NOTA DA SEMANA: O milagre de “Notre-Dame”

FOTO: Jean-Francois – FONCIN

Iniciada a construção em 1163, sob a direção do Bispo Maurice de Sully e no reinado do Rei Luís VII, a Catedral de Notre-Dame foi dedicada à Virgem Maria e a tradução do seu nome significa isso mesmo, Nossa Senhora.

No entanto, apenas em 1345 viria a ser concluída e é uma das melhores representações do estilo Gótico, construída ao longo de cento oitenta e dois anos e situada na ÎIe de la Cité em Paris, ladeada pelas águas do Rio Sena.

Seguramente não foi a primeira Catedral construída nesse estilo, mas foi, e é, certamente um dos símbolos da civilização Judaico-Cristã, encerrando nela o início da procura da luz, numa época de obscurantismo em que a humanidade foi mergulhada durante a idade média.

As suas enormes naves, a sua abóboda central, as suas esculturas, os seus lendários sinos, mas acima de tudo os seus belíssimos vitrais, procuraram ao longo dos séculos que a luz se entranhasse no coração daqueles que nela entravam.

A luminosidade que entra no magnífico monumento revela, não apenas uma fé inabalável no instinto do “Criador”, mas também uma férrea vontade de conhecimento, pois nunca tamanha obra seria concluída se não houvesse a capacidade crítica inerente à sapiência dos saberes que permitiram erguer e manter este extraordinário edifício.

Ao longo de séculos a imaginação, mas também a magia, estabeleceram a existência de figuras míticas habitando o majestoso e gigantesco monumento, desde as gárgulas que vigiavam e protegiam o mítico edifício, passando por anjos e demónios, todos pareciam ter lugar na Catedral de Notre-Dame, tal era a sua grandeza.

Também diversas obras literárias, com destaque para o “Corcunda de Notre-Dame”, originalmente com o título de “Notre-Dame de Paris” do escritor francês Victor Hugo, criaram uma áurea mística em redor da Catedral.

A Catedral de Notre-Dame tornou-se, não apenas um símbolo religioso, mas acima de tudo o epicentro de lendas e estórias envolvidas pela História dos tempos. Local de encontros e desencontros, amores e desamores, alegrias e tragédias, muitas vezes imortalizadas pelo génio do Homem.

Contudo, em 15 de Abril de 2019, tudo isso desabou em virtude de um incêndio que destruiu grande parte da Catedral e com ela parecia desmoronar-se todo o simbolismo de uma cultura europeia.

As fantásticas obras de arte, a abóboda e o pináculo desabaram, e com eles séculos de história pareciam ter desaparecido, conjuntamente com uma parte da nossa identidade.

No entanto, volvidos cinco anos, com mais de dois mil trabalhadores envolvidos, com mais de novecentos milhões de euros investidos, resultantes em parte de milhares de donativos anónimos, a Catedral de Notre-Dame reabriu portas.

Talvez seja um sinal dos tempos no seio de uma França em convulsão que precisa de reencontrar o seu caminho, ou simplesmente seja o milagre de todas as figuras que sempre habitaram a Catedral de Notre-Dame, e que nas vésperas deste Natal desejaram regressar a casa e ao regaço da Virgem Maria e do Menino Jesus…

Por vezes sabe bem acreditar em milagres…acreditemos pois, no milagre de Notre-Dame.