Foi no dia 9 de Maio, última segunda-feira, que Vladimir Putin celebrou o dia da grande vitória, data em que é apresentada a capitulação da então Alemanha Nazi, isto em 1945, e que serviu, este ano, para justificar o ataque e a invasão da Ucrânia, a pretexto da sua designada “desnazificação”.
No entanto, a Alemanha Nazi rendeu-se incondicionalmente no dia 7 de Maio de 1945, e o cessar-fogo entrou em vigor a 8 do mesmo mês, tendo essa capitulação sido assinada em Reims, França, por Alfred Jodl, Chefe da Equipa de Operações do Alto Comando Alemão, junto dos Aliados, entre as quais estava presente um oficial Soviético.
Contudo, “Josef Stalin”, ditador da ex-URSS, não ficou nada agradado com essa rendição, nem com a data da mesma ou o local da assinatura do acordo, tendo apresentado como principal argumento que o representante Alemão tinha sido designado por um Chefe de Estado Civil, o então Karl Donitz, antigo Almirante da Marinha de Guerra Alemã, e designado para “Chanceler” por Adolf Hitler no seu testamento político e após o seu suicídio.
A posição do ditador Soviético implicou que o Marechal de Campo e Comandante Supremo das então forças armadas alemãs, Wilhelm Keithel, se deslocasse para Karlshorst, um subúrbio em Berlim, para assinar, pela segunda vez, a rendição incondicional, neste caso na presença do Marechal Soviético Georgy ZhuKov, o mais importante Militar das forças soviéticas na II Guerra Mundial.
Para Stalin não bastava a rendição incondicional da Alemanha, a mesma com a qual tinha celebrado o Pacto de Não Agressão e estabelecido diversos acordos para a divisão de territórios, como foi, por exemplo, o caso da Polónia, partilhada entre o nazi Hitler e o sanguinário ditador Soviético.
Para Stalin, o mais importante era poder afirmar, internamente, que foi graças à União Soviética, ao sacrifício dos seus povos e à capacidade de decisão do seu líder, que a então Alemanha Nazi perdeu a II Guerra Mundial, razão pela qual não podia aceitar a rendição de 7 de Maio, exigindo uma segunda rendição, assinada em 8 de Maio e entrando em vigor a 9 do mesmo mês.
Ora, entre Stalin e Putin existem diversos pontos em comum, para além de ambos serem ditadores, são também encenadores de uma realidade alternativa criada para enganar os seus povos.
E assim, nas celebrações de segunda-feira passada na Praça do Kremlin, engalanada como nos velhos tempos, assistimos a mais um capítulo da peça de teatro sangrenta que tem como pano de fundo o território da Ucrânia, outrora cobiçada pelo III Reich como celeiro da Europa, e agora cobiçada pelo ditador Russo na sua deriva de “espaço vital” (semelhante à de Hitler) para conter a expansão da NATO.
Apesar da importância das datas, mesmo que ajustadas em cada momento à vontade de cada um dos ditadores, no passado Stalin, no presente Putin, existe entre as celebrações uma diferença abismal.
Enquanto que Stalin recordava a derrota dos nazis, Putin, a pretexto dessa, celebra a sua autocracia, a sua impunidade, a sua sobranceria perante a Europa, e o receio que provoca na comunidade internacional.
Enquanto que Stalin recordava as vitórias alcançadas contra os nazis, onde pereceram mais de 26 milhões de soviéticos, dos quais 12 milhões eram soldados, já Putin celebrou a conquista pífia da martirizada cidade de Mariupol, onde o complexo industrial de Azvostal acolhe os últimos militares resistentes da Ucrânia nessa importante localidade.
Enquanto que Stalin enaltecia a entrada em Berlim e o derrube dos símbolos nazis, Putin celebrou o massacre em Bucha e outras localidades ucranianas.
Enquanto que Stalin evocava o dia da vitória contra os nazis com os seus aliados, já Putin celebra a invasão da Ucrânia isolado do resto da Europa e do Mundo civilizado.
Putin, na passada segunda-feira, celebrou a rendição, não dos nazis, mas antes o desejo de rendição das democracias ocidentais contra as investidas totalitárias da liderança russa.
Esperemos agora, mais do que nunca, que o Mundo livre e democrático, não se submeta a uma rendição, pois tanto são credores da vitória sobre os nazis, os Russos, como os Ucranianos, mas de igual modo, os Moldavos, os Letónios, os Polacos, os Franceses, os Britânicos, entre outros e, muito especialmente, os Americanos.
NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)