NOTA DA SEMANA: BE – Faz o que eu digo, mas não o que eu faço!

O desemprego será, sem dúvida alguma, uma das piores situações para muitos dos nossos concidadãos, especialmente se este suceder em situações inesperadas, ou porventura, em momentos da vida em que a vulnerabilidade está mais acentuada.

Seja por doença, seja pela idade, ou seja simplesmente pelos compromissos que o cidadão possui num determinado momento, a ocorrência de um despedimento poderá originar um risco acrescido para a estabilidade social, não apenas do próprio, mas de igual modo, de todos os que dele dependem, especialmente a família direta.

Infelizmente, o número de despedimentos coletivos em Portugal tem vindo a aumentar, muito devido à situação económica que a economia europeia atravessa, com especial incidência na economia alemã, motivada pela agenda climática com que os europeus foram inundados e o seu impacto na indústria automóvel, para além da guerra na Ucrânia.

Os europeus apenas contribuem, a nível mundial, com 7% para a libertação de gases para a atmosfera, e Portugal resume-se a 0,9%, no entanto, a Comissão Europeia, do alto da sua sapiência, entendeu impor limites ao abrigo de uma suposta transição energética que de transição nada tem.

Transição implica uma passagem gradual, o que foi imposto é apenas uma disrupção, na medida em que a proibição dos motores de combustão até 2030, simplesmente está a originar uma crise que irá ter repercussões, não apenas nos bolsos dos consumidores, mas muito especialmente na indústria europeia e, consequentemente, na economia.

Por outro lado, os chineses continuam a emitir níveis elevados de gases para a atmosfera, consumindo todo o tipo de energias, designadamente as de origem fóssil, e dão-se ao luxo de produzir a tecnologia e os equipamentos que são indispensáveis para que a Europa cumpra a sua agenda climática. Isto é, no mínimo, estranho, mas resulta da desindustrialização que o velho continente entendeu fazer nas últimas décadas.

Tal desindustrialização, levou a que o conhecimento tecnológico europeu migrasse para a Republica Popular da China, onde a mão-de-obra mais barata, o acesso aos recursos minerais e a produção em massa, permitiram o controlo mundial da tecnologia e da produção dos equipamentos necessários à obtenção de energia com base nas fontes limpas e renováveis.

Nesse contexto, as empresas para sobreviverem, e estou apenas a falar daquelas que são sérias, e ao contrário de alguns políticos de extrema-esquerda, acredito que sejam a larga maioria delas, têm, não raras vezes, de tomar medidas drásticas, sendo o último recurso o despedimento coletivo.

No entanto, se as razões que nesses casos invocam são suportadas em questões de reorganização e adaptação ao mercado, do qual retiram as receitas para a respetiva subsistência e crescimento, logo temos a “tropa” do costume a condenar as opções de muitos empresários honestos que, felizmente, também os há.

Há porém, nessa dita “tropa” política, um manual, provavelmente redigido pelo grupo “Estalinista caviar”, que sonha com uma Venezuela na Europa, ou uma Cuba em Portugal, já para não falar de uma Coreia do Norte que é o sonho de todos os adeptos das chamadas democracias populares, por meio do qual se classificam de malfeitores todos aqueles que defendem a iniciativa privada.

(In) Felizmente, como diz o povo na sua sábia ignorância, “pela boca morre o peixe”, ou “faz o que eu digo, mas não o que eu faço”, motivos pelo qual o Bloco de Esquerda (BE) sofre agora do mesmo mal de que os empresários que tanto critica também padecem.

Recentemente, veio a público o alegado despedimento de algumas funcionárias do Partido Bloco de Esquerda que teriam sido mães há pouco tempo, como resultado da redução da subvenção pública atribuída aos Partidos Políticos, o qual é determinado com base nos resultados obtidos nas eleições e, neste caso, as eleições de 2022 e os fracos resultados obtidos foram cruciais.

Depois de escutar as explicações dadas à comunicação social no passado sábado pela Coordenadora, Mariana Mortágua, e que até me pareceram coerentes, o que ficou não foi apenas o alegado despedimento das supostas “mães”.

Na realidade, e em bom rigor, o que ficou foi que esse despedimento fez parte de um lote de cerca de 30 funcionários do Partido, em virtude da redução da respetiva subvenção pública, ou seja, paga por todos nós.

Dessa forma, todos percebemos que também há despedimentos coletivos no Bloco de Esquerda, mesmo que porventura não seja exatamente essa a designação, face à complexidade da legislação dos Partidos Políticos, onde muitas vezes não se percebe onde acaba a militância e começa o estatuto de trabalhador, e as respetivas “comissões de serviço”.

Caricato foi ainda, perceber que os argumentos que tantas e tantas empresas usam para justificar os respetivos despedimentos coletivos, designadamente pela necessidade de reorganização e reestruturação face à perda de receitas, afinal, também serviram para justificar os tais despedimentos no Bloco de Esquerda, fossem elas mães, ou não.

Contexto esse que levou à saída de 4 dirigentes da Comissão Política, batendo com a porta de forma estrondosa, por entenderem que deveria ser constituída uma Comissão de Inquérito para apurar responsabilidades, individuais e coletivas, nos despedimentos.

Seguramente, se há gente que percebe de Comissões de Inquérito é a do Bloco de Esquerda!

Passada a espuma do tempo, parece então, que o nefasto capitalismo, as regras de mercado e a imperiosa necessidade de salvaguardar a continuidade das organizações, são as mesmas razões, com respeito pelas diferenças do mundo político, que suportaram o tal despedimento que aconteceu no Bloco de Esquerda.

Será então caso para dizer: ao Bloco de esquerda ainda falta aprender muito com o velhinho PCP, que nesta coisa de dirigentes, militantes, trabalhadores, gestão de património e despedimentos, tem muito para ensinar.

Essa será, talvez, uma das diferenças entre as muitas existentes entre a “esquerda caviar” e a “esquerda dogmática”.