NOTA DA SEMANA: O vandalismo Ecológico

Foto: CM jornal

É por demais evidente que o Planeta Terra está a mudar, a Primavera já não é a Primavera, o Verão parece ter mais meses do que os previstos no calendário engolindo o Outono, e o Inverno esqueceu-se da chuva e tem mais frio gélido do que o habitual.

Em contrapartida, os glaciares vão se desfazendo, a camada de ozono vai ficando mais fina e permissiva aos raios ultravioletas e os Pólos, norte e sul, vão ficando cada vez mais afetados ao nível dos seus ecossistemas.

A falta de água torna-se uma realidade cada vez mais comum no nosso Planeta, e os períodos de seca intensificam-se, afetando a produção alimentar e com isso a vida dos Seres Humanos.

Não podemos negar que tudo isto se deve às alterações climáticas cujas manifestações começaram a ser visíveis à Sociedade Civil na segunda metade do Século XX, tendo para isso contribuído, sem dúvida alguma, o consumo energético com base nos combustíveis fosseis.

Também não é menos verdade que, no final do Século XX e inicio do Século XXI, a inovação, a procura e o recurso a fontes de energias limpas tem sido marcante e assinalável, embora ainda longe de suprir as necessidades ao nível do consumo e acelerar a redução dos níveis de poluição no planeta.

Para esta mudança de paradigma não foi apenas indispensável uma maior consciência coletiva sobre as problemáticas relacionadas com o ambiente, traduzida numa crescente preocupação por políticas amigas da preservação ambiental, de igual modo, o papel dos grandes grupos e multinacionais no campo das energias foi crucial para a mudança do paradigma sobre a forma como os recursos naturais são utilizados.

Não podemos ter hoje dúvidas de que, graças à pressão mediática e muito em particular da pressão das opiniões públicas dos países desenvolvidos e democráticos, os grandes “impérios” energéticos acabaram por ter de promover o desenvolvimento de projetos revolucionários, dinamizando a passagem do consumo das energias fosseis para as energias limpas e renováveis.

Falar de carros elétricos, e da sua massificação, à cerca de vinte anos atrás, era ainda uma ilusão, e não obstante, hoje, este tipo de viaturas começa a ocupar uma quota de mercado, cada vez mais significativa, na indústria automóvel, entre tantos outros exemplos.

Vem isto a propósito do recente “ataque” ao Ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, quando participava numa conferência patrocinada pela EDP e pela Galp, no dia 26 de Setembro, sob o pretexto, de acordo com os responsáveis por esse incidente, o Movimento – Greve Climática Estudantil, de que estas eram duas empresas que contribuíam para a poluição e a destruição do ambiente.

Desde logo, esquece esse Movimento, que se essas empresas são responsáveis pela deterioração do ambiente, serão elas, sem dúvida alguma, conjuntamente com outras empresas, as únicas capazes de promoverem o desenvolvimento tecnológico para que haja uma política energética de proteção ao mesmo ambiente que uns querem defender e outros ajudaram a destruir!

No dia seguinte, ou seja, a 27 de Setembro, outro grupo de ativistas, neste caso designado de Climáximo e Scientist Rebellion, irromperam num evento da World Aviation Festival, relacionado com a aviação civil, acabando por vandalizar uma das fachadas da FIL em Lisboa, neste caso com tinta vermelha, o que obrigou a trabalhos de limpeza.

No entanto, o que me incomoda verdadeiramente nestes acontecimentos, já não é a defesa da causa da preservação do ambiente, a qual não depende de uns meros arruaceiros e, felizmente, tal preocupação faz já parte do nosso quotidiano aos mais diversos níveis da Sociedade Civil e do poder politico.

O que me incomoda verdadeiramente, é alguns, sob a capa da preservação ambiental, darem-se ao luxo de promoverem e realizarem atos de puro vandalismo e violência gratuita sem que, as autoridades competentes, os encarem como tal.

A reação do Ministro do Ambiente foi a de desvalorizar o incidente, até porque, na sequência do mesmo, logo algumas das participantes, jovens estudantes diga-se, prestaram declarações a um canal de televisão transmitindo a intrépida defesa da causa do ambiente para as gerações futuras.

Que o cidadão Duarte Cordeiro desvalorize tal ocorrência nada tenho contra, no entanto, e enquanto Ministro da República, cabe-lhe fazer cumprir a Lei contra estes ataques que ocorreram sobre um representante do Estado Português.

E não se diga que não foi um ataque físico, pois tal foi, deliberadamente, um ato de agressão a um representante eleito pelo Povo Português filmado e em direto!

Por outro lado, pintar de vermelho a fachada da FIL e fazer disso “bandeira” para gáudio dos ativistas, não passou de mero vandalismo e está bem longe de ser a manifestação de uma preocupação com o ambiente, desde logo, porque nem sequer tiveram o cuidado de imaginar que a limpeza iria originar o consumo de vários litros de água, detergentes e o seu escoamento para as sargetas da cidade Lisboeta!

É bom que todos nós tenhamos a consciência, especialmente os ditos ativistas pelo ambiente, de que vandalismo e agressões gratuitas não são justificáveis e compatíveis com as causas que dizem defender.

NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)