Contrariando tudo o que tinha sido anunciado, fosse por sondagens, ou fosse pelos resultados obtidos na primeira volta das eleições francesas, a esquerda unida, liderada pelo radical Jean-Luc Mélenchon, do Partido La France Insoumise (França Insubmissa), ganhou as eleições francesas, obtendo mais de 182 deputados, numa Assembleia com 577 lugares.
Por sua vez, o partido do atual Presidente da República Francesa, Emmanuel Macron, neste caso o “Essemble”, evitou o descalabro pré-anunciado e obteve o segundo lugar, com pelo menos 168 lugares na Assembleia, seguindo-se como terceira força politica o Rassemblement National, de Marine Le Pen, e liderado pelo jovem Jordan Bardella, com pouco mais de 143 deputados.
Para que fosse obtida a maioria absoluta teria sido necessário que um dos partidos obtivesse a eleição de 289 deputados, o que não sucedeu, cabendo ainda aos Republicanos, partido de inspiração no General De Gaulle, cerca de 45 eleitos, sendo por isso a quarta força política com representação na Assembleia Nacional Francesa.
Não obstante a vitória da Nova Frente Popular, no qual se incluem partidos moderados, como o Partido Socialista Francês, liderado por Olivier Faure, mas também os radicais como o França Insubmissa de Jean-Luc Mélenchon, a República de Voltaire estará num impasse nos próximos tempos.
Por outro lado, a extrema-direita de Marine Le Pen, mesmo não ganhando a segunda volta das eleições francesas, manteve a sua trajetória ascendente, elegendo mais deputados do que nas eleições de 2022, e obtendo mais votos, o que traduz a existência de potencial para continuar a crescer.
Será pois conveniente, que o livro das memórias da Europa seja rapidamente revisitado, não apenas pelas semelhanças do que sucede atualmente em França, comparativamente com a Alemanha do final da década de trinta do século passado, mas de igual modo pelo que ocorre em Países como a Hungria e a Itália.
A esquerda e a direita ditas de tradicionais, estão a ser engolidas pelo discurso dos extremos, sejam estes da extrema-esquerda ou da extrema-direita, levando a que o voto do eleitorado seja concentrado nos dois polos opostos da política.
Não há espaço para os moderados, e muito menos para ideias capazes de fazer convergir os interesses das maiorias.
A vitória da Nova esquerda em França não radicou num programa de governo claro, e muito menos tem na sua base uma linha de atuação destinada a concretizar um fim capaz de traduzir o bem-estar social da sociedade francesa.
Pelo contrário, a vitória da frente de esquerda, que juntou radicais e moderados, assentou única e exclusivamente na agitação do medo, como arma de campanha contra o risco de governação pela extrema-direita.
Sabendo-se que a França atravessa uma crise económica grave, que se reflete na perda de benefícios para as populações, rapidamente estas reverterão o seu voto se, porventura, pouca ou nenhuma melhoria constatarem nas suas vidas, culpabilizando a solução politica agora decidida.
O medo nunca será, a prazo, o melhor conselheiro do voto, apenas a discussão de ideias e de um projeto político mobilizador das sociedades poderão capitalizar mudanças duradoiras.
Talvez por isso, Marine Le Pen, tivesse anunciado previamente, conjuntamente com o seu candidato, Jordan Bardella, de que só aceitariam governar se tivesse uma maioria absoluta, algo que está longe de se verificar no atual momento.
Mas essa afirmação é lapidar para o futuro dos franceses, e caso as principais forças políticas não percebam a armadilha em que se colocaram, a história voltará a repetir-se, tal como sucedeu há mais de 80 anos na Alemanha.
De derrota em derrota, os extremos vão crescendo até à vitória final, quando todos desejarem uma mudança para algo diferente e não experimentado! Este é o risco que todos corremos.