NOTA DA SEMANA: O último “fusível” da caixa

Por diversas vezes já ouvimos a expressão – “julga-se a última bolacha do pacote” – o que quer dizer que determinado tipo, ou tipa, de tão vaidoso, ou vaidosa, que é, ou tão boa imagem tem de si próprio, ou própria, pensa que todos o/a querem.

No entanto, e porque a língua portuguesa está em permanente atualização, especialmente nos ditames populares, é normal que surjam sempre novas expressões.

E, neste caso, existe já uma que será, sem dúvida alguma, a mais recente inscrição no imaginário popular, passando a permitir caracterizar uma pessoa que se julga de tal maneira importante e fundamental para os outros, que passará a designar-se de “o último fusível de segurança”.

Contudo, e porque a palavra segurança não será o termo mais adequado no linguarejo popular, de imediato o mesmo foi substituído por “o último fusível da caixa”.

Na realidade, esta notável nova expressão só poderia ter origem na mais alta figura do Estado, e neste caso partindo da Presidência da República que, respondendo à intransigência do Primeiro-ministro pela não aceitação da demissão do Ministro das Infraestruturas, permitiu que passasse a ser inscrito nas características do cargo de Presidente da República, a de que este tem que ser o “fusível”, de preferência o maior e, já agora, reservado a funcionar como mecanismo de segurança.

Ora, “fusível”, na sua definição técnica, é um dispositivo de segurança que tem como função interromper a passagem da eletricidade quando esta ultrapassa o limite permitido por esse mesmo fusível, tendo em vista evitar um curto-circuito.

Fica-nos então uma dúvida, se todos os fusíveis têm tabelado, ou definido, qual a capacidade de passagem de eletricidade para os quais deverão ser utilizados, qual será então o limite do “fusível” do Presidente da República, face aos desvarios elétricos do Governo atual?

Felizmente, percebemos agora, o papel e a importância dos bons eletricistas e percebemos também, que o nosso Presidente da República é sábio conhecedor destas questões da eletricidade.

E porque da eletricidade se faz a luz, então ficámos agora a saber, que a verdadeira ciência está em saber lidar com os choques elétricos que o Governo nos vai dando!

Por outro lado, as gerações mais novas poderão passar a usar esta expressão mais institucional e até mais educativa, substituindo outras expressões bem mais brejeiras, para designar o tipo, ou tipa, lá do grupo de amigos que se julga ser a melhor pessoa do mundo.

Assim, a política passou a ser uma coisa menor, pelo que, os debates na Assembleia da República passarão a ser sobre a potência elétrica a atribuir ao Governo, para que o “fusível de segurança” não faça disparar o quadro elétrico cá da Nação.

Na realidade, a não aceitação de uma demissão de um membro do Governo, podendo esta ser discutível, é da competência do Primeiro-ministro que gere a sua “equipa de eletricistas” como bem entende.

Já o Presidente da República, ou não se metia nisto e guardava o assunto na alcofa dos encontros semanais que mantém com “o seu” Primeiro-ministro, ou, discordando, face à gravidade que lhe apontou, só lhe restava fazer disparar o “fusível”.

Não disparando o “fusível”, parece-me que o mesmo está, há muito, avariado e não me parece que disparará quando a potência rebentar com o quadro elétrico!

O tacticismo político, a coberto de uma putativa estabilidade, é apenas a desculpa para que não sejam tomadas decisões corajosas, não cabendo a nenhuma figura politica decidir sobre a responsabilidade do povo nas decisões que lhe são incumbidas de realizar.

Já não estamos perante Homens de Estado, mas antes perante estados de homens, que apenas olham para o País, para a República e para a Nação, como um tabuleiro de xadrez onde as vaidades pessoais e níveis de popularidade, são os Reis e as Rainha desse mesmo jogo.

O Povo é sereno, e pelo andar da carruagem e da coração do Rei D. Carlos III no Reino Unido, ainda decide optar pela Monarquia, pois não estou a ver um monarca, seja ele qual for, com cara de “fusível”.