NOTA DA SEMANA: Eleições Europeias e a vitória dos derrotados

Foto: DCNews

Com uma taxa de abs­tenção de 63,92%, e com menos 2.525.324 votantes dos que foram registados nas legisla­tivas de Março último, isto ape­sar da novidade do voto em mobi­lidade, confesso que não entendo a posição dos inúmeros comen­tadores políticos e os respetivos comentários sobre os resultados das eleições europeias.

De acordo com as afinidades partidárias de cada um desses comentadores e as suas análises, concluímos que todos os candi­datos e Partidos Políticos saíram vencedores no final do escrutí­nio para a escolha dos eurodepu­tados, com a exceção do CHEGA.

Embora a aparente derrota do CHEGA, apenas ocorreu por culpa exclusiva do seu líder que, fosse por co­ragem, ou fosse por pa­tetice, anunciou que o seu objetivo era ganhar as europeias, quando na realidade manteve o seu espaço como terceira força politica e elegeu, pela primeira vez, 2 eu­rodeputados, ao contrá­rio das eleições de 2019, onde, com a coligação BASTA, pouco mais teve do que 1,49% dos votos.

Aliás, durante a noi­te eleitoral, pareceu que o nú­mero de eurodeputados eleitos por cada uma das candidaturas foi apenas um pormenor e nada mais do que isso, e isto porque até os Partidos que não elegeram qualquer membro para o Parla­mento Europeu saíram vencedo­res!

Diz o bom senso que estabe­lecer relações comparativas en­tre dois atos eleitorais distintos, como são as legislativas e as eu­ropeias, pouco ou nada contribui para uma leitura sensata dos re­sultados obtidos neste dia 9 de Junho último.

Em bom rigor, só poderemos comparar o que realmente é comparável e neste caso apenas podemos cruzar as eleições eu­ropeias de 2024 com as eleições europeias de 2019, e o que nos diz essa comparação?

Desde logo, as celebrações pela eleição dos cabeças de lista do Bloco de Esquerda (BE) e da Coligação Democrática Unitária (CDU) pouco mais foram do que a efabulação de derrotas estron­dosas.

Na realidade, apenas o Parti­do Socialista (PS) teve mais votos e eurodeputados eleitos do que as restantes forças partidárias, mas mesmo aqui perdeu 1 euro­deputado face a 2019, passando de 9 para 8 eleitos e desceu de 33,08% para 32,08% de votos ex­pressos.

Já a Aliança Democrática (AD), que juntou PSD, CDS e PPM, ele­geu 7 eurodeputados, e apesar de manter os 6 eleitos do PSD e 1 do CDS de 2019, conseguiu subir de 28,13% (21,94% – PSD e 6,19% – CDS) para 31,11%.

Quanto à CDU e o BE, apesar de tentarem disfarçar a pesada derrota com juras de defesa dos valores da paz e do combate à extrema-direita, perderam não apenas 1 eurodeputado cada, mas acima de tudo perderam eleitores.

Em 2019 o BE teve 325.534 vo­tos e agora obteve pouco mais de metade desse valor, neste caso 168.012, enquanto a CDU passou de 228.157 votos para 162.734.

Ou seja, quer a extrema-es­querda e quer a esquerda “co­munista” perderam mais de metade dos eleitores quando se comparam as eleições euro­peias de 2019 com as de 2024.

No entanto, esta perda de elei­tores do BE e da CDU tem vindo a ocorrer paulatinamente, na medida em que estes dois par­tidos políticos tiveram nas elei­ções europeias de 2019 valores superiores, inclusive, ao último ato eleitoral referente às legisla­tivas, significando que a agenda mediática destas duas forças po­líticas está desfasada da realida­de dos cidadãos.

Assim, os principais derro­tados na noite das eleições eu­ropeias são a CDU e o BE, assim como todos os Partidos Políticos cujo espaço de ação se situa à es­querda do PS.

Do outro lado da mesa estão o CHEGA e o Iniciativa Liberal (IL) que passaram de 1,49% e 0,88%, respetivamente em 2019, para 9,79% e 9,07% em 2024, elegendo 2 eurode­putados cada, sendo que no caso específico do CHEGA, apenas a falta de tato de André Ventu­ra ditou a sua derrota, como já referi.

Contudo, o facto da noite eleitoral em Portu­gal foi, sem dúvida algu­ma, o anúncio do apoio da AD a uma eventual can­didatura do ex-Primeiro­-Ministro, António Costa, ao Conselho Europeu, dando uma ideia de moderação e governação ao centro e retirando, por completo, o “tapete” ao atual líder do PS, Pedro Nuno Santos, nomeadamente na questão do Or­çamento para 2025.

Ao nível da União Europeia destacaram-se os rebuliços na França, com a convocação de eleições antecipadas por Emma­nuel Macron, conjuntamente com o risco de queda da coligação que suporta o governo na Alemanha, Países em cujas mãos poderá es­tar o futuro do projeto europeu, que começa a ser varrido pela onda soberanista das Sociedades nacionais.

(resultados eleitorais retirados da Secretaria do MAI)