NOTA DA SEMANA: FEIRA DO MONT’ALTO PORQUE NÃO SE DISCUTE?

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Há quem diga que a comunicação social é o quarto poder, embora eu tenha sérias dúvidas sobre essa ideia, desde logo, porque parte desta é dependente do poder económico e este quer estar sempre de bem com o poder político, ou então, se possível, fazer parte deste.
Agora que estamos próximos das eleições autárquicas, era expetável que surgissem questões sobre diversas matérias, umas mais interessantes outras menos, e a discussão fosse alargada e amplificada a vários temas.
É lógico e legítimo que cada candidato procure centrar-se na sua mensagem e no respetivo programa, na expetativa de que através deles consiga alcançar a vitória no próximo dia 26 de Setembro.
Ora, é aqui que a comunicação social tem o papel e a função de trazer à discussão os temas mais esquecidos, ou mais pertinentes, para que se perceba o posicionamento dos diferentes candidatos.
Contudo, muitas vezes, a comunicação social, inclusive aquela de ocasião, seleciona os temas conforme a capacidade de resposta dos candidatos e não de acordo com a pertinência dos mesmos para as comunidades.
A título de exemplo, e no rescaldo das celebrações do Feriado Municipal de Arganil, pouca importância foi dada à Feira do Mont’Alto, designadamente no que à sua discussão diz respeito.
Ao contrário do que era hábito, nos últimos dois anos, e contra a expetativa de inúmeras pessoas, não se realizou o secular evento, a par da FICABEIRA, por força da Pandemia.
Não estaria eu mais de acordo com os fundamentos da sua não realização, e até reconheço coragem na decisão tomada pelo Presidente de Câmara em funções e candidato.
Contudo, isso não inviabiliza que o modelo de realização da Feira do Mont’Alto e o certame que nas últimas décadas o complementa, ou seja, a FICABEIRA, não seja alvo de discussão e debate.
Já o disse aqui e reafirmo-o, a mudança de local da Feira do Mont’Alto para o Subpaço foi um erro crasso e um “Flop”, que em nada beneficiou o centro da vila de Arganil. Aliás, não sei se o objetivo não era o de “matar”, desvalorizando-o, esse certame tradicional e histórico do concelho arganilense.
Por mais voltas que tenham dado para justificar a mudança do certame, quem tem olhos pode verificar que, ao longo dos últimos anos, a Feira do Mont’Alto e todas as suas componentes, incluindo a restauração e os divertimentos, foi encurralada no espaço menos nobre e dignificante do Subpaço, em detrimento da FICABEIRA.
Contudo, se a expetativa era a de que a FICABEIRA desse o salto qualitativo, beneficiando da aniquilação da Feira do Mont’Alto, sucedeu porém, o contrário.
Só quem não teve olhos, não percebeu que metade dos “stands” de exposição eram de associações, coletividades, Instituições do Setor Social e organismos públicos, e que a presença de empresas se reduzia às do costume, e estas eram cada vez menos.
Até a disposição destas era já costumeira. Bastava entrar no certame e sem planta de localização já sabíamos onde ficavam as empresas habituais, e quando aí não estavam, por norma, já sabíamos que tinham fechado portas, ou então estavam fartas do modelo do evento.
Só quem não teve olhos, não percebeu que, outros tantos “stands”, pelas características e natureza dos produtos que neles eram expostos, deveriam estar no espaço da Feira do Mont’Alto e não na FICABEIRA.
Estes últimos dois anos deverão servir para que o modelo da realização da Feira do Mont’Alto e da FICABEIRA seja profundamente repensado, com o intuito de aproximar a vila a estes dois eventos e não afastá-la.
Depois, há que não esquecer que a vantagem competitiva da FICABEIRA é a sua associação à Feira do Mont’Alto e não o inverso.
Gostava pois, que a comunicação social não deixasse cair no esquecimento o debate deste tema, desde logo, porque se há o desejo de revitalização do comércio local e do casco histórico da vila de Arganil, essa discussão implica retomar a definição do modelo, no qual se inclui o local, da realização da Feira do Mont’Alto.
Estranho ainda, que ao longo destes últimos anos nunca tenhamos percebido, pelo menos de forma pública e notória, qual a posição da atual Junta de Freguesia de Arganil sobre este tema tão importante para a vila de Arganil, como aliás nunca percebemos no passado sobre a questão do Cineteatro Alves Coelho e outros.
Não me recordo, aquando da mudança da Feira do Mont’Alto para o Subpaço, de qual foi a posição da Junta de Freguesia, sendo este um tema tão estruturante para a vida da Vila de Arganil, e desconheço ainda, qual o benefício que os comerciantes, incluindo os da restauração, tiveram com essa mesma mudança.
Tenho a esperança, e a expetativa, de que o próximo presidente de Câmara tenha a coragem e a sabedoria para reabrir este dossier, já que, até agora, ainda ninguém perguntou qual a opinião em relação ao modelo em vigor aos candidatos.
Poderão pensar que estou saudoso de um modelo do passado, mas com o investimento destinado à requalificação dos imóveis no Paço Grande que tem ocorrido, com o investimento nos acessos a esse espaço nobre da vila de Arganil e com a perspetiva de alargamento das vias de circulação no local onde ainda é feita a Feira dos Bois, parte integrante da Feira do Mont’Alto, parecem estar reunidas as condições para o regresso do secular evento a esse espaço.
Por “mais voltas” e argumentos que derem, para mim, e apenas para mim, a deslocalização do secular certame para o Subpaço foi apenas um capricho para menorizar o que de melhor tem a vila de Arganil que é a Feira do Mont’Alto, evento de referência para o Feriado Municipal, valorizando o Subpaço em detrimento do Paço Grande.
Perguntem às pessoas que viveram a Feira do Mont’Alto em todo o seu esplendor e certamente terão noção do real impacto e importância do local da realização da mesma para o seu sucesso, bem como da importância para o comércio local as pessoas poderem circular pelo casco da vila até chegarem ao Paço Grande.
Já agora, para quem diz que a realização da Feira do Mont’Alto no Subpaço têm beneficiado as associações que nela tem espaços de restauração, perguntem pela localização da Casa das Coletividades e perceberão que esta está no Paço Grande e percebam a incongruência!
Modernidade não é destruir o passado, modernidade é aproveitar o passado para projetar o futuro.

Texto: NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)