Num mundo dominado pelo clima de conflito entre diversos Países, e onde o fator cultural tem predominância na forma como estes conflitos ocorrem e se desenrolam, escusado será dizer que a identidade e a cultura dos povos não são aspetos menores no desenlace desses mesmos conflitos.
Razão pela qual, temos um choque de civilizações, algo que o politicamente correto tem evitado abordar nestes termos, mas que a inevitabilidade dos confrontos acaba por nos guiar para essa realidade.
No panorama internacional, o local onde é mais evidente esse choque civilizacional, ou esse choque de culturas, sucede no médio oriente, espaço onde um caldo de diversas irracionalidades vai mantendo acesa a lembrança de que nem todos os povos partilham da mesma visão da convivência territorial e respeito mútuo.
Nesse sentido, parece-me quase irracional, num cenário mundial em que diversos povos se digladiam por razões de diferenças culturais, religiosas e históricas, em Portugal surjam vozes censurando um simples livro, lembrando quase os tempos do “lápis azul”, com a antítese de estarmos num período em que se celebram os cinquenta anos do 25 de Abril.
Um livro, cujo título “Identidade e Família”, parece colocar em causa a agenda da extrema-esquerda, que, desde alguns anos a esta parte, tomou conta de todo o espaço mediático, condicionando a produção legislativa e definindo tudo aquilo que pode, ou não pode, ser aceite pela Sociedade.
Sociedade esta, com cada vez menos capacidade para pensar e muito menos para se exprimir, incapaz de tolerar opiniões diferentes. Ou pelo menos que essas opiniões sejam diferentes do que nos é definido como “politicamente correto” pela tal extrema-esquerda, de acordo com o cardápio de “bons costumes” previamente censurado pela elite intelectual que milita, vigilantemente, nesse espetro político.
Obviamente, o famoso livro, composto por textos de 22 personalidades, rapidamente desapareceu do escaparate das livrarias, esgotando num ápice, ameaçando tornar-se no pretenso novo guia do pensamento daqueles que não se revêm na imposição do tal pensamento único sobre assuntos tão díspares como a Liberdade, o papel do Estado, o papel do Indivíduo, a Família, ou até a identidade de género, embora neste último caso ainda não se perceba o que é isso da identidade de género.
Parece que “o algodão não engana”, e nisto da identidade de género podemos afirmar que também o ADN que cada um de nós de carrega, também não engana.
Por outro lado, no passado, alguém disse que o poder estava na ponta da caneta, e neste caso, o espetáculo montado em redor do lançamento do tal livro veio fazer renascer o poder e o sentido dessa afirmação.
Contudo, o efeito resultante da polémica que envolveu o lançamento desta obra de reflexão foi, simplesmente, a de promover uma bipolarização e simplificação entre os que vêm na Família, seja qual for o modelo, o papel de célula fundamental da organização da vida em Sociedade e os que consideram que cabe ao Estado determinar o modelo de Família aceitável, de acordo com o manual de boas práticas Maoista, Estalinista e outros que tais.
Curiosamente, os grandes detratores da obra “Identidade e Família” são, imagine-se, muitos daqueles que ainda não leram o tal livro!
Será caso para questionar, como se pode criticar um livro que ainda não foi lido?
Não tenho quaisquer dúvidas de que se não tivesse existido, porventura, uma enorme exposição mediática das figuras públicas que apresentaram a referida obra literária, muitos de nós facilmente se reconheceriam em vários dos textos que a compõem, incluindo alguns dos seus detratores.
No entanto, ainda bem que existiu esse clamor condenatório do livro em questão, pois só dessa forma foi possível reconhecer uma guerra silenciosa no País, entre os que dizem defender o 25 de Abril, mas que logo de seguida tentam silenciar e calar quem pensa de forma diferente, contra os que se sentem aprisionados por uma minoria ruidosa e estridente que tenta impor o tal pensamento único.
Aconselho pois, os amigos leitores a ler o dito livro e tentem perceber, de forma objetiva, onde se encontram encrustados os pensamentos retrógrados, os ataques à democracia, ou mesmo a apologia de uma qualquer sociedade patriarcal como modelo de família.
Estou certo, que muitos de vós rapidamente se identificarão com várias das reflexões que constituem o livro, cujo único fim defendido pelos falsos moralistas e zelosos guardiões da República, será o de ser queimado em praça pública ao som das marchas militares norte-coreanas, ou das melodias bizarras do falecido ditador Venezuelano Hugo Chávez.
Felizmente, a “maioria silenciosa”, de tempos a tempos, vai, amiúde, falando silenciosamente!