No próximo dia 25 de Abril de 2024 decorrerão, exatamente, cinquenta anos da “Revolução dos Cravos”, momento que marca a chegada da Democracia ao nosso País, e que tantas expetativas originou em muitas gerações de portugueses.
E se a conquista maior dessa “Revolução” foi a Liberdade, tenho para mim que ao fim deste meio século de Democracia, uma parte dos nossos concidadãos não lhe dão o devido mérito e importância.
Os motivos para tal radicam em coisas tão simples como pensar-se, e sentir-se, de que de nada nos vale a Liberdade se não dispusermos de segurança para usufruir desta, ou para que nos servirá a Liberdade se não tivermos os cuidados de saúde de que necessitamos, ou mesmo a estabilidade económica que nos possa permitir bons níveis de vida e de lazer.
Em bom rigor, instalou-se na nossa Sociedade a ideia de que ao fim de cinquenta anos de Democracia, e apesar da inegável melhoria do nível de vida dos portugueses, passámos a ser um País adiado.
Um País em que as gerações mais novas não valorizam a Liberdade, e muito menos a estimam, considerando-a um direito adquirido, e por isso sentem-se na obrigação de abusar dela, desvirtuando o verdadeiro sentido da palavra.
Uma geração que se apregoa, e é apresentada, como sendo a mais bem preparada, mas que está cada vez mais analfabeta, pois tem cada vez maiores dificuldades em perceber a língua materna, o Português, ou mesmo a importância da História na perceção do passado, na compreensão do presente e na projeção do futuro.
Mas não são apenas as gerações mais novas que não entendem o significado da Liberdade, também as gerações mais velhas já se esqueceram de ensinar a importância da preservação da Liberdade, depois de conquistada.
Estas gerações mais velhas dividiram-se entre aqueles que se tornaram donos dos ideais da Liberdade, quase a transformando numa nova ditadura, e aqueles que transformaram a Liberdade numa feira de interesses e negociatas mais ou menos obscuras.
Volvidos cinquenta anos do 25 de Abril de 1974, e no ano em que se celebra meio século de Liberdade, assistimos à queda do Governo da Região Autónoma dos Açores, com eleições a 4 de Fevereiro, assistimos à queda de um Governo da República com maioria absoluta e com eleições marcadas para 10 de Março, e perspetiva-se a dissolução do Parlamento da Região Autónoma da Madeira, daqui a dois meses.
Em todos eles há um traço comum, o uso irresponsável do valor da Liberdade por parte dos políticos aos quais foi entregue o mandato do Povo.
Para alguns, tais acontecimentos são o exemplo da Democracia a funcionar, para mim mais não são do que o exemplo perfeito do mau uso da palavra Liberdade, pois com esta vem sempre uma outra, neste caso – RESPONSABILIDADE.
Liberdade nunca existirá se, com esta, não houver responsabilidade – responsabilidade para os políticos, mas também responsabilidade para os cidadãos.
No ano em que se celebram cinquenta anos do 25 de Abril podemos vir a assistir a uma cerimónia inédita, com uma Assembleia da República onde pontifica uma extrema-esquerda, que há muito se instalou na política nacional com o beneplácito de todos nós, mas também uma extrema-direita, que por esse mesmo motivo, tem a mesma legitimidade para usar a Liberdade que a Democracia confere.
Já nós, pessoas de bem, permitimos que isso tivesse acontecido, e apenas porque não fizemos uso da responsabilidade que nos foi delegada pela Liberdade conquistada com a “Revolução dos Cravos”.
Atrevo-me a dizer que o “Botas”, esteja lá onde estiver, deverá estar a rir-se, pois ao fim de cinquenta anos corremos o risco de ter uma Assembleia da República onde de um lado teremos os ditadores do Proletariado, e do outro lado os ditadores do Estado Autoritário!
No meio ficarão os irresponsáveis que permitiram, ao longo dos últimos cinquenta anos, que tivéssemos chegado até aqui…