NOTA DA SEMANA: Evocação do Centenário da Trasladação da Condessa das Canas Para Memória Futura, saudando-se os que marcaram presença

Nascida por volta de 1797, D. Maria Isabel de Melo Freire de Bulhões, casada com D. José Maria de Vasconcelos de Azevedo e Silva Carvajal, primeiro e único Visconde de Canas de Senhorim (1865) e Conde da Quinta das Canas (1870), ficou conhecida por Condessa das Canas, tendo sido uma das mais ilustres figuras de que há registo na história de Arganil, nomeadamente como benemérita desta comunidade.

Falecida em 22 de Agosto de 1879, e já depois do óbito de seu esposo ocorrido em 15 de Maio desse mesmo ano, sem descendência, fez a mesma, e antes da sua morte, valer o “ Auto de Lembrança” redigido pelos seus antepassados em benefício da Santa Casa da Misericórdia de Arganil.

Facto que possibilitou à vetusta Instituição – Misericórdia de Arganil, fundada em 1647 com a aprovação do respetivo Compromisso pelo Rei D. João IV em 6 de Junho desse ano, ser a sua legítima herdeira, vindo à sua posse diversos bens, com destaque para o antigo Solar de Família sito na vila de Arganil, onde veio a ser instituído o Hospital de Beneficência Condessa das Canas, cuja construção teve início em 1881 e terminado em 1886 com a sua inauguração em 29 de Agosto desse mesmo ano.

Sendo uma importante personalidade no acervo histórico da Misericórdia, pertencendo a uma família que esteve presente na vida da Instituição desde a sua génese, foi lançado em 1923 o repto nas páginas d’A Comarca de Arganil, através de artigo de opinião subscrito por José Maria Alves Caetano, sob o pseudónimo de Afonso Simões, para que se lhe fizesse a devida homenagem.

José Maria Alves Caetano, pai daquele que viria a ser o Presidente do Conselho de Ministros – Marcelo Caetano, era natural de Pessegueiro, Concelho da Pampilhosa da Serra, e fez vida profissional nos Serviços Alfandegários em Lisboa, tendo sido um dos impulsionadores do Grémio Regionalista de Arganil, embrião daquilo que viria a ser a Casa da Comarca de Arganil.

Volvido pouco mais do que um ano, em 1924, realizou-se a trasladação dos restos mortais dos Condes das Canas do Cemitério da Conchada em Coimbra para a Capela dos Melo na Igreja Matriz, não sem antes ser realizado cortejo fúnebre, no dia 22 de Agosto, vindo da Igreja da Misericórdia onde tiveram lugar as exéquias solenes, e após terem estado em camara ardente no salão Nobre do Hospital de Beneficência, onde chegaram no dia anterior (21 de Agosto).

A Capela da família “Mello Bulhões” foi mandada construir em 1651 por Pedro Fonseca, capitão-mor da Vila, primeiro Provedor da Instituição e antepassado da Condessa das Canas.

Em 24 de Agosto de 1924, foi inaugurado o desejado monumento em honra da benemérita, contruído por subscrição pública, sendo autor do projeto o escultor João Machado, artista coimbrense, e foi inserido no jardim desenhado por Jacinto de Matos, paisagista portuense.

A escultura que se ergue de frente para o Hospital, e antigo Solar da família “Mello de Bulhões”, inspira-se no ideal da caridade, representando uma mulher que segura uma criança, unindo as mãos e elevando o rosto para a figura da benemérita, num gesto de agradecimento, tudo isso num contexto de calma e serenidade.

Fez precisamente um centenário no dia 24 de Agosto de 2024, desde a data de inauguração dessa construção simbólica mas igualmente bela, sendo, seguramente, o mais delicado monumento erigido em honra de uma figura importante na vida desta comunidade e da região.

Tão importante centenário não poderia passar em branco, e em boa hora a atual Mesa Administrativa, liderada pelo seu Provedor, Prof. António Carvalhais da Costa, anunciou e deu a conhecer o evento na Assembleia Geral da Misericórdia de Arganil de 31 de Março de 2023, tendo nessa mesma data inaugurado o primeiro momento dessa evocação, através de uma exposição permanente de fotografias alusivas à efeméride ocorrida nos dias 22, 23, e 24 de Agosto de 1924.

Tendo sido o centenário preparado com antecedência, foram convidadas diversas entidades, públicas e privadas, contando ainda com a presença de inúmeros cidadãos anónimos que não quiseram deixar de marcar presença, participando nos diversos momentos que constituíram o programa de celebração da translação dos restos mortais dos Condes de Canas.

Nesse particular, e para memória futura, registaram-se as presenças das Misericórdias congéneres de Góis, Montemor-o-Velho, Pampilhosa da Serra, Vila Nova de Poiares e Vila Cova de Alva, com os respetivos estandartes e envergando as tradicionais opas negras.

Juntou-se-lhes a Irmandade do Santíssimo da Paróquia de Arganil, envergando as suas opas vermelhas e brancas, assim como a representante do Agrupamento de Escolas de Arganil, neste caso a Prof.ª Graça Dias.

Todas essas entidades, conjuntamente com a Misericórdia de Arganil, respetivos trabalhadores e população, integraram a reconstituição do então cortejo fúnebre que, na atualidade, foi acompanhado pela magistral atuação dos executantes da Associação Filarmónica Progresso Pátria Nova de Coja, com o respetivo Maestro, Daniel Gonçalves e membros da Direção.

A Missa em honra dos Condes das Canas foi celebrada pelo Reitor de Arganil, Padre Lucas Pio e marcaram presença o Presidente do Secretariado Regional de Coimbra das Misericórdias, Dr. António Sérgio Martins, a Sr.ª Vereadora com o pelouro da Ação Social, Dr.ª Elisabete Oliveira e os Presidentes da União de Freguesias de Vila Cova de Alva e Anseriz, Sr. Paulo Amaral, e Junta de Freguesia de Secarias, Sr. António Souto.

No final da Eucaristia, os trabalhadores da Misericórdia, na companhia dos Órgãos Sociais da Instituição e demais entidades, depositaram uma coroa de flores no túmulo da família “Mello de Bulhões”, seguindo-se o descerramento de uma placa alusiva ao momento, tendo cabido à Sr.ª Vereadora a leitura da mesma.

 Mais tarde, pelas 16h, foi descerrada uma placa biográfica alusiva à Condessa das Canas junto à entrada do hospital da Misericórdia.

 Esse descerramento esteve a cargo da Sr.ª Presidente da Mesa da Assembleia Geral, Eng. Cristina Figueiredo, da Sr.ª Vereadora e do Sr. Presidente do Secretariado Regional de Coimbra das Misericórdias, seguindo-se uma romagem ao monumento erigido em honra da Condessa das Canas, onde foi possível escutar uma sessão intimista de fados a cargo dos guitarristas Tiago Mateus e João Castanheira, com a voz de Francisco Afonso.

No final dessa magistral atuação, foi agraciado o Sr. Eng. Rui Silva, antigo Presidente da Câmara Municipal de Arganil, por parte do Provedor da Misericórdia, pelo apoio dado ao funcionamento da componente de saúde no antigo hospital, e ao seu papel na ampliação do Centro de Saúde e SAP durante os respetivos mandatos à frente do executivo camarário.

A culminar as celebrações desse dia, realizou-se um concerto noturno no Jardim do Hospital e que contou com a competente e profissional apresentação de José Conde, assim como da atuação no piano do Maestro Tiago Mateus, no violino de Carina Ferreira e na voz a melódica Marta Mendes, tudo acompanhado pelas bailarinas: Beatriz, Benedita, Clara, Íris, Inês, Leonor, Maria, Matilde, Valentina e Victória, orientadas pela Prof.ª Tamara Simão da Academia de Ballet Condessa das Canas.

No final as palavras de encerramento couberam aos intervenientes no espetáculo, mas também à Sr.ª Vice-presidente da Câmara Municipal de Arganil, Dr.ª Paula Dinis e ao Sr. Provedor, Prof. António Carvalhais da Costa, saudando-se todos os presentes na homenagem, cujo registo histórico nas páginas deste jornal será, certamente, recordado no próximo centenário.