Já não há pessoas sérias em Portugal, este parece ser o mote para o corrupio de notícias que envolve toda a casta política Portuguesa, tal a dimensão do número de casos que, inexoravelmente, deixaram de atingir apenas membros do Governo para passar a envolver elementos do maior Partido da oposição.
No entanto, pelo menos para já, parece subsistir, estranhamente, um certo nicho partidário imune a tais noticias, e digo para já, pois não me parece que nesse “microcosmo” sejam todos mais sérios do que a “entourage” dos maiores partidos Portugueses, entenda-se o Partido Socialista (PS) e o Partido Social Democrata (PSD).
Para os meus amigos leitores poderá ser estranho o que irei de seguida dizer, mas tenho a incómoda sensação de que os principais órgãos de Comunicação Social deste País, lutam já entre si para descobrir o caso seguinte que colocará de joelhos o Governo ou a oposição.
Digo incómoda sensação, na medida em que não vi a mesma vontade e o mesmo empenho noticioso de descoberta da verdade quando, algum tempo atrás, foi aprovado um extraordinário pacote de publicidade e outros apoios do Estado ao Setor da Comunicação Social.
Nessa altura, quando o Estado apoiou com 15 milhões de euros esse setor, os grupos que controlam o universo SIC, o universo TVI e o universo ligado ao Correio da Manhã, receberam 79,2% do total dos apoios então concedidos.
Estranhamente, todos se recordam que as notícias dominantes eram relacionadas com a Pandemia e parecia que nada mais acontecia no País, na Europa e no Mundo.
No entanto, muita coisa aconteceu e muitas das coisas que hoje assistimos na comunicação social tinham a sua génese no período da pandemia, como é agora o caso da derrapagem das obras do Hospital de Belém!
Obras estas realizadas para responder aos problemas da Pandemia, nomeadamente para acolher doentes com COVID-19.
Dá-me a sensação, que esta cruzada de notícias relativas a casos de má gestão da coisa pública, ultrapassaram já a mera vontade de informar, estando agora no patamar da demonstração da força e do poder por parte da comunicação social, tendo em vista vergar uma maioria política.
Contudo, esse mesmo poder esteve, até algum tempo atrás, adormecido e anestesiado para a realidade do País e do seu desgoverno.
Pelo caminho, dá-se a mesma receita ao maior partido da oposição para que este não tenha a leviandade de esquecer os grandes grupos que controlam a comunicação social em Portugal, bem como assim as suas necessidades.
A liberdade de imprensa, e a liberdade para informar, são, sem dúvida alguma, essenciais numa Sociedade dita de democrática.
No entanto, tal não significa que, à boleia desta, tudo seja possível de noticiar, especialmente quando o escrutínio ainda não está feito pelas entidades competentes, entenda-se, a Justiça.
Hoje, ai de quem tiver estado junto de Costa, Medina ou Montenegro. Tenha sido num encontro ou numa reunião, pois logo cairá no radar de uma qualquer fonte noticiosa, e daí à especulação não tardará muito.
Preocupa-me contudo, que as grandes questões existenciais para o nosso País não obtenham resposta, ao contrário dos casos polémicos que têm uma resposta avassaladora por parte da nossa Comunicação Social.
Por que não se insiste com os governantes para que sejam dadas explicações claras para o facto de o País estar na cauda da Europa?
Por que não se questionam os governantes deste País para o facto de a nossa economia não crescer a um ritmo que permita colocar o País na rota da convergência europeia?
Por que não se discutem, e implementam, alternativas energéticas para promover a redução, de forma clara e concreta, da dependência energética do País?
Por que motivo somos o País com uma das maiores cargas fiscais da europa, através de impostos diretos e indiretos, e o Estado absorve a maior fatia da riqueza para apenas continuar a crescer e a alimentar-se a si próprio?
Por que razão cresceu mais o salário mínimo nacional nos últimos anos, em detrimento do salário médio nacional?
Enfim, são tantas as questões importantes e essenciais ao nosso desenvolvimento que estes casos, envolvendo governantes e outros políticos, não terão nenhuma consequência para a decisão do essencial.
Somos um Povo que vive submerso na dependência, no facilitismo e na incapacidade para decidir com uma distância de décadas, e por isso continuaremos a nossa triste sina de mãos estendidas a uma Europa que nos olha, cada vez mais, com desprezo.
O nosso Portugal só voltará a ser viável quando tiver a coragem de tomar em mãos os seus destinos, gizando um plano para várias gerações em redor de um desígnio maior, o de pensar e fazer para lá do horizonte.
É urgente uma nova época dos descobrimentos para os Portugueses, mas esta já não será sair com as caravelas por esses mares fora, será antes descobrir o País que temos para, depois, crescermos como uma Nação justa, corajosa e irreverente nos desafios.
Até lá, vamos fazendo tiro ao alvo e o alvo são agora os políticos que, em última análise, fomos nós que os escolhemos.
NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL9