NOTA DA SEMANA: Natal em Lisboa com o Menino Jesus e a Senhora do Mont’Alto

O tempo corre tão depressa que nem damos por isso, parece pois, que foi ainda ontem que 2024 começou, no entanto decorreram, praticamente, os doze meses deste ano que de novo passou a velho e se prepara para nos deixar.

Contudo, ainda antes de abrirmos a porta a 2025, teremos o Natal, quadra dedicada à família e, cada vez mais, à saudade e à nostalgia.

Digam o que nos disserem é por estas alturas que sentimos a falta dos que nos são mais queridos, e que, por infelicidade do destino, ou simplesmente por imposição da distância, não podem estar junto de nós.

Resignemo-nos então ao facto de sermos Humanos, dominados por imperativos de emoções e sentimentos, desencadeados por instintos que nos acompanham desde que colocámos pés neste planeta, e esta é a nossa grande diferença perante os desafios da Inteligência Artificial (IA), agora tão em voga no leque de temas que nos levam ao desassossego para o presente milénio.

Que seria de nós sem as emoções que nos guiaram até aos dias de hoje?

Seguramente não teríamos feito tantas asneiras se delas não dependêssemos, mas não haja dúvidas que sem elas não saberíamos o que é o pulsar da vida, única razão desta existência terrena para cada um de nós, sejam os que nos antecederam, os que nos acompanham ou os que ainda virão.

E é neste contexto de emoções que não posso deixar de trazer à liça um momento carregado de elevado simbolismo, especialmente nesta quadra natalícia tingida pelos sentimentos e afetos.

Falo da recente viagem do Menino Jesus da Ladeira e da Senhora do Mont’Alto a Lisboa, volvidos sessenta e dois anos (62) da última vez que esta última visitou a capital do nosso Portugal.

Os tempos hoje são outros, mas o sentimento está lá enraizado no íntimo de cada um que no passado deixou o seu “torrão” em busca de uma vida melhor, passando muitas vezes enormes dificuldades apenas para darem algo mais aos seus filhos e netos.

Com tanto sacrifício realizado, no final de um dia árduo de trabalho, aos “cabeçudos beirões” pouco mais restaria do que aquela fé inabalável e um acreditar profundo nos valores ancestrais dos seus antepassados que tanto rezaram à Nossa Senhora do Mont’Alto.

Contudo, perdoem-me aqueles que no passado muito fizeram para que a prestimosa Santa visitasse pela primeira vez Lisboa, pois neste ano de 2024 da “graça do Senhor”, foi o Menino Jesus quem melhor acompanhou essa fé.

Devotos ou não, assistir à procissão do Menino Jesus, com a companhia da Senhora do Mont’Alto, tocou, certamente, todos aqueles que com as imagens e relíquias religiosas se cruzaram, no âmago de uma cidade preparada para receber o Natal e cheia de luzes.

E o espírito natalício, mais do que dependente da figura comercial do “Pai Natal”, radica na inocência e no nascimento do Menino Jesus, símbolo maior do amor de Deus pelos Homens.

Por outro lado, nada se poderá comparar ao amor de uma mãe e de um pai pelos seus filhos, razão pela qual o Natal não é, nem nunca foi, do “Pai Natal”, mas antes e apenas do inocente que nasceu “nazareno”, no meio da pobreza e da simplicidade mas rodeado de um amor infinito.

É por isso, e foi por isso, que a Senhora do Mont’Alto não poderia ter tido melhor companhia na sua deslocação a Lisboa do que o Menino Jesus da Ladeira, especialmente nas vésperas do Natal, razão pela qual para futuro ficará esse momento em que ambas as figuras religiosas passaram em frente à sede da Casa da Comarca de Arganil.

Será esse pequeno grande pormenor, como aliás são sempre os pequenos grandes pormenores, que permitirá fazer perdurar na memória o que é realmente importante.

Ao Reitor de Arganil, Padre Lucas Pio, uma palavra de agradecimento pela generosidade do empenho e perspicácia mental para criar um momento único na vida das comunidades de Arganil, Góis, Pampilhosa da Serra e Tábua, antecipando-lhes uma parte do Natal.

Será caso para dizer que foi preciso vir alguém do outro lado do Atlântico para fazer prova de que não temos de nos envergonhar da nossa Fé, e que foi esta que fez parar as vias mais movimentadas da maior cidade do nosso querido Portugal!

Caro Reitor, só erra quem faz, por isso erre, porque quem nunca erra nunca, ou pouco, fez!

Um agradecimento ainda, a todos os religiosos que se associaram, designadamente o Cardeal Patriarca de Lisboa, às várias Associações, Grupos Folclóricos e Casas Regionais, mas acima de tudo à vasta equipa e Órgãos Sociais da Casa da Comarca de Arganil, na pessoa do seu Presidente, Carlos Manuel, que possibilitaram o reviver da fé inabalável de todos os que, com sofrimento, deixaram estas serranias para lutar por um futuro melhor.

Aos Bombeiros Voluntários de Arganil que, na senda de mais um aniversário da sua existência, com a sua presença e participação valorizaram o seu papel na comunidade e granjearam ainda maior reconhecimento.

Aos autarcas, nomeadamente aos Presidentes das Juntas de Freguesia de Santo António e Marvila que se associaram a esta iniciativa, a par com as fantásticas Filarmónicas de Arganil e de Avô que, em momentos distintos, deram brilho e dignidade ao desfile e procissão pelas ruas e avenidas de Lisboa.

À Câmara Municipal de Arganil que, realizando a sua obrigação no apoio a este evento, ao assumir presença reconheceu a forte ligação e importância da comunidade de Arganil, e das Comissões de Melhoramentos, no desenvolvimento destas terras e aldeias muitas vezes esquecidas.

À Câmara Municipal de Lisboa que facilitou, seguramente, diversos momentos deste evento e que, dessa forma, ajudou a reconhecer o tanto que estas gentes deram, e continuam a dar, a essa cidade.

Por Fim, para os meus queridos leitores, mesmo não estando fisicamente convosco, desejo-vos, com a maior humildade, um Santo e Feliz Natal, junto daqueles que mais vos são importantes e com a saúde necessária para partilharem essa felicidade.

Que o Menino Jesus vos acompanhe, com a gentileza e inocência que representa e vos faça recordar os filhos e netos, pelo qual vocês tudo deram e sacrificaram!