não da NATO como se afirma, mas antes das ideias democráticas que o velho continente tem sabido manter e ”exportar” nos últimos séculos para vários pontos do globo terrestre.
Depois, já não basta impor sanções ao Estado Russo e à sua economia, é também preciso impor sanções à hipócrita China que, resguardada no seu pensamento milenar e na sua paciência confucionista, vai mitigando a tomada de posição contra Vladimir Putin, atrasando, ainda mais, o fim do conflito.
Mas tal, implicará que o mundo ocidentalizado, democrático e civilizado, deixe de olhar para o seu “umbigo” e para o conforto do “sofá da sala” onde assiste em direto a uma guerra televisiva.
O Mundo livre, para continuar a ser livre, tem que optar pela continuidade do “Império Americano” e a sua consequente renovação económica, algo que, no fundo, os europeus nunca aceitaram e estiveram apostados nas últimas décadas a extinguir, optando por abrir as portas ao capital chinês, mas também russo, e agora têm a paga!
Infelizmente, a Europa é um bluff, não passando de apenas um pote de ouro onde nos habituámos a ir buscar dinheiro, o único dinheiro que nos tem permitido subsistir, mas que tende a ir encolhendo, especialmente se o conflito continuar.
Contudo, o mais preocupante é esta completa ausência de pensamento estratégico, e que caso existisse, há muito que teríamos sido capazes de refletir e colocar em prática uma maior aproximação ao continente Africano, a par da promoção de alianças com países asiáticos e sul-americanos.
No entanto, fomos completamente incapazes de o fazer, com receio de assustar interesses russos e chineses, e estes, percebendo a essência da Europa – a mesma que paga para não ter chatices – pretendem dominar o Mundo, mas apenas porque nós o permitimos nas últimas décadas.
As perversões da guerra na Ucrânia são nossa culpa e da nossa completa falta de coragem para a Guerra, a mesma que um dia chegará até nós, e aí sim, poderemos gritar que somos também Ucranianos, mas talvez seja demasiado tarde.
NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)