Terminou o mundial do Qatar, pelo menos para nós Portugueses que sucumbimos perante uma seleção Marroquina que se esmerou para chegar aos quartos-de-final da competição, onde irá defrontar a antiga potência colonial, neste caso a França.
Obviamente, e perante a derrota da nossa Seleção Nacional, logo houve quem visse nessa o desfecho anunciado da crise que nós próprios alimentámos em redor das principais figuras da equipa portuguesa.
Aliás, acho que Mundial que se preze tem que ter algum condimento sobre a incapacidade dos portugueses passarem para o campo de futebol todo o enorme talento que possuem no que toca a jogar à bola.
E neste caso em concreto, isso foi por demais evidente, envolvendo a estrela maior da Seleção Nacional, entenda-se Cristiano Ronaldo.
Contudo, em relação a este jogador, por sinal o maior recordista em diversas categorias do mundo futebolístico (n.º de golos, títulos, n.º de jogos, etc, etc), o que verdadeiramente não se lhe perdoa é a sua apetência natural pela procura de novos desafios e novas conquistas.
Aos 37 anos, continua a jogar ao mais alto nível, marcando a agenda mediática do universo desportivo como muitos poucos o conseguiram fazer.
Atrevo-me a dizer que Ronaldo, o Português, é uma lenda, ombreando, ou mesmo ultrapassando, jogadores como Pelé, Maradona, Eusébio e claro está Lionel Messi.
É claro que os tempos são outros e os termos de comparação não serão exatamente iguais, mas o nosso Ronaldo não fica aquém de nenhum desses nomes, razão suficiente para nos deixar orgulhosos.
Infelizmente, as imagens do jogo contra a Coreia do Sul e a forma como estas foram tratadas, transformaram um qualquer desabafo banal de um jogador que é tudo menos banal, em alvo da quezília comunicacional entre o jogador, o treinador, a Federação Portuguesa de Futebol e os comentadores de televisão, originado maus resultados para todos eles e, muito em particular, enublando a participação da Seleção das Quinas.
Na realidade, o que faz falta a Portugal são mais Cristianos Ronaldo (s), e não falo em linguagem futebolística, falo antes na essência da nossa Sociedade.
Ronaldo subiu a pulso, veio de família pobre e desestruturada, com pai alcoólico e uma mãe que tinha de trabalhar para sustentar, com dificuldades, o sonho do menino que cedo partiu da Madeira para a capital do País, sozinho e sem o amparo dos que lhes eram mais próximos. Imaginam-se a fazer isso com os vossos filhos? Deixá-los partir?
Tinha tudo para dar errado o sonho de Cristiano, mas, com muito trabalho e árduo esforço, tornou-se numa lenda e isto não lhe é perdoado por uma parte de nós portugueses! Quis ser o melhor e conseguiu.
A cada conquista que alcançava logo outra estabelecia, gerando uma auto-motivação alicerçada em resultados e vitórias, e até na vida pessoal foi capaz de furar os cânones tradicionais sendo pai solteiro de uma criança cuja identidade da mãe é desconhecida.
Sempre aprendemos que os filhos, até algum tempo atrás, podiam ser de pai incógnito, mas nunca de mãe incógnita, com Ronaldo descobrimos que isso podia não ser exatamente assim!
Mas tal como, de quando em quando, temos Homens de Estado, líderes com visão e, acima de tudo, com ambição para o País, Cristiano Ronaldo é também uma dessas raras exceções no mundo do desporto.
O Cristiano Ronaldo que reclama por ter saído do jogo contra a Coreia do Sul, barafustando contra o Selecionador, ou mesmo quando chora copiosamente após a derrota contra Marrocos, deveria fazer-nos refletir sobre o que é não desistir e lutar até ao fim do limite das nossas forças.
Se Cristiano perdeu a razão quando reclamou pela sua substituição, descendo aos infernos, alimentado pela quezilenta análise das imagens televisivas repetidas vezes sem fim, rapidamente ganhou os céus quando não controlou o choro pela derrota do seu Portugal contra a seleção de Marrocos.
Que exemplo de maior ambição e competitividade podiam ser dados do que essa insatisfação permanente?
Na realidade, Portugal como hoje se encontra, não merece Cristiano Ronaldo, tal como não mereceu tantas outras figuras notáveis que fizeram a História desta notável Nação que se tem vindo a tornar num País adiado.
O Portugal de Cristiano Ronaldo não é este, e cada vez mais começo a pensar que não será o daqueles portugueses que ambicionam um verdadeiro desígnio para este País que não seja o de mendigar a complacência dos outros Povos!
NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)