Sempre que é anunciado que a taxa de crescimento económico do País atinge um pouco mais do que zero porcento, “há foguetório na aldeia” e todos anunciam que Portugal está no caminho da convergência europeia.
Depois, lá vem o discurso de que somos os melhores do mundo e que o nível de vida do País é incomparavelmente melhor do que há cinquenta anos, com destaque para os elevados níveis de escolaridade das gerações mais novas.
Infelizmente, a memória é tão curta que já ninguém se lembra que Portugal, num passado não muito distante, cresceu, ao nível do Produto Interno Bruto (PIB), na casa dos 10% ao ano, e durante vários anos consecutivos esses níveis de crescimento ficaram acima da fasquia dos 6%.
Pois bem, é bom recordar aos atuais políticos que Portugal, nas décadas de sessenta e setenta do século XX e em plena Guerra Ultramarina, cresceu, em vários anos, acima dos dois dígitos – 1962 (10,53%); 1971 (10,49%); 1972 (10,38%); 1972 (10,38%), e que, nos outros anos dessas décadas, até 1975, o crescimento verificado foi, incomparavelmente, superior ao projetado para 2023, 1,3% nas Previsões do Governo, 0,7% nas projeções do FMI.
Mais tarde, e já nas décadas de oitenta e noventa do mesmo século, registaram-se níveis de crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB), ainda assim, significativos – 1987 (7,63%); 1988 (5,4%); 1989 (6,65%) e 1990 (7,86%).
No entanto, e a partir de 1992, os níveis de crescimento do PIB nunca mais atingiram os níveis registados no passado, tornando-se incapazes de sustentarem uma Sociedade cada vez mais virada para o consumo, e orientada para a simples pretensão dos direitos, esquecendo o papel dos deveres por parte dos cidadãos.
Em contrapartida, os níveis de endividamento do País cresceram exponencialmente, e se em 1995 a taxa da divida das administrações públicas era 65% do PIB, em 2020 ela era de 134,20%.
Não é menos verdade de que em 2022 a previsão seja a de que essa mesma dívida se fique na casa dos 118,9% do PIB, na medida em que este último cresceu procurando recuperar os níveis pré-pandemia.
Contudo, essa redução percentual da divida, face ao crescimento do PIB, é completamente ilusória, na medida em que, em termos nominais, essa mesma divida passou de 59 mil milhões em 1995 para 269 mil milhões em 2021 e prevê-se, no final de 2022, que o montante seja de 272 mil milhões de euros!
Leram bem, 272 mil milhões de euros. Este é o número de grandeza da nossa divida no final de 2022!
Em contrapartida, e ao longo de vários anos, a Roménia foi classificada como o segundo País mais pobre na Europa dos 27 Países, contudo, ao longo dos últimos anos, os índices de crescimento da sua economia têm possibilitado a inversão dessa situação, estimando-se que, em 2024, atinga 79% da média do PIB da União Europeia.
Pelo contrário, Portugal, em 2024, baixará para uma média de 78% do PIB da União Europeia.
Mas o mais estonteante, é que a Roménia aderiu à União Europeia em 2007, e Portugal, que entrou na década de oitenta do século passado, tinha já beneficiado do apoio de três quadros comunitários e prepara-se para receber, entre o Fundo de Recuperação e Resiliência, o Quadro Financeiro Plurianual e ainda do Portugal2020, até 2027, mais 50 mil milhões de euros.
Por outro lado, Portugal, em 2000 ocupava o 15º lugar do ranking da média do PIB da União Europeia com 85,3% e em 2024 prevê-se ocupar o 19º ligar com 78% dessa mesma média.
É, pois, tempo, dos Portugueses “desceram à terra”, esquecerem o Mundial do Qatar e focarem-se na triste realidade em que se encontra o País, para que esta não se transforme numa sina que nos persegue.
Depois, recordar que não basta apenas termos índices elevados de escolaridade da nossa população, quando o nível da qualidade do ensino tem vindo a degradar-se nos últimos anos, que o digam os testes internacionais PISA, em que, em 2015, Portugal ocupava o lugar número 10º e em 2018 tinha descido para o 13º lugar, isto apenas na União Europeia.
Que mais nos faltará, sermos ultrapassados pela Albânia?
Mas existe uma diferença muito significativa entre a Roménia, a Albânia e Portugal, é que os dois primeiros fizeram revoluções para se libertarem dos regimes comunistas e nós fizemos uma revolução que quase nos colocava nas mãos do sistema comunista, e por cá ainda vão levitando essas pretensões de uma certa esquerda.
Urge que o País, e os seus políticos, se concentrem no que é realmente importante e o mais importante não será, sem dúvida alguma, colocar na Constituição que os direitos dos animais são equivalentes aos direitos dos cidadãos, ou que as escolas terão que ter casas de banho mistas.
Pensem nisso e sejam, também, políticos na defesa do que realmente interessa e o que interessa é o País voltar a crescer para que o futuro das próximas gerações seja assegurado.
NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)