NOTA DA SEMANA: O TGV dos pobres!

O novo aeroporto de Lisboa leva já mais de 50 anos de discussão, com inúmeros anúncios de escolha de possíveis localizações, com várias comissões de peritos e inúmeros estudos de viabilização.

Pelo meio, tivemos ainda um despacho através do qual era escolhido em definitivo o local da sua implantação, despacho este que horas depois foi revogado e desautorizado, sendo o titular da pasta das infraestruturas – Pedro Nuno Santos, atual candidato pelo Partido Socialista (PS) a Primeiro-ministro, enquanto que à data era, e ainda é, Primeiro-ministro de Portugal, António Costa.

Ou seja, o primeiro aprovou e o segundo desautorizou.

Mas que tem isto a ver com a construção do TGV (sigla de Train à Grande Vitesse)?

Bem, caros leitores tem tudo.

Ao fim de vários anos de anúncios e adiamentos para o TGV, já lá vão portanto 18 anos, à semelhança do novo aeroporto de Lisboa (neste caso mais de 50 anos), em tempo recorde foi lançado concurso para o trajeto Lisboa – Porto, em detrimento do trajeto Lisboa – Madrid, este último seguramente mais oneroso, mas certamente mais rentável e estratégico.

E tudo porque havia o risco de perda de 729 milhões de euros de fundos europeus para a construção desta solução de mobilidade, isto num valor global de mais de 4,5 mil milhões de euros de custos, e sublinhe-se, apenas referente à ligação Lisboa – Porto.

Por outro lado, a exploração da linha do TGV será concessionada por 30 anos, visto que uma parte do investimento poderá ser suportado por investimento privado, muito numa lógica de Parcerias Publico Privadas, ou seja, as famosas PPP.

Mais uma vez fica provado que o nosso País não possui qualquer planeamento, ou pensamento estruturado, sobre as grandes obras decisivas para o desenvolvimento sustentado do País.

Se assim fosse, não estaríamos a lançar concursos apenas, e unicamente, porque existe o receio do País perder 729 milhões de euros provenientes de fundos europeus para este projeto em causa.

Quero com isto dizer, que vamos gastar o dinheiro equivalente a uma TAP e meia, não sei se estarão recordados, para fazer uma ligação entre duas cidades Portuguesas que são já servidas pelo Alfa Pendular, talvez o único serviço de comboios viável economicamente em Portugal.

Que irá suceder então?

Bem, o TGV irá exigir um esforço suplementar ao erário público, mas sem que daí resulte grande benefício para a economia, desde logo porque não serão os portugueses remediados que ousarão viajar no TGV entre Lisboa e o Porto, nem tão pouco os preços serão apelativos.

Como resultado da falta de clientes, passará o Estado a suportar a PPP que financiará parte dessa construção, isto depois de se acabar com o Alfa Pendular, com o argumento da necessidade de assegurar a sustentabilidade do TGV, mas que nada conseguirá.

Mata-se um serviço para que haja clientes para outro.

A ligação entre Lisboa – Porto passa a ser feita, quando o TGV estiver em funcionamento, em 1h15m, isto se não tiver as 4 paragens programadas, pelo que, tenho sérias dúvidas se alguma vez o comboio bala chegará ao Porto com menos de 2 horas de tempo de viagem!

Se houvesse pensamento estratégico a ligação pelo TGV seria implementada entre as duas capitais ibéricas, neste caso Lisboa – Madrid e não entre Lisboa – Porto.

Contudo, continuamos a ser provincianos e, por força dessa lógica bacoca que amedronta os Políticos Portugueses, apresentamos projetos que, sob a capa e o disfarce da coesão territorial, mais não são do que completas extravagâncias e delírios populistas, mesmo que os populistas sejam outros.

Para as duas maiores cidades portuguesas, Lisboa e Porto, basta-lhes o Alfa Pendular e as várias autoestradas existentes, já para não falar dos respetivos aeroportos, mas para o País o que se impunha era uma ligação internacional.

Como resultado, o TGV que vai ligar Lisboa ao Porto vai servir apenas para aumentar a despesa pública, resultante dos gastos da futura PPP, e sem que daí resulte qualquer mais-valia estratégica para a economia nacional.

Mesmo para aqueles que pensam que a área metropolitana do Porto poderá beneficiar desta proximidade face a Lisboa, isso será sol de pouca dura, na medida em que, rapidamente, a deslocação do investimento do norte para o sul irá suceder.

Teremos pois o TGV dos pobres, em que serão estes a pagar o serviço sem que nunca dele possam beneficiar.