
Na última nota da semana abordei a questão da morte de Alexei Navalny, às mãos de Vladimir Putin e do seu Estado antidemocrático, esquecendo-me que passaram dois anos de guerra no território ucraniano.
Para ser mais preciso, no último dia 24 de Fevereiro atingiram-se dois anos de duração do conflito militar que resultou da invasão da Ucrânia por parte da Federação Russa, sem que esta última tivesse qualquer justificação para o desencadear.
Dois anos de mortes, destruição e crimes de guerra, que tendem a ser normalizados na relação entre os Estados e, pior, no âmago das Sociedades ocidentais.
A Federação Russa, através da atual liderança de Vladimir Putin, procura desgastar e esgotar os recursos da Ucrânia, seguindo uma estratégia de delapidação da capacidade regeneradora e reprodutora de um povo, impedindo no futuro qualquer aspiração a que seja um Estado soberano.
Enquanto isso, os europeus e os seus governos continuam incapazes de assumirem que será inevitável um conflito armado de larga escala com a Federação Russa, se esta não for parada e travada na Ucrânia.
A indústria militar europeia, sofisticada e desenvolvida, responde a altos padrões de qualidade, mas está longe de responder às exigências de quantidade em cenário de guerra.
Mais do que qualidade, há momentos em que é preciso ter-se quantidade, muita quantidade de homens, muita quantidade de munições e, num cenário desejável, muita quantidade com qualidade.
Infelizmente, uma parte significativa dos Países da NATO não gastam sequer os 2% do PIB inscritos nas deliberações dessa organização de defesa comum, e ficamos surpreendidos por Donald Trump criticar essa postura, referindo que os Estado Unidos da América sustentam a paz na Europa.
Desvarios à parte, essa figura americana, que mais parece saída de um livro de banda desenhada, não deixa de ter alguma razão naquilo que diz!
E o exemplo disso tem sido o facto de que, em plena campanha para as eleições do próximo dia 10 de março, não tem sido discutida qualquer ideia sobre o futuro das Forças Armadas em Portugal, qual o seu papel na NATO e na Europa.
Não se ouve uma palavra sobre a premente necessidade de modernização das nossas Forças Armadas, da sua qualificação operacional, ou mesmo sequer sobre a eventual necessidade do regresso do serviço militar obrigatório.
Em bom rigor, tal discussão não interessa a nenhum Partido político português, pois nenhum deles quer ver exposta a sua posição sobre este assunto.
A Esquerda tem pavor à “tropa” e a Direita idolatra-a, mas ambas são incapazes de lidar com ela, seja por preconceito, ou seja por trauma.
Concretizar o contributo de 2% do PIB para a NATO, implicará que haja cortes em Portugal para assegurar esse mesmo contributo, implicará ainda, que a economia portuguesa cresça mais do que atualmente cresce, e implicará de igual modo o repensar de muitas das políticas públicas de apoio social.
No entanto, ninguém ousa colocar este assunto na ordem do dia dos debates políticos.
Ao invés disso, começam-se a ouvir anúncios sobre a possibilidade dos militares virem para a rua, a pretexto do pagamento de um subsídio de missão, e todos acabam a cantar o Hino Nacional, como se isso resolvesse e desse sentido a qualquer manifestação.
A inevitabilidade do confronto está aí, e não discutir a necessidade de reforçar e modernizar as Forças Armadas, seja em homens e seja em material, apenas serve para retardar a preparação do País para o que ai vem, e o que aí vem não será nada de bom.