Na última semana muitos de vós, estimados leitores, terão ficado surpresos pelo registo do capote alentejano por parte de um suposto empresário do norte do País, fazendo recair, por força desse registo, o pagamento de licenças junto de vários produtores deste género de vestuário típico daquela região.
Com efeito, o registo da propriedade dos desenhos e modelos do capote e da samarra no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), que a tantos deixou perplexos, apenas sucedeu porque o sistema assim o possibilitou, e também por haver quem utilize a boa-fé da Legislação para concretizar estas habilidades, que não deixando de configurar o exercício de um direito legal, a pretensão do registo entenda-se, na sua substância traduz o aproveitamento do trabalho de outros para obtenção de vantagens competitivas ou económicas.
Pela experiência que tenho, enquanto Diretor deste centenário jornal, tenho que admitir que aquilo que vos possa ter surpreendido, fruto do caricato desta situação que parece ser anedótica, na realidade, a mim não me causou qualquer surpresa, desde logo, porque nos últimos tempos este é um efeito perverso de que A Comarca de Arganil tem padecido, assim como outros órgãos de comunicação social regionais.
Pois é, os 121 anos que este periódico ostenta têm suscitado o interesse e a cobiça de uma certa veia empresarial que, talvez replicando o mesmo modelo e estratégia utilizados para o registo do capote e da samarra alentejanos, aspiram a tomar em mãos a designação d’A Comarca de Arganil.
Mas deixemos de lado as tristezas e foquemo-nos nas coisas alegres.
E que maior alegria podiam ter os leitores e amigos d’A Comarca de Arganil do que celebrar mais um aniversário, neste caso, o seu 121º, e a entrada no 122º ano de existência deste título.
Um jornal, como é o nosso, que reúne os principais acontecimentos que marcaram a Beira Serra, que abarca a existência de dois regimes políticos, a Monarquia e a República, que regista a diáspora dos nossos conterrâneos, não pode deixar ninguém indiferente, mesmo os seus detratores.
Não se estranha então, que um Jornal como este seja apetecível! Talvez demasiado apetecível…
Mas este é um título que não se confunde, nem no nome e muito menos no seu conteúdo, e certamente não se verga, nem se deixa intimidar.
Talvez seja da cepa em que foi enxertado, da qual nomes como João Castanheira Nunes, entre tantos outros, fazem parte e aos quais devemos essa enorme gratidão e homenagem mantendo em circulação A Comarca de Arganil.
E que melhor altura para recordar o centenário do nascimento de João Castanheira Nunes (17/12/1921) do que na sua edição especial de comemoração de mais um aniversário.
Esta que é uma figura incontornável da História contemporânea de Arganil e da região, com uma forte presença na vida associativa, e dinamizador de várias ações promotoras da edificação de equipamentos e infraestruturas, como foram, por exemplo, o caso do Cineteatro Alves Coelho, ou a construção do Quartel-sede dos Bombeiros Voluntários de Arganil, do qual foi Comandante.
João Castanheira Nunes foi, muito provavelmente, aquele que na sua geração melhor uso fez do poder da caneta e da força das palavras para mobilizar vontades, abrindo portas ao desenvolvimento local, especialmente numa época em que os recursos eram escassos e não existiam fundos comunitários, como agora existem.
Com uma personalidade forte e carismática, consolidou no seio d’A Comarca de Arganil o seu ADN como jornal de causas, capaz de lutar por um conjunto de ideais centrados nas nossas comunidades e na Portugalidade que a nossa língua materna transporta, e que vai muito para além das nossas fronteiras.
Mas este é também um jornal que tem inovado, acompanhando o fenómeno da globalização, sem descurar as suas raízes e a sua matriz identitária, sendo disso reflexo a sequência de entrevistas dedicadas aos nove Presidentes de Câmara recém-(re)eleitos na nossa área de abrangência territorial, independentemente da cor política que cada um deles ostenta, mas cuja dedicação às suas comunidades será o denominador comum.
Simultaneamente, este é também um jornal que faz parte do restrito clube de títulos que são estudados pela Academia, na procura de fontes que enquadrem e expliquem os acontecimentos que têm marcado os concelhos que servimos – Arganil, Góis, Pampilhosa da Serra, Oliveira do Hospital, Tábua, Vila Nova de Poiares, Penacova, Lousã e Miranda do Corvo.
No entanto, desenganem-se aqueles que pensam que tem sido fácil dirigir esta “nau”.
A realidade é bem mais dura, pois para além das cobiças alheias, como a do “Capote Alentejano”, que tanto tempo nos retira e recursos económicos absorve, e para o qual temos de estar sempre atentos, outras dificuldades existem e são comuns e transversais à imprensa regional.
Esta para se manter independente tem que se manter distante do domínio de alguns interesses privados, mas também políticos, coisa que não está ao alcance de todos.
Poucos são aqueles que se apercebem das angústias que nos assaltam, apenas ultrapassáveis com a dedicação, em primeira mão, dos fiéis leitores, sejam eles velhos ou novos, depois, pela presença e conselho do mentor deste projeto renascido.
Também a equipa da redação e os colaboradores espalhados pelas diversas comunidades que servimos, a par das instituições e empresas que junto de nós publicitam os seus serviços e produtos, são essenciais à nossa subsistência e continuidade.
Para todos vós, estimados amigos, um abraço do tamanho da idade deste jornal, com a esperança de que continuemos a manter este sentimento único de “Carta de Família” que tanto caracteriza A Comarca de Arganil e que nos liga a todos de forma intergeracional.
Somos a voz de uma REGIÃO, o pulsar de um POVO, e parte deste nosso PORTUGAL que amamos!
NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)