
Morreu o Dr. Barreto Leite, como era conhecido, e com a sua partida mais um pouco se perdeu das nossas vivências, que se vão tornando cada vez mais tristes e nostálgicas.
Na edição anterior deste jornal, A COMARCA DE ARGANIL teve a possibilidade de dar o devido destaque a esta figura marcante do concelho e da região, que em 2002 recebeu a condecoração e reconhecimento por parte do município arganilense, das mãos do então Presidente Rui Silva.
E fez bem o atual, Luís Paulo Costa, ao marcar presença no funeral do ilustre clínico que nos deixou, assim como os seus antecessores, Ricardo Pereira Alves e o já referido Rui Silva, ou mesmo o presidente da edilidade Goiense, António Sampaio, e tantas outras figuras locais e regionais que não deu para contabilizar ou enumerar, mas cuja presença foi sem dúvida um gesto de agradecimento.
Seguramente, a moldura humana presente, que extravasava as fronteiras destas serranias, apenas ocorreu à cerimónia de despedida desta figura ímpar por motivo de verdadeiro reconhecimento do seu trabalho e empenho em prol de tantos que o procuravam, especialmente os mais novos.
E quem não se recorda das inúmeras ilustrações que decoravam o seu conhecido consultório ali na Rua Oliveira Matos, uma das mais antigas e tradicionais da vila arganilense, e que serviam quase de papel-parede.
Cada uma dessas pinturas eram um misto de agradecimento e de inocência, feitas pelas mãos das crianças que tão carinhosamente tratou e das quais, na maioria das vezes, apenas recebia o sorriso das mesmas e o agradecimento dos pais.
Tantas eram as pessoas que se dirigiram ao seu consultório, onde aguardavam pela voz sábia e ternurenta do médico que, apesar da idade, se mantinha atualizado através da leitura de inúmeros artigos científicos do campo da medicina.
Mas também havia aqueles, em voz baixinha, que afirmavam que o conhecimento não era apenas fruto da experiência ou da busca da informação, mas também contava com a ajuda de um sexto sentido!
Essa estranha sensibilidade à deteção da doença e à elaboração do diagnóstico não deixava ninguém indiferente, e foi-se espalhando por toda a região o “dom” do médico que, sendo natural de Sosa – concelho de Vagos, serviu vários anos em Góis, depois no Hospital Condessa das Canas da Misericórdia de Arganil e no respetivo Centro de Saúde.
Fosse um “dom”, conhecimento, ou simplesmente experiência, o Dr. Barreto Leite representava uma geração de médicos que muito fizeram por estas gentes, sem horário, sem descanso e cujo principal interesse era a saúde do seu paciente, mantendo-se a trabalhar até que o corpo permitiu.
O Dr. Barreto Leite era uma verdadeira escola de medicina e um farol no casco histórico da vila de Arganil, e que desde o seu falecimento ficou órfã.
E aí está a Rua Oliveira Matos, triste, sem alento e que nos leva a questionar sobre o que será desta sem a sua maior referência?
O Dr. Barreto Leite, à semelhança de João Castanheira deste jornal, merece um memorial junto ao seu consultório, a vila deve-lhe isso, os comerciantes devem-lhe isso e os pacientes exigem isso.