NOTA DA SEMANA: O elefante na sala vermelha

Finalmente as eleições terminaram, os emigrantes já votaram, pela segunda vez, e a formação do Governo está para breve.

Parece caricato, mas é real, estamos em pleno conflito bélico na Europa e temos um Governo em gestão que agora irá dar lugar, nos próximos dias, a um executivo governativo na plenitude das suas competências Constitucionais.

Contudo, com o fecho em definitivo do processo eleitoral das últimas eleições legislativas, a vida de alguns Partidos Políticos não se vislumbra nada fácil, especialmente porque a perda de deputados implica a perda, ou redução, da subvenção pública.

Já sabíamos que o Centro Democrático Social (CDS) foi varrido da Assembleia da República e depara-se com uma luta pela sobrevivência, mas nada que os anos que leva de vida em democracia, especialmente tendo passado pelos tempos quentes do PREC, não lhe sirva de experiência para enfrentar esta etapa.

Para além disso, e não menos importante, o CDS está confortável com as decisões que terá que tomar nesta sua luta pela sobrevivência e que implicará medidas drásticas na redução da sua estrutura, com o intuito de reduzir custos.

Acredito que as decisões a tomar pelo futuro líder do CDS serão sempre difíceis, mas estou igualmente certo de que este não terá problemas de sono por estas poderem colidir com o conteúdo programático do seu Partido, ou mesmo com o conteúdo ideológico.

No entanto, à esquerda do Partido Socialista (PS), a “TROIKA” chegou agora e parece ter sido bem acolhida.

Durante anos assistimos ao Bloco de Esquerda (BE) a criticar as medidas duras tomadas durante o período de assistência financeira a Portugal, assistimos ainda, ao ataque feroz desse Partido a todas as empresas que ousassem despedir.

Ao mesmo tempo, agitava a bandeira da defesa dos precários, especialmente os “recibos verdes”, considerando ainda, que não existe trabalho voluntário, e como tal, ninguém pode assumir fazer tarefas de forma graciosa, pois isso configurava uma forma exploração dos mais frágeis.

Com efeito, existem momentos em que se pede aos Partidos Políticos que pratiquem aquilo que apregoam, e esses momentos podem tardar a aparecer, mas sempre lá vão aparecendo.

O BE está numa fase de despedimento de diversos trabalhadores, tendo em vista reduzir custos de funcionamento, numa ótica de despedimento coletivo, algo que parecia estar apenas ao alcance dos malévolos capitalistas!

Mas mais grave, é a possibilidade do trabalho que muitos desses trabalhadores realizavam passar a ser feito por militantes voluntários.

Para quem entende que o voluntariado é uma forma de estar na vida, especialmente quando nos dedicamos a uma determinada causa, não haverá prurido de maior, mas para quem sempre foi contra o trabalho voluntário, e contra quem o realiza, substituir trabalhadores por voluntários é grave, muito grave.

Como se não bastasse, muitos de nós gostávamos de perceber se a indemnização que o BE vai dar aos trabalhadores que vai despedir, sempre serão os 12 dias de trabalho que foram introduzidos no Código de Trabalho durante a presença da TROIKA, ou os 20 dias que esse Partido usou como um dos argumentos para chumbar o Orçamento de Estado para 2022.

A Moral é uma coisa tramada, mas pior que a Moral são mesmo os pretensos moralistas, e o BE, tal como outros Partidos, tem uma série deles acompanhados de uma agenda mediática por meio da qual vociferam esses falsos moralismos, neste caso no campo laboral.

Por isso, não é de estranhar exemplos como o daquele vereador do BE que ficou conhecido pelos negócios do imobiliário, ou, mais recentemente, o exemplo da deputada em regime de exclusividade, mas que era paga por uma estação de televisão para participar num programa de comentário semanal.

É por isso, e pela abstenção no Parlamento Europeu sobre a Ucrânia, que hoje todos olham para o BE como o elefante numa sala vermelha, rodeado de (L)ouça…e de economistas da TROIKA.

NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)