NOTA DA SEMANA: O adeus a “François”, e ao seu sorriso

Francisco Fernandes da Costa, médico, conhecido entre os amigos por “François”, integrou oficialmente o serviço do Centro de Saúde de Arganil, no então edifício do Hospital de Beneficência Condessa das Canas, no dia 1 de Fevereiro de 1981.

Fez parte do quadro dessa estrutura de saúde durante mais de vinte anos, tendo assistido a vários momentos da vida desse equipamento, assim como ao desenlace de tantos destinos daqueles que por lá passaram, fossem como pacientes ou fossem como trabalhadores.

 É do seu tempo a assinatura, em 1982, do contrato entre o Estado, por meio das suas estruturas intermédias, e a Misericórdia, através do qual foi oficializada a utilização de espaços por parte da rede de cuidados de saúde primários, mas também reposta a justiça, sanando assim a ferida que resultou da retirada à Santa Casa da gestão do então hospital concelhio, isto após 1974.

Foi durante o seu período de trabalho, ainda em 1998, que é celebrado o acordo tripartido responsabilizando a Administração Regional de Saúde do Centro (ARSC), a Câmara Municipal de Arganil e a Misericórdia, sobre as condições de cedência de espaço por esta última, tendo em vista a ampliação do Centro de Saúde, cuja inauguração ocorreu em 2005.

Acontecimento que culminou, em 2002, na celebração de uma escritura de constituição de direito de superfície, por 50 anos, que se encontra em vigor e que vigorará por mais 27 anos, se todos cumprirem as suas obrigações.

“François” assistiu a tudo isso, e nos entretantos foi (re) organizando a sua vida familiar.

Mais tarde, a partir de 2004 e após a sua passagem à reforma, começou a colaborar com a Misericórdia, dedicando-se às suas diversas respostas sociais, acabando por assumir o lugar de diretor clinico, no qual se incluiu, a partir de 2006, a Unidade de Cuidados Continuados – Dr. Fernando Valle.

Para além disso, espalhou a sua colaboração com diversas entidades locais, nomeadamente Instituições de Solidariedade Social.

Apaixonou-se por Arganil, pelas suas pessoas e nunca perdeu o sotaque do Português do Brasil, tratando com gentileza, e acima de tudo, com a boa disposição que só os portugueses do Brasil conseguem ter, as angústias do quotidiano.

Quem lidou com “François” não esquece dele o sorriso, por vezes gentil, por vezes irónico, por vezes matreiro, mas sempre sincero.

Os seus pacientes guardam dele uma imagem de pessoa bem disposta, cujo melhor medicamento receitado era a brincadeira que mitigava a enfermidade e as maleitas de que padeciam os seus doentes.

Uma colher de xarope de bom humor, aliviava parte da dor, um sorriso permitia humanizar a relação entre médico e paciente.

Afinal, a esperança também cura, e por vezes é preciso curar primeiro a alma e só depois o corpo, era assim “François”.

A sua partida foi abrupta, especialmente para um Homem que gostava da vida e que gostava de viver essa mesma vida, com a boa disposição de uma mesa rodeada de amigos.

Lembro-me dele no seu mini vermelho, talvez fosse uma preparação para o seu carro de sonho e com o qual todos brincávamos, e depois passou ele a brincar quando, finalmente, nos apresentou o seu “bólide”.

“François” era o bom amigo, o nosso amigo mais divertido e mais companheiro, mas quis o destino que ficássemos sem o seu sorriso, sem a sua companhia ao almoço comendo o seu arroz com tudo!

Para a sempre cuidadora Rosa, para os filhos Fábio e Bruno, e para todos aqueles que sentem a falta do “François”, a melhor homenagem que lhe podemos fazer é, e será, não esquecer a sua alegria e a sua vontade em viver, recordando os passeios com o seu “Ruca”.