NOTA DA SEMANA: Crise, qual crise?

A forma insistente com que assistimos às constantes subidas dos preços dos combustíveis para viaturas, a par dos aumentos da eletricidade e do gás, poderiam indiciar que estávamos a entrar em crise.

Ideia maximizada com os níveis de inflação e cuja previsão para o ano de 2022 está já nos 4%, isto de acordo com o Banco de Portugal, mas que o mês de Abril já esmagou com uns estonteantes 7,5%, consolidando assim, uma tendência crescente manifestada desde o início do corrente ano (Janeiro 3,3%, Fevereiro 4,2% e Março, 5,3%).

O Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com a previsão de diversos economistas da Universidade Católica, será de 4% para 2022, representando uma retração de 0,3% face às estimativas do Governo e até do Banco de Portugal.

Fazendo uma conta demasiado simplista, apetece dizer que o crescimento do PIB já nem sequer será suficiente para cobrir a Inflação, isto para não falar da depreciação dos salários face à economia real.

O que poderá significar, que o crescimento da economia assente no consumo interno não trará os resultados esperados e necessários para suportar o mercado nacional, isto no médio prazo. Desde logo, pela razão de que os salários não serão suficientes para suportar os custos de aquisição de bens.

Mas verdade seja dita, o País não produz riqueza para suportar uma política expansionista dos salários, infelizmente para mal dos nossos pecados e anseios, mesmo que nos queiram convencer do contrário.
Aliás, o aumento dos salários em Portugal apenas tem contribuído para o aumento das contribuições ao Estado, seja por via da taxa social única para a Segurança Social, seja pelos escalões do IRS.

Já quanto à Divida Pública, depois de em 2020 ter atingido um máximo histórico de 135% do PIB, embora em cenário de pandemia, a estimativa para 2022 é a de atingir 121,6%, desconhecendo-se, contudo, os efeitos da Guerra da Ucrânia.

No entanto, e apesar da perspetiva de uma eventual redução da divida pública, Portugal continuará a ter a 12.ª maior dívida do… Mundo!
E no meio deste cenário, o Estado ainda poderá amealhar uma receita extraordinária resultante do aumento generalizado de preços dos produtos, isto por via dos impostos indiretos como o IVA e o Imposto sobre os combustíveis.

Contudo, esse eventual aumento de receitas será temporário e apenas no curto prazo…
Ah, mas voltando ao princípio, será que vamos entrar mesmo em crise e isto serão sintomas dessa situação?
Infelizmente, não!
Na realidade, nunca chegámos a sair da crise, mesmo quando estávamos perto disso.
E temos sempre uma qualquer desculpa, pois senão é a Pandemia, logo será a Guerra da Ucrânia, e depois desta, outra desculpa surgirá, tudo para continuarmos na clássica ilusão de que não estamos em crise, mas apenas em vias de entrarmos nela.

O Estado continua a ser o “sorvedor” dos dinheiros da Europa, agora em particular com o PRR, as empresas não têm os incentivos necessários ao reforço do capital e à internacionalização, o Setor Social continua a ser mal tratado e visto como subserviente à lógica da estatização da sua existência e o contribuinte será apenas isso, um mero contribuinte.

É caso para dizer: Crise! Qual Crise?

NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)