Nos últimos dias, a notícia que mereceu a maior atenção por grande parte da comunicação social, e da agenda de alguns políticos, foi a paragem na Hungria de António Costa, Primeiro-ministro de Portugal, para assistir à final da Liga Europa com o seu homólogo, Victor Orban.
De lá para cá, vários têm sido os comentários sobre o encontro entre os dois governantes, mesmo que tenha sido para assistir a uma partida de futebol, onde estava em disputa o segundo mais importante troféu das competições europeias e uma das equipas, o Roma, ser treinada por um treinador português, José Mourinho, contando nas suas fileiras com outros nacionais, como é o caso do Guarda Redes Rui Patrício.
Não percebo tamanha polémica, desde logo, porque o hábito instalado nos últimos anos junto das elites políticas do nosso País, tem sido o de debandarem para os jogos de futebol por “dá cá aquela palha”, estando-se a borrifar para o erário público.
E todos com a mesma justificação, se não é por causa da Seleção Nacional, será porque está em disputa um troféu por uma qualquer equipa nacional, ou então basta apenas ser um jogo em que uma das equipas tem em campo um jogador, ou treinador, de nacionalidade lusa.
Por outro lado, há quem diga que reunir com o extremista Victor Orban, mesmo que seja para “comer uns tremoços, beber uns finos”, e assistir a um jogo de futebol na tribuna VIP do estádio, é algo imperdoável, porque essa personalidade personifica o mal do extremismo numa Europa desenvolvida e moralmente superior a todos os outros povos, mas que deixa morrer em embarcações centenas de imigrantes.
Confesso, que continuo a não entender as críticas, quiçá o Primeiro-ministro de Portugal e responsável pelo Partido Socialista (PS), baluarte dos ideais republicanos, esteja a forjar uma aliança com a extrema-direita húngara para que dessa forma o partido CHEGA venha a liderar uma coligação com o Partido Social Democrata (PSD), facilitando, por essa via, a reeleição de António Costa nas próximas eleições!
Na realidade, são demasiadas teorias da conspiração, e para mim, o homem (Primeiro-ministro), amante do futebol, quis apenas assistir a um bom jogo, deu nota disso ao Presidente da República, e aproveitou para colocar a conversa em dia com o homologo húngaro, numa perspetiva futura de um entendimento para poder vir a liderar o Conselho Europeu ou outro órgão similar.
Perante a prática dos últimos anos, e o exemplo dado por tantos políticos, venha quem atire a primeira pedra, e estou certo que poucos haverá na primeira linha das figuras do Estado, e partidos políticos, que não tenha telhados de vidro no que ao futebol diz respeito.
Infelizmente, enquanto grande parte dos iluminados discute a paragem do Falcon 50 da Força Aérea Portuguesa na Hungria, o Padrão dos Descobrimentos voltou a ser vandalizado com uma pichagem que tinha a inscrição de “A Nação que matou África”, já depois de, em 2021, ter sido o mesmo “monumento” alvo de um ato de vandalismo em Inglês, com uma inscrição que dizia, e de acordo com uma tradução livre, “Navegando cegamente por dinheiro, a humanidade afunda-se num oceano escarlate”.
Ora, se fossemos um País sério e decente, capaz de respeitar e fazer respeitar, pelo menos a única coisa digna de registo no que aos contributos para o desenvolvimento da humanidade Portugal deu, tais atos não seriam possíveis e muito menos impunes.
Infelizmente, o Padrão dos Descobrimentos, cujo original data de 1940 por ocasião da Exposição do Mundo Português, e cuja autoria foi do arquiteto Cottinelli Telmo e do escultor Leopoldo de Almeida, padece de um mal que uma parte de certa esquerda parola não perdoa.
E esse mal é o de ter sido construído no tempo da “outra senhora”.
Ainda para mais, em 1960, o referido Padrão passou a assumir a sua forma em betão e pedra rosal de Leiria, por ocasião dos 500 anos da morte do Infante D. Henrique e, em 1985, foi inaugurado como Centro Cultural das Descobertas, depois de uma intervenção no seu interior da autoria do arquiteto Fernando Ramalho, dotando-o de um miradouro, auditório e salas de exposição.
Está-se mesmo a ver que o dito “monumento”, que continua a aguardar classificação, seja como edifício de interesse público, seja como monumento nacional, reúne em si o pior que os radicais de esquerda podiam imaginar.
Assim, o malogrado Padrão dos Descobrimentos foi construído pelo Estado Novo e depois foi (re)inaugurado por um Governo de Aníbal Cavaco Silva, em homenagem à epopeia das descobertas, ora isso é uma afronta para essa esquerda dona da “moral e dos bons costumes”.
Felizmente essa esquerda, que se apresenta como iluminada, mas no fundo é parola, ignorante e radical, ainda é uma minoria mas com uma agenda mediática corrosiva, não reconhecendo a bravura de um povo, os seus sacrifícios e a sua coragem, entendendo antes as descobertas como sendo algo que assentou numa lógica de exploração dos outros povos, ao invés de aceitar que essa epopeia teve associadas as componente de afirmação geoestratégica do Reino de Portugal e de desenvolvimento do conhecimento marítimo como fator de afirmação nesse período.
Talvez por isso, e não apenas por isso, pretendam agora devolver às Províncias Ultramarinas, atualmente Estados Independentes e Soberanos, todas as peças existentes nos nossos museus oriundas desses territórios, as quais fazendo parte da nossa História, e por isso foram preservadas, estarão bem melhores no mercado negro que aguarda por lhes deitar as mãos.
Aproveito apenas para sugerir que no dia em que derrubarem o Padrão dos Descobrimentos, alusivo, entre outras coisas, a uma Nação que descobriu Africa e que a ela ficou para sempre ligada, aproveitem e derrubem a Ponte 25 de Abril, a mesma que no passado se chamou Ponte António de Oliveira Salazar, levantem o que resta da ferrovia, procedam à demolição do aeroporto de Lisboa, expludam a maioria das barragens e tantas outras coisas, pois só assim poderão ser coerentes.
E no andamento da destruição da nossa História façam como os Talibans já fizeram em outras paragens, e destruam o Mosteiro dos Jerónimos, feito com as riquezas de outros povos, ou o Mosteiro de Alcobaça, entre tantos outros monumentos, não deixando pedra sobre pedra do museu dos coches e queimem as peças nele expostas, pois só assim serão coerentes.
Um Povo que se prende a discutir as paragens do seu Falcon, e os jogos de futebol mas não respeita a sua História e tem vergonha desta, não merece existir!
Faz bem António Costa em pensar no futuro, pelo menos no seu.
NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)