De forma inesperada e contra corrente, Pedro Passos Coelho surgiu na campanha da Aliança Democrática (AD), mais precisamente num comício em Faro, Distrito onde as sondagens dão a possibilidade do Partido CHEGA poder vir a ter um bom resultado contra a coligação (AD).
Mas essa aparição, por mais que queiram dizer o contrário, não deixou ninguém indiferente em todos os quadrantes políticos com assento parlamentar, razão pela qual não houve quem não pronunciasse um comentário sobre o discurso do ex-primeiro ministro.
No entanto, do vasto discurso do ex-governante, que falou da necessidade da mudança, do contexto económico e de mais alguns temas, apenas foi realçada a abordagem da imigração e de uma putativa relação com a (in) segurança.
E repare-se que a abordagem de Pedro Passos Coelho ao tema da imigração resumiu-se a: “Nós precisamos de ter um país aberto à imigração, mas cuidado que precisamos também de ter um país seguro”.
Poderia ler-se dessas palavras, por exemplo, que o País necessita da mão-de-obra dos imigrantes, que estes são essenciais ao reequilíbrio demográfico, que os imigrantes contribuem para a sustentabilidade do sistema de proteção social por via dos seus contributos, entre outras coisas.
Depois, poderia associar-se a essas palavras, e na segunda parte das declarações do ex-governante, que a imigração deverá respeitar quotas, que os imigrantes a acolher deverão corresponder às necessidades dos diversos setores económicos, que não podemos ter uma política de imigração sem uma devida regulamentação da mesma, que é essencial existirem planos de integração que assentem no conhecimento da língua e cultura portuguesa, ou até, que ao mesmo tempo que promovemos a imigração, deveríamos melhorar as condições das forças de segurança para que estas mantenham o país seguro.
Leituras que qualquer pessoa de bem, sem estar toldada por preconceitos ideológicos ou ideias politizadas da relação com o tema da imigração, poderia realizar sobre as declarações do ex-primeiro ministro.
Mas seria assim, se fossemos verdadeiramente livres das amarras de quem nos tenta condicionar o pensamento e o livre arbítrio.
Ao invés disso, e alimentada por inúmeros comentadores políticos com simpatias partidárias, com a participação de uma máquina propagandística na comunicação social de certos setores da esquerda mais radical, e discursos de uma “pseudo” elite intelectual, sem esquecer os diversos dirigentes partidários que nutrem um certo rancor à figura referenciada como unificadora do Centro Direita e Direita, foi desenhada a narrativa de que Pedro Passos Coelho é, quiçá, um extremista a soldo do CHEGA!
Li e ouvi o discurso de Pedro Passos Coelho, não uma, nem duas, mas pelo menos três vezes, e, certamente devido à minha ignorância nestas coisas da política, não vislumbrei ou perscrutei, em lado algum, qualquer acusação, perseguição ou preconceito, feita pelo Homem aos imigrantes e a conotação com a insegurança do país.
Fazer essa leitura em relação a Pedro Passos Coelho, apenas revela uma certa desonestidade intelectual, não apenas porque no seu consulado enquanto governante não se lhe conhece qualquer decisão contra os imigrantes, mas antes decisões que visavam a devida regulamentação da imigração…algo que o bem senso impõe.
Foi também no seu consulado que muitos dos imigrantes com capacidade económica escolheram o nosso país como destino para realizar investimentos e, seguramente, não foi no seu consulado que o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) foi extinto, dando lugar a uma coisa esquisita designada de “Agência para a Imigração”, transformando o processo de legalização dos imigrantes em algo meramente administrativo, e por sinal a funcionar muito mal, sem o devido escrutínio e controle de um órgão policial!
Mas pior do que isso, foi criar-se uma narrativa de que Pedro Passos Coelho é um extremista!
O Homem de quem todos falam, teve mais ligações a África do que muitos dos imberbes políticos que por aí vão “cirandando”, não apenas porque faz parte da leva de retornados do pós 25 de Abril de 1974, mas porque, à semelhança dessa leva de “imigrantes” na sua própria Pátria, trouxe para a metrópole taciturna o empreendedorismo e coragem que por cá não existiam.
Depois, porque Passos Coelho, na sua vida pessoal, deu exemplos maiores sobre o que é a ligação a pessoas de outras culturas, tendo casado, em segundas núpcias, com Laura Ferreira, natural de Bissau.
Mas mais, Pedro Passos Coelho teve a coragem de colocar na agenda da discussão politica os assuntos sem tabus, condicionando, não apenas a extrema-direita securitária e demagoga, mas também a extrema-esquerda libertária e (falsa) moralista.
Assim outros dirigentes moderados fossem capazes de perceber que os extremismos combatem-se discutindo os assuntos sem receio, retirando aos populistas da extrema-esquerda e da extrema-direita a liderança dos temas mais sensíveis para muitos dos cidadãos.
Pedro Passos Coelho foi, como sempre, corajoso.