Se não estou em erro, desde Março do corrente ano, que a Comissão Técnica Independente, criada para analisar a futura localização do novo aeroporto de Lisboa, lançou uma plataforma participativa, a que deu o nome de Aeroparticipa, e destinada à discussão pública sobre a já famigerada estrutura.
Famigerada porque, desde 1969, ano da criação do então Gabinete do Novo Aeroporto de Lisboa (GNAL), já passaram 54 anos, isto se não quisermos recuar um pouco mais no tempo.
Com efeito, em 1971, o anúncio de Rio Frio, localizado na margem sul de Lisboa, como destino do novo aeroporto, parecia ter concluído o processo, o qual ainda estava longe de entrar para o registo anedótico do País, a par da barragem do Alqueva, mas esta por sinal já está contruída.
Entre 1969 e 1971 era titular da pasta das obras Públicas, como em crónicas anteriores referi, o eng. Rui Alves da Silva Sanches, ilustre figura com ligações à nossa região, estando também este longe de imaginar (se porventura ainda fosse vivo) que, volvidos estes anos todos, ainda se estaria a discutir a localização do novo aeroporto.
Para gáudio daqueles que gostam de opinar sobre tudo, mesmo desconhecendo o assunto em causa, lembrou-se agora, a coberto da transparência, a dita Comissão Técnica Independente, de abrir azo à participação cívica de todos, sabendo-se que já estão em cima da mesa, 9 localizações para o novo aeroporto.
Seja complementar, ou não, à Portela, é fácil verificar que, no mapa da dita Comissão, já está inscrita a possibilidade dessa infraestrutura nacional poder vir a estar localizada no distrito de Leiria, o que significa que daí até ao distrito de Coimbra é um “pulinho”.
Assim, a Base Militar de Monte Real, local onde está localizada uma esquadrilha de F-16 em regime de prontidão ao serviço da NATO, passa a ser uma hipótese complementar ao atual aeroporto da Portela, mas é preciso recordar que existe um estudo que também aponta o concelho de Soure, distrito de Coimbra, como tendo potencial para essa função.
Recordo que, aquando da escolha de Rio Frio, a distância, à data, entre o aeroporto da Portela e essa localização era de apenas 40 km.
Neste momento existem possíveis localizações, como Beja e Monte Real, que já marcam distâncias superiores a 150 Km, alimentadas pela existência de estruturas de aviação, ou suportadas em possíveis investimentos nas acessibilidades, como o comboio de alta velocidade.
Pouco a pouco, e subindo no mapa da dita plataforma, não me suscita qualquer consternação que se crie um qualquer fluxo de participantes na dita discussão pública, e que possa começar a sugerir uma nova localização do agrado de vários concelhos do interior do País.
E porque não em Coja?
Sei que esta pergunta não deixará de ser provocatória, embora entenda que a reativação daquele espaço não deixaria de ser uma mais-valia para o combate a incêndios na nossa região, assegurados que fossem os investimentos necessários ao bom funcionamento da estrutura em causa.
No entanto, o que é mais caricato nisto tudo, é a displicência com que, seguindo o princípio da participação e a ideia da transparência (apenas interessam quando dá jeito), se permita o arrastar dos problemas sobre a localização primeiro, e a construção em segundo, de importantes infraestruturas nacionais.
E neste caso em particular, há mais de meio século; sim leram bem, já passou mais de meio século, em que andamos a discutir o novo aeroporto de Lisboa, saltitando de localização em localização, ao sabor das aves, das dunas, dos rios, dos Presidentes de Câmara, dos donos dos terrenos, dos investidores, do tamanho dos aviões, das vias de acesso, dos Governos, mas nunca com respeito e em obediência ao interesse nacional.
No final disto tudo, e como está o dossier da TAP, podemos questionar da real necessidade de um novo aeroporto, se, porventura, nem companhia área de bandeira conseguirmos manter ou salvar!
Depois de mais de meio século, já estava o novo (velho) aeroporto construído, pago, requalificado, remodelado e até vendido a investidores estrangeiros, e quiçá estaríamos a falar de um terceiro novo aeroporto.
Contudo, o famigerado aeroporto ainda não está construído por duas ordens de razão: primeiro por ignorância, e depois por falta de dinheiro.
Por isso, venha de lá o aeródromo de Coja, pois sempre vai dando para apagar uns fogos aqui pela região e será, seguramente, mais barato.
NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)