NOTA DA SEMANA: Feira do Mont’Alto está em agonia e a FICABEIRA agoniada está!

Albert Einstein dizia “insanidade é fazer a mesma coisa várias vezes e esperar resultados diferentes”, citação que, seguramente, podemos replicar para a Feira do Mont’Alto e para a FICABEIRA, eventos que têm sido alvo, de ano para ano, de constantes alterações que pouco, ou nada, lhes têm acrescentado.

Na realidade, ao longo dos últimos 15 anos, estes certames têm sido alvo de experiências laboratoriais cujos resultados no território, atrevo-me a dizer, são nulos.

Ou seja, neste caso, fazer a mesma coisa é alterar constantemente o figurino de realização destes certames, esperando com isso ter resultados diferentes!

A nulidade que tem sido obtida é tal, que os certames como a FACIT, a EXPOH, ou a POIARTES, têm vindo a crescer em todas as suas dimensões, enquanto a Feira do Mont’Alto e a FICABEIRA, pelo contrário, diminuem a olhos vistos, tendo sempre a mesma justificação – é necessário alterar o paradigma e o conceito subjacente a estes certames.

Em 2009, a primeira alteração foi a mudança do local da realização da Feira do Mont’Alto, saindo do Paço Grande para o Subpaço, e foi nessa mudança que começou a deterioração, não apenas da importância deste secular e tradicional evento, mas de igual modo, da imagem que a Feira granjeava por toda a região da Beira Serra.

Por arrasto, a FICABEIRA (Feira Industrial e Comercial da Beira Serra), criada em 1981 sob a designação de FICA, e que em 1989 originou a I FICABEIRA Lusófona, perdeu toda a sua dimensão de exposição aberta ao tecido empresarial, industrial e agrícola do concelho e da Região.

E se nas décadas de oitenta e noventa do século XX, Arganil beneficiava de uma coexistência entre tradição e inovação, materializada na junção da Feira do Mont’Alto com a FICABEIRA, chamando até si toda a região da Beira Serra, assumindo-se como um modelo percursor nos concelhos vizinho, na atualidade estes certames reduziram-se à sonoridade de um mero Festival de fim de Verão!

E essa perda de representatividade no panorama regional resultou de três componentes: mudança de espaço; redução de empresas e falta de atratividade do território; e por fim, mas não menos importante, uma incapacidade para mobilizar a participação de empresários de outros concelhos.

De erro em erro, de inovação em inovação, a Feira do Mont’Alto foi sendo reduzida e anulada, diminuindo a presença de feirantes, de espaços para estes e de condições, enquanto a FICABEIRA foi transformada numa exposição banal, mais dedicada aos concertos de música e aos “comes e bebes”, tudo isto enfiado em duas tendas gigantes no interior do mesmo recinto.

Contudo, e para ajudar à “festa” do descalabro, a Feira do Mont’Alto passou a ser classificada como sendo igual à feira semanal, o que por si já indicia qual a importância que passou a assumir para quem organiza esse evento, neste caso, a Câmara Municipal de Arganil, isto desde a celebração do acordo com a Misericórdia, em 6 de Setembro de 2011.

Por outro lado, a Feira do Mont’Alto deixou de ser uma feira franca, e neste caso, de acesso aberto a todos, pois passou a ter entrada paga.

Assim, mesmo para comer umas farturas durante a noite na Feira do Mont’Alto e no seu limitado terrado, o “povo” teve que pagar bilhete! Um bilhete para a Feira e para a FICABEIRA, na medida em que o aceso era vedado e o recinto fechado.

Paradoxalmente, e talvez inebriados pelo som dos artistas do momento, os responsáveis políticos locais, incluindo os da oposição (se é que existe?), banqueteiam-se com os números extraordinários de pessoas que apareceram para comer as tais farturas e ouvir a música, ao mesmo tempo que são fotografados sorridentes e satisfeitos.

O “povo”, esse vai-se iludindo com os acordes e as batidas musicais, e se, num primeiro momento, fazem os seus lamentos e protestos pela diminuta representação de empresas, feirantes e pagamento do acesso, logo se lhes abafa esse mesmo lamento com a ilusão do miraculoso elixir da juventude, com que se pavoneiam ao lado dos famosos artistas.
Mas caros leitores, se a diminuição da importância da Feira do Mont’Alto e da FICABEIRA no calendário anual de eventos da região é uma realidade indesmentível, já esta ocorre, não por falta de experiências e de mudanças, ou muito menos por falta de recursos públicos e comunitários no concelho, antes sim por falta de estratégia e visão.

Hoje, dá-se mais importância à Noite Branca, talvez mais moderna na cabeça de alguns, do que à ancestral Feira do Mont’Alto e à FICABEIRA, algo que deveria merecer uma profunda reflexão dos arganilenses, sejam os de “gema”, ou sejam os “naturalizados”.

Nunca o concelho de Arganil beneficiou de tantos recursos económicos provenientes dos fundos comunitários e fundos nacionais, bastando verificar as avultadas somas para o investimento público local, e o corrupio de anúncios de obras lançadas e a lançar.

Apoios esses promovidos tanto por Governos do Partido Socialista (PS), como por Governos do Partido Social Democrata (PSD). No entanto, nunca este território teve tão pouco para mostrar na FICABEIRA e na Feira do Mont’Alto!

Esta é a mais triste realidade, uma realidade que se procura escamotear, mas cuja melhor caricatura é termos uma rotunda temática (a rotunda do tira e põe, como alguns lhe chamam) em que tem lugar uma grandiosa colher de pau (diga-se em abono da verdade que ficaria bem melhor na Freguesia da Benfeita) e o artesão mais emblemático desta tradição estava em…Vila Nova de Poiares, na POIARTES.

Caros amigos, uma oposição fraca permite governos fracos, um governo forte necessita sempre de uma oposição forte!

NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)