NOTA DA SEMANA: Por onde anda o espírito de Natal?

Aproximamo-nos a passos largos de mais um Natal, época tradicionalmente dedicada à família e aos sentimentos que nos ligam a ela.

No entanto, tudo à nossa volta parece querer indiciar que esta quadra está cada vez mais ligada ao intenso consumismo que marca a nossa Sociedade e a um crescente individualismo que se vai apoderando de cada um de nós, relegando para segundo plano a essência da natividade.

Talvez seja por isso, que o Pai Natal Coca-cola, que não deixa de ser uma ode à publicidade, seja na atualidade o símbolo comercial do Natal, a par dos cada vez mais elaborados anúncios televisivos das grandes operadoras tecnológicas, os quais nos invadem o espaço familiar com mensagens e imagens que apelam aos nossos mais profundos sentimentos e se associam ao mundo dos afetos.

Não obstante, para o Mundo Cristão, ainda é, e será, a figura do Menino Jesus o verdadeiro símbolo do Natal e do nascimento da esperança.

E como precisamos nós todos de ter esperança! Especialmente porque o mundo que nos acolhe encontra-se em profunda convulsão, seja por razões relacionadas com os conflitos bélicos, seja por motivo das mudanças climáticas.

Neste contexto de instabilidade e sofrimento, o consumismo acaba por nos dar o conforto que nos adormece e entorpece, mas apenas por períodos breves e temporários, visto que nada nos permite prever que tais acontecimentos não nos afetem, também, daqui a algum tempo.

Sendo o Menino Jesus símbolo da inocência, da pureza e também da fragilidade, não percebo então, a forma fria e até calculista revelada na abordagem do caso de duas crianças gémeas, supostamente beneficiadas no acesso a um tratamento de saúde junto do nosso Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Tenho pena de que, nesta mesma quadra natalícia, duas crianças sejam usadas e utilizadas na refrega política e quiçá, no acerto de contas entre políticos.

A questão sempre foi colocada de forma errada no tratamento dado ao caso das gémeas, portadoras de uma doença rara e capaz de as condenar à morte.

Não nos devia interessar se essas mesmas crianças tiveram uma “cunha” para receberem o tratamento em causa.

A verdadeira questão a ser colocada era se houve alguma criança que tenha ficado sem tratamento, em tempo útil, por causa de duas crianças gémeas não residentes em Portugal, terem tido alguma “cunha”?

Isso sim, é que era a verdadeira questão que a todos nos deveria preocupar e deveria estar em cima da mesa.

Infelizmente, nem com o espírito de Natal somos capazes de diferenciar as coisas!

Julgar os motivos de um Pai, ou de uma mãe, que tudo fazem para salvar a vida dos seus filhos, mesmo que isso implique pedir ajuda a alguém, releva a mediocridade de quem faz esse julgamento.

Devíamos era todos fazer esse julgamento se, porventura, alguma criança portuguesa tenha ficado sem o acesso a tratamentos de saúde, em igualdade de circunstâncias, por força de alguma “cunha”!

Nesta quadra natalícia impunha-se que fossemos capazes de pensar que o nosso Serviço Nacional de Saúde salvou duas crianças da morte certa, aplicando um tratamento raro e bastante caro, mas que foi necessário para proteger o valor da vida.

Nesta quadra natalícia impunha-se que fossemos capazes de obter do SNS igual acesso por parte de todas as crianças a esse e a outros tratamentos, sejam eles mais caros ou mais baratos.

Nesta quadra natalícia era tão mais importante sermos capazes de perceber o quanto simboliza o Menino Jesus, que mais do que nunca representa a fragilidade de todas as crianças que são quem mais sofre neste mundo, sempre que os adultos cometem erros.

Era tão bom que neste Natal, fosse possível proteger todas as crianças por esse mundo fora.

Caros amigos, para todos vós, assinantes e leitores d’A Comarca de Arganil, empresas que publicitam nas nossas páginas e, acima de tudo, amigos deste jornal, desejo-vos um Santo e Feliz Natal, junto daqueles que mais amam.