Durante os últimos quarenta e sete anos (47) o PSD governou a Região Autónoma da Madeira com maioria absoluta, sendo que no último mandato essa maioria foi assegurada com o contributo do CDS.
No entanto, as recentes eleições regionais, realizadas no último domingo (24 de Setembro), ditaram que o PSD, coligado com o CDS, perdesse 1 deputado, recuando de 24 para 23 parlamentares, dando origem à perda da maioria absoluta da coligação.
Mesmo com uns expressivos 43,13% dos votos e com a conquista de todos os Concelhos madeirenses (11), e 52 das 54 Freguesias, não foi possível que a coligação PSD/CDS renovasse a maioria absoluta, facto que pode transformar uma vitória significativa numa derrota demasiado sonante.
Para essa situação, e esse dilema na classificação dos resultados obtidos no panorama político, foi decisivo o anúncio pré-eleitoral do Presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque, de que não iria governar se não obtivesse uma renovação da maioria absoluta, pois não estava disponível para negociar Decreto a Decreto na Assembleia Regional.
Concluída a contagem dos votos na noite eleitoral, a coligação PSD/CDS vê-se nas mãos com uma vitória nas urnas, mas dependente do apoio de mais um Partido Politico.
Por outro lado, o Partido Chega conseguiu eleger um Grupo Parlamentar com 4 deputados, pressionando a coligação vencedora, cuja única salvação radica na possibilidade de obter o apoio do Partido Iniciativa Liberal que conseguiu eleger 1 deputado, essencial para a obtenção de uma maioria absoluta.
Logo na noite eleitoral, Miguel Albuquerque, antecipando esse cenário, anunciou a disponibilidade para contruir uma maioria parlamentar, excluindo o Chega e abrindo a porta ao Iniciativa Liberal.
Dessa forma, o pré-anuncio de demissão, se não obtivesse uma maioria para governar, foi reajustado ao alargamento da coligação para o único Partido compatível com a atual coligação PSD/CDS, neste caso o Iniciativa Liberal.
Já o PS, afundou-se nas eleições regionais, perdendo 8 deputados, passando de 19 para 11 eleitos para o Parlamento Regional, terminando assim, a bipolarização que marcou as anteriores eleições.
Contudo, as eleições regionais na Madeira serviram para ensaiar uma geringonça à direita, precipitando essa arquitetura para o cenário nacional tendo como perspetiva as próximas eleições legislativas.
No entanto, existe uma diferença entre as eleições regionais e as eleições nacionais e a diferença chama-se CDS.
Se na Região da Madeira o CDS deu sinais de vida nessas eleições, muito à custa do PSD, já a nível nacional esse mesmo Partido desapareceu do debate político ativo, sendo uma grande incógnita o seu papel para contribuir para uma maioria parlamentar de direita.
Assim, os resultados na Região Autónoma transformaram-se numa experiência num tubo de ensaio que poderá ser explosivo, pois ele concentra dessa forma a solução de um eventual Governo de direita no futuro, mas na expetativa de que a Iniciativa Liberal, conjuntamente com o CDS, que terá de renascer forçosamente, sejam suficientes para ajudar o PSD nesse objetivo.
O PS e o Chega passaram assim, a ser os amigos improváveis, estando cada vez mais ligados umbilicalmente na estratégia política dos próximos tempos!
NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)