
No momento atual já ninguém tem dúvidas, ou pelo menos para aqueles de bom senso, de que a guerra que decorre em território Ucraniano apenas tem um lado responsável, e neste caso é o lado Russo.
Por mais desinformação que o estado-maior do regime de Vladimir Putin vá semeando nas redes sociais, está claro para todos, pelo menos para os que acreditam na Democracia, que todo este conflito se deve à iniciativa das tropas do ditador Russo.
O mundo livre sabe hoje, isto se dúvidas tivesse, que a Rússia é um regime antidemocrático, autoritário, repressivo e, acima de tudo, angustiado com a sua História.
Uma História feita de lutas, de acerto de contas, de exploração do Homem pelo Homem, ao contrário do que alguns pretendem querer fazer crer.
Uma História feita por Ivan “O terrível”, Grão-príncipe de “Moscou”, o primeiro Czar Russo, passando por Pedro I, primeiro Imperador da Mãe Rússia, sem esquecer Catarina a Grande, a mais importante e proeminente Imperatriz do mesmo império, já para não falar de figuras estranhas que o imaginário ocidental transformou em loucos, vilãos e “Seres” maquiavélicos, como Grigori Rapustin, o Monge devasso que dominou a Família Imperial já no declínio dos “Czares – Imperadores”.
Depois, veio Vladimir Ilyich Ulianov, este último reconhecido apenas pelo pseudónimo Lenin, e com ele teve início aquilo a que décadas mais tarde Ronald Reagan, presidente icónico dos Estados Unidos da América, apelidou de “Império do Mal” e juntou esforços para o combater com a “Dama de Ferro” Britânica, Margaret Thacher.
Mas desses inúmeros “Seres estranhos” que pontificaram na História Russa nenhum se comparou ao sanguinário Josef Stalin, ou mais conhecido como Estaline, que matou mais russos do que o próprio Adolf Hitler matou Judeus.
No entanto, a Rússia e a Alma Russa deram-nos muito daquilo que hoje admiramos, especialmente na literatura, onde pontuam vários Nobéis, destacando-se escritores como Alexander Pushkin, Alexander Soljenítsin, Anna Akhmátova, Anton Tchékhov, Liev Tolstói, Nikolai Gogol, sem esquecer Fiódor Dostoiévski.
Importa, pois, fazermos a distinção entre a agressão imposta por um ditador e a Alma do povo a que pertence.
A Rússia não será Putin e Putin nunca será o representante da Alma Russa.
Talvez por isso, seja importante mantermos a lucidez no momento atual, e pensarmos que banir Putin das nossas vidas não deve ser banir tudo o que a cultura Russa deu ao mundo.
A queda de Vladimir Putin na Rússia depende dessa nossa capacidade de não deixar morrer os grandes intelectuais Russos, as suas obras e o seu pensamento, isto porque, neles está uma ideia de liberdade que o ditador russo, tal como todos os ditadores, abominam.
Devemos boicotar os produtos russos, o petróleo russo, o gás russo, os cereais russos, o marisco russo, o caviar russo, entre tantos outros produtos, mas nunca os livros dos homens livres Russos.
Infelizmente, é mais difícil boicotar o petróleo e o gás russos do que a cultura Russa.
Talvez por isso, alguns queiram banir os escritores Russos das Academias Europeias, os bailarinos Russos das salas de espetáculo, os artistas Russos dos coliseus e das grandes salas de ópera, mas apenas, talvez, porque isso será bem mais fácil do que abdicarmos do petróleo e do gás russos.
Ser-se solidário com a Ucrânia e os Ucranianos, é também proteger os que pensam livremente na Rússia e pensam de forma diferente de Putin.
No final, apenas os Russos livres poderão levar Putin perante a justiça que os Ucranianos reclamam e merecem.
NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)