NOTA DA SEMANA: Partiu um homem diferente

Eu nunca fui aluno do professor Coimbra, mas sou desse tempo e logo aí marcou uma enorme diferença, pois ele era o tal único professor que, naquele tempo, não batia e que organizava e até participava em grandes futeboladas, com os meninos alunos.

Depois meteu-se na Casa do Povo e nunca esta instituição teve tanta animação, pois foi a equipa de futebol, a única da época em Arganil e foi o Rancho Infantil, que deu cartas a nível nacional e os bailes e os espectáculos e a televisão do povo. Quem não se lembra? Principalmente os pobres devem lembrar-se muito bem.

Depois a sua ânsia e compulsão para a acção levou-o a uma primeira passagem pela Misericórdia e o parque infantil que na época foi uma coisa do outro mundo para as crianças desta terra. E ainda as festas nos jardins do hospital, onde vieram grandes artistas, os maiores desse tempo. Os asilados do hospital, etc., etc..

Logicamente que tanta energia chamou a atenção nacional e então foi “convidado” para assumir a Camara Municipal e aí foi o que todos sabem. Concorde-se ou discorde-se, pois a política é assim mesmo, a verdade inquestionável é que não existe nada de verdadeiramente estruturante deste Município que não tenha sido iniciativa inicial deste fazedor crónico.

E sabem uma coisa?

Desafio quem quer que seja que encontre em todo o concelho uma única placa com o seu nome. Não tem placas, mas tem obras…

Um homem complexo, que foi preso político e nunca ninguém lhe ouviu um lamento por essa prisão injusta e incompreensível. Sofreu sozinho essas agruras, como sofreu sozinho todas as outras que a vida lhe colocou na sua caminhada e foram muitas, que todas as pessoas de boa fé conhecem.

Um homem que foi sempre aberto a fazer qualquer favor aos seus adversários e até inimigos, às vezes até contra os próprios amigos.

Um homem que geriu, ao longo da sua vida, milhões e nunca beneficiou pessoalmente de nada. Morreu tão pobre, como quando chegou a Arganil.

Um homem que, quando quase morreu num incêndio e lhe ardeu o seu único bem, que era o seu velho FIAT, viu a população serrana cotizar-se voluntariamente para lhe comprar uma nova e modesta viatura.

Um homem que se fez mal a alguém foi principalmente a si próprio!

Este é o homem que nos deixa e estou certo que na hora da partida o seu maior desgosto foi não ter conseguido fazer, ainda em vida, a sua última grande obra, que era o Teatro Alves Coelho. Estou certo que a maior homenagem que Arganil lhe deve (e devemos muito) é “obrigarmos” a que a obra se concretize e que avance de uma vez por todas.

N. da R. – Pela impossibilidade do director escrever a habitual Nota da Semana, este espaço é hoje ocupado por “este elogio fúnebre que devo ao nosso professor Coimbra”, de autoria de Rui Cruz.