NOTA DA SEMANA: Do Martim Moniz a França é um saltinho

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Nos últimos dias voltámos a ser brindados com vários episódios de uma violência selvática que tem marcado o quotidiano na República Francesa.

Tendo como ponto de partida a morte de um jovem às mãos da polícia francesa ainda por explicar, rapidamente o País mergulhou numa espiral de desacatos, roubos e ataques a edifícios representativos da soberania e da autoridade do Estado Francês.

No entanto, e se a morte de qualquer pessoa deve ser uma situação a lamentar profundamente, especialmente quando esta ocorre em contexto de difícil justificação e às mãos de representantes da autoridade do Estado, não menos grave foi o que se lhe seguiu.

Contudo, e mais uma vez, o politicamente correto impede uma discussão mais profunda das verdadeiras razões para esse clima de insegurança e de selvajaria que invadiu o País berço da revolução francesa, marco da História da Humanidade.

Em bom rigor, estes episódios de violência têm sido extremados nos últimos anos, e têm ocorrido com uma cada vez maior frequência para as quais as autoridades não conseguem dar resposta, partindo de comunidades imigradas em França, muitas vezes de segunda ou terceira geração.

Simultaneamente, os Partidos como o agora renovado Reagrupamento Nacional, sucedâneo da Frente Nacional e da União Nacional, e atualmente liderado por Jordan Bardella, continuam a ganhar adeptos junto do eleitorado francês.

Na realidade, não se discutem, apresentam e aplicam medidas concretas para a integração de pessoas imigradas, seja a imigração resultante de questões económicas, seja por motivo de perseguição nos seus países de origem.

Portugal é, sempre foi e provavelmente sempre será, um País marcado pela emigração, com a saída de inúmeros nacionais à procura de melhores condições de vida, e nós, melhor do que ninguém, sabemos as dificuldades existentes quando chegamos a outro País, mas sabemos ainda melhor, como ultrapassá-las.

O nosso legado, ao fim de várias gerações de emigrantes, caracteriza-se por uma plena integração nos países de destino, mesmo desconhecendo a língua, os seus usos e costumes e, muitas das vezes, a cultura social das comunidades para onde emigrámos.

É legítimo que se questione a razão do sucesso das nossas comunidades emigradas nesses Países de destino.

Mas no fundo, todos nós sabemos a resposta, especialmente os nossos conterrâneos que passaram e passam pela emigração.

Com efeito, o sucesso da nossa integração nos países para onde gerações de portugueses emigraram prende-se, única e exclusivamente, com a aceitação das regras de quem nos recebeu.

Há quem lhe chame humildade e trabalho, muito trabalho!

Quantos de nós não conhecemos familiares, ou pessoas amigas, que nas décadas de sessenta, setenta, oitenta, e agora mais recentemente, partiram, e partem, das nossas aldeias, vilas e cidades, na ânsia de procurar uma vida melhor, trabalhando de sol a sol, mas conseguindo integrarem-se?

Esses milhares de portugueses que partiram, desconhecendo a língua, o dinheiro, as regras e tantas outras coisas, evitavam problemas, procuravam trabalho, tentavam compreender as comunidades que os acolhiam e foram singrando na vida.

Assim, partimos de um pressuposto errado quando nos deparamos com a questão do debate do fenómeno da imigração, ou seja, o acolhimento de quem vem para o nosso País, privilegiando o respeito da cultura do imigrante, em detrimento do que os nossos emigrantes fizeram quando partiram para outros destinos.

Infelizmente, não temos a coragem para o fazer e, quando nos apercebermos, iremos verificar que em Portugal também ocorrerá o que se passa em França.

A imigração, e o seu aumento para todos os países europeus, será inevitável, não apenas por razões económicas ou demográficas, mas acima de tudo, pela necessidade dos Estados continuarem a existir enquanto tal.
Dito isto, já não estamos na fase de discutir se devemos, ou não, aceitar imigrantes.

Agora, é o momento de aplicar um modelo eficaz de integração dos imigrantes que estamos a receber.

Contudo, o principal pressuposto errado quando se discute a imigração é o de que é a nossa sociedade “autóctone” que tem que se ajustar aos hábitos dos imigrantes, e este é o principal erro na integração dos mesmos.

É Preciso dizer-se aos imigrantes, de forma clara transparente e firme, que têm que aprender português, respeitar os costumes portugueses, respeitar as nossas leis e aceitar que a sua integração depende da aceitação de um modelo de cidadania igualitário, assente na democracia e no respeito.

Depois, é preciso habitação, muita habitação, mas esta não pode dar origem a comunidades de imigrantes isoladas do resto das comunidades nacionais.
Antes pelo contrário, os imigrantes terão que ser integrados, em cada uma das comunidades nacionais, mas em número que possibilite e implique a sua absorção cultural.

É duro dizer isso, talvez, mas só assim conseguiremos uma eficaz integração.

Se assim não for, os extremos irão continuar a ampliar-se e os moderados vão sendo apagados da esfera da decisão politica, e tudo porque não se conseguem tomar medidas efetivas para a promoção de uma adequada integração social dos milhares de imigrantes que vão chegando, não apenas a território francês, mas de igual modo, ao Continente Europeu.

É bom que Portugal comece a aprender com os seus emigrantes para que, rapidamente, consiga integrar os imigrantes que vão chegando ao País, caso contrário teremos um pedaço de França na Praça do Martim Moniz!

NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)