A palavra Democracia é originária do grego, demokratía e resulta da junção do termo “demos”, que quer dizer povo e “Kratos”, que designa poder, surgindo daqui o significado de governo do povo.
O governo do povo, ou seja, a Democracia não é, certamente, o sistema mais perfeito de governação das nossas vidas, mas de entre os existentes ou experimentados será, sem dúvida alguma, o menos imperfeito de todos eles.
O exercício do poder, através da escolha livre e secreta de quem nos governará, por meio do nosso voto individual e personalizado, é certamente uma conquista apenas ao alcance de um povo que se diz civilizado.
Vem isto a propósito da forma como muitas das vezes a Democracia é desvalorizada, em parte por ser um dado adquirido nas nossas vidas, paradoxalmente apenas possível porque existe liberdade de escolha, de pensamento e de opinião.
No entanto, quando a Democracia não é valorizada e estimada, dá origem a que apenas uns quantos se apoderem dela e de todo o sistema que a sustenta, acabando por ser corroída nos seus alicerces, abrindo espaço à sua queda.
No próximo dia 26 de Setembro teremos as eleições autárquicas, e uma vez mais a Democracia será posta à prova. O seu principal adversário chama-se abstenção, e esta decorre do desinteresse no processo de escolha de quem nos governará a nível local.
A liberdade de que usufruímos, e que deveria servir para nos mobilizar a exercer o direito ao voto, tem sido antes utilizada para ficarmos em casa, enquanto outros escolhem por nós.
E outros, exercendo a Democracia, impõem-nos os projetos autárquicos que não queremos mas que, a partir dessa data, deixamos de ter legitimidade para sobre eles exercer a crítica.
Já o disse aqui que temos excelentes candidatos em todos os quadrantes políticos, candidatos que colocam a “coisa pública” como prioridade e o “bem comum” como objetivo final.
Temos candidatos com conhecimento, sensibilidade e, acima de tudo, projetos para os seus territórios com visão e planeamento, independentemente das cores partidárias que vestem.
Contudo, temos outros que, aproveitando a Democracia e o desinteresse de muitos, perscrutam em cada eleição o espaço para alimentarem o seu ego, o seu estatuto, os seus negócios e a sua influência.
A Democracia que deve ser valorizada e estimada, por exemplo, é hoje substituída por cartazes que são avaliados pelo número de risos que suscitam e não pela mensagem que transmitem.
Cartazes que, a coberto de uma suposta irreverência, ganham o voto dos mais desatentos ao debate de ideias.
Mas a Democracia, de tão doente que está, tornou-se ainda um caldeirão de interesses, onde uma série de ignorantes se candidatam na expetativa de serem eleitos por uma turba menos atenta no que aos projetos e ideias dos candidatos diz respeito e mais interessada em festarolas e comícios com febras e vinho.
A Democracia, sistema que radica na liberdade, por não ter sido estimada, abriu caminho ao oportunismo que suplantou a cultura do mérito, tornando-se, também, o elevador social dos estúpidos.
Hoje, poucas são as elites pensantes e críticas, pelo contrário, temos em abundância comentadores de tudo e de todos.
Hoje, são cada menos as capacidades para refletir sobre o futuro, em contrapartida esgotamo-nos nos problemas do imediato, continuando a hipotecar os nossos territórios e, em última análise, o nosso País.
Hoje, muitos daqueles que aspiram a ascender socialmente na vida, através da Democracia, são esmagados pelos estúpidos que tomaram conta de algumas das concelhias partidárias, e com isso, autonomearam-se candidatos, a começar pela ausência de outros que fugiram dessa estupidez a sete pés.
É cada vez mais raro assistirmos a um debate construtivo, em que a apresentação de ideias pudesse cativar quem pode votar, única forma de evitar os tais ignorantes de ocuparem os lugares que fazem a diferença no nosso dia-a-dia.
Na realidade, se é verdade que temos excelentes candidatos aos órgãos autárquicos em todo o País, seja em qualquer Partido e em qualquer lista de independentes, também não é menos verdade que existem candidatos, que caso fossemos um povo sério, e onde a seriedade fosse levada a peito, nunca o seriam.
É deplorável ouvirmos alguns candidatos a falarem, enganando, descaradamente, os eleitores, ou balbuciando expressões que alguém lhes redigiu, mesmo que desconhecendo o significado das mesmas.
Infelizmente, estes são também o reflexo da nossa Sociedade, em que os aproveitadores ignorantes usam e abusam da Democracia.
Por isso vote, não fique em casa, pois quem se abstém não tem moral para criticar, nem moral para falar de liberdade.
NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)