No passado dia 17 de Novembro várias Organizações providenciaram a evocação do dia internacional para a erradicação da pobreza, talvez um pouco desvirtuado perante a forma como muitas dessas mesmas entidades olham para este problema.
Importa portanto, perceber-se, nos tempos que correm, o que é ser-se pobre.
Será a pobreza apenas uma mera situação de natureza económica, ou será antes algo bem mais abrangente? E serão todos os pobres iguais, ou pelo contrário, nem todos os pobres partilham das mesmas dificuldades nos diferentes hemisférios?
Depois, a eterna questão do combate à pobreza. Deverá a mesma ser combatida tendo por base a prática da caridade ou antes a promoção da solidariedade?
E atenção que aqui entramos numa discussão filosófica e até religiosa, tendo no horizonte perspetivas capturadas pelos próprios modelos políticos de organização das Sociedades.
Enfim, haverá aqui “pano para mangas”, na certeza de que igualmente haverá pobres para todos os gostos e virtudes.
A erradicação da pobreza torna-se, e cada vez mais se irá tornar, num difícil caminho a percorrer, especialmente para os europeus que tardam em resolver o problema da sua sustentabilidade demográfica, e sem esta, não há economia que possa subsistir e contribuir para o fim da pobreza económica.
Mas com essa pobreza económica, grassa a pobreza de espírito e o alheamento do mundo real, estimulada pelas crescentes novas tecnologias que estabelecem um mundo paralelo no qual se desconhece até onde pode a fantasia ser a única realidade conhecida!
Temos depois aqueles a quem a existência de pobres serve ainda um propósito, talvez um pouco perverso, é verdade, mas existente.
E esse propósito é do que sem pobres muitos de nós, quer individualmente e até coletivamente, deixaríamos de ter razão de existir.
A pobreza permite assim, a uns quantos arautos da desgraça vociferar a eterna luta de classes e da exploração, em contraponto àqueles outros que defendem o desenvolvimento económico como única saída para a tal pobreza.
No entanto, não sei bem o quê e a quem, interessa celebrar o Dia internacional da erradicação da pobreza, na medida em que a evocação deste tende a confundir-se com a celebração desse estádio da vida humana que é o ser-se, ou estar-se, pobre.
Nos dias de hoje não tenho dúvidas de que muitas Organizações da Sociedade aproveitam este tema para se banquetearem com a desgraça alheia, seja por serem pregadores do combate à pobreza e pretendentes a terem o exclusivo das soluções, ou seja por através da existência de pobres poderem legitimar o seu discurso do “nós contra os outros”.
Contudo, uma coisa é certa, matar a fome, ou a sede, não será, concerteza, a tarefa mais difícil de realizar, seja por caridade ou seja por solidariedade, difícil isso sim, será combater a pobreza de espirito.
E aqui pouco haverá a fazer, pois tanto é pobre de espirito o desafortunado de bens materiais como o rico em dinheiro.
Erradicar a pobreza implica compaixão pelo outro, mas também firmeza para responsabilizar o outro pelos seus atos e decisões…enfim, conceitos nem sempre compatíveis!
Como disse o Papa Francisco: “os pobres são pessoas, têm rosto, uma história, coração e alma”.