NOTA DA SEMANA: Museu da Imprensa Regional, uma ideia não esquecida

No final de Dezembro de 2010 o título A Comarca de Arganil regressou às bancas, depois de um interregno ditado pela insolvência da empresa proprietária do centenário periódico.

Meses antes do relançamento do jornal, poucos eram aqueles que acreditavam no seu ressurgimento, o qual esteve para ser arrebatado por “meia dúzia de cascas de amendoins”, ou não fosse o rasgo de lucidez do Prof. José Dias Coimbra que conseguiu, em tempo recorde, angariar os apoios necessários à compra, não apenas do jornal, mas de igual modo, de parte significativa do espólio do mesmo.

Não tenho dúvidas nenhumas de qual seria o destino a dar ao jornal A Comarca de Arganil, isto se porventura caísse nas mãos das “cascas de amendoins”, ou de outros que pretendiam apenas, a pretexto do espólio, manter o jornal quieto e sossegado, de preferência sem publicação.

E essa foi uma das angústias do Prof. Coimbra, que o levou a ter a audácia e a astúcia, conjuntamente com vários amigos, para recuperar este jornal e todo o que ele representava e atualmente representa para as comunidades da Beira Serra.

Mas A Comarca de Arganil, não apenas ressurgiu e consolidou a sua posição em toda esta região, noticiando, dando espaço e voz a nove concelhos, como ainda manteve a sua matriz identitária, e isto porque teve na sua base parte dos quadros e colaboradores que fizeram, e fazem, parte da história deste centenário jornal.

Pessoas como o “Zé Carlos”, o “Moreira”, o “Fernando Covas” e o muito estimado “Lopes Machado”, tiveram o dom e a nobreza de aconselharem o atual Diretor que fez uma “formação” de dez anos, antes de assumir o cargo que atualmente desempenha.

Também outros houve que, graciosamente, foram ensinando sobre o que era e significava a família d’A Comarca, bem como o que ela representava para as gentes trabalhadoras desta Beira Serra.

Curiosamente, alguns outros, que vieram para casa emprestada, tinham a ambição de serem Diretores da renascida Comarca, sem nela terem sido criados, tentando vestir uma camisola que lhes ficava um pouco apertada e que o tempo tratou de descoser.

A carta de família, a verdadeira entenda-se, não podia ficar pelo caminho e por isso A Comarca de Arganil regressou, não podendo deixar de homenagear todos os que nela serviram com abnegação e por isso, farão sempre parte da sua já longa história.

Ao contrário de uns poucos que, às “cavalitas” do nome deste jornal, foram tentando um protagonismo descabido e apenas para satisfazer vaidades pessoais e familiares.

No entanto, e logo quando este jornal voltou para as bancas e regressou a casa dos assinantes, surgiu uma nova preocupação e um novo anseio – a criação do Museu da Imprensa Regional, tendo como ponto de partida o espólio adquirido no processo de insolvência da Comarca.

Nesse momento, o repto foi lançado ao Dr. João Alves das Neves para que assumisse o cargo de diretor desse Museu, que logo, entendendo o alcance da ideia e da importância da iniciativa para a região, aceitou o desafio em almoço agendado para esse efeito.

De imediato se pensou no local para melhor acolher esse projeto, tendo a opção recaído no edifício da antiga escola do Paço Grande, associando-se ao projeto cultural – Academia Condessa das Canas.

Conseguiu-se o projeto de arquitetura, programou-se a obra e orçamentaram-se os trabalhos, mas estes ultrapassavam, à época, os trezentos mil euros, valor excessivo para um jornal que tinha outras prioridades no dia-a-dia, como pagar ordenados, a impressão e os gastos de envio, pelo que, qualquer erro de cálculo deitaria por terra todo o esforço realizado.

Esse Museu, para além de incorporar a coleção em suporte papel d’A Comarca, teria ainda um espaço dedicado à exposição de toda a maquinaria que permitia, não apenas a composição, mas também a impressão do jornal, recordando o papel e importância dos tipógrafos.

Esse Museu seria ainda enriquecido com o arquivo fotográfico do jornal, arquivo este que os ratos, aproveitando um ou outro buraco na parede do armazém que acolhe este espólio, tendem a mordiscar de tão saboroso que aparenta ser.

Por aqui já podem os amigos leitores verificar que o desejado Museu teve que fazer um compasso de espera, mantendo-se no campo e no tempo do seria, para que, daqui a alguns anos, possa vir a ser uma realidade.

Por isso é bom que, de quando em quando, uns poucos que tiveram conhecimento desta ideia do Museu da Imprensa Regional, e são conhecedores de parte do espólio que irá constituir o dito, alvitrem ideias semelhantes.

É sinal que a ideia então lançada pelo Prof. Coimbra, não foi apenas providencial na preservação da memória coletiva, mas é antes de tudo importante para a promoção desta Região no futuro, e estou certo que os Municípios que integram o espaço de intervenção da atual Comarca estão atentos a este potencial que representará o futuro Museu da Imprensa Regional.