NOTA DA SEMANA: Quando a realidade do carro dos pobres se sobrepõe à utopia do carro elétrico dos ricos

Nas últimas semanas assistimos a um conjunto de manifestações, algumas delas claramente grosseiras e atentatórias das regras básicas da sã convivência e respeito pelos outros.

Falo pois, da contestação desencadeada por diversos grupos climáticos no âmbito da defesa do ambiente e contra o consumo das energias fósseis, com agressões à mistura, nomeadamente contra representantes do Governo da República Portuguesa, sem que até hoje se saiba o que as autoridades terão feito para que o cumprimento da Lei fosse assegurado.

Desde cortes de estradas, agressões aos Ministros do Ambiente e das Finanças, passando por “pichagens” em fachadas de edifícios, que não são mais do que meros atos de vandalismo, tudo isto a Sociedade Civil e as autoridades, foram permitindo, sem que fosse tomada qualquer posição de firmeza na defesa de direitos básicos dos cidadãos, do Estado, de empresas, etc.

A defesa do ambiente foi usada como causa para justificar todos esses atos, e colheu a benevolência de intelectuais, Partidos Políticos, e mais uns quantos que, na senda do que é politicamente correto, não demonstraram a coragem de puxar as orelhas a meia dúzia de “pirralhos” que no final do dia lá regressam para o conforto dos lares aquecidos, muito provavelmente por gás natural, eletricidade e umas quantas lareiras acendidas a lenha.

Contudo, eis que o Governo, na mesma senda da defesa do ambiente e da redução das portagens, coloca como proposta no Orçamento de Estado para 2024, o aumento do Imposto Único de Circulação (IUC), com especial incidência para as viaturas adquiridas antes de 2007.

Foi aqui que a realidade se sobrepôs à utopia, colocando a nu as limitações da transição energética.

De repente, descobrimos que existem mais de 3 milhões de carros que, por serem anteriores a 2007, vão passar a pagar mais IUC, quando antes já tinham os seus donos, no ato de aquisição, pago à cabeça um leque de vários impostos, os quais tinham como enfoque a cilindrada do veiculo e não a emissão de CO2.

Como que por gesto de magia, o País descobriu que, afinal, havia uma série de portugueses que não tinham rendimentos para comprar carros novos e, por isso mesmo, tinham que se deslocar com carros mais velhos para poderem trabalhar, levar os filhos à escola, ir fazer compras ao supermercado e até conseguirem ter alguns momentos de lazer.

A coberto da defesa do ambiente, e aproveitando aquelas patetices de meia dúzia de imberbes adolescentes, justificou-se o aumento colossal do IUC para os mais desfavorecidos.

É claro que foi dito que esse aumento era só de 25 euros para os carros anteriores a 2007, o que dará pouco mais de 2 euros por mês, faltou foi anunciar que essa atualização será gradual nos próximos anos, podendo vir a atingir valores de 200 ou 300 euros/ano.

Percebo agora, porque nenhum dos Ministros quis desencadear processos legais contra os fervorosos ativistas pelo ambiente (pelo menos do que se conhece) …na realidade foram esses “delinquentes ecológicos” que corroboraram o aumento do IUC, com a postura adotada contra a poluição desenfreada das energias fósseis.

Para atenuar o aumento do IUC, lá se anunciou um valor, que não chega a 3 mil euros, para apoiar o abate dos carros velhos, como se esse apoio possibilitasse a aquisição de um carro novo, mais compatível com as exigências de redução da emissão de CO2 para o ambiente.

E ainda ninguém explicou o que fazer a esses mais de 3 milhões de carros, cuja pegada carbónica vai acabar no sucateiro, sem que se perceba o que fazer com as baterias, e os metais pesados.

E os carros elétricos?

Essas novas viaturas, que prometem acabar com os gases nocivos, mas que são caros para a grande maioria dos portugueses, para quem o mercado automóvel não consegue apresentar um carro elétrico, com 4 lugares, a um valor inferior a 27 mil euros!

E ainda ninguém explicou o que vai suceder com as baterias dos mesmos, é que alguns entendidos no assunto dizem que apesar da redução de CO2 que esses veículos possibilitam, parece que as baterias dos mesmos são mais prejudiciais da que as dos carros mais velhos e que se deslocam a gasolina, ou gasóleo!

Ora bem, os portugueses com menores rendimentos mandam abater o carro velho, por causa da tal preocupação com o ambiente e com a solidariedade para os outros que desejam a redução das portagens, pegam no incentivo ao abate e compram…uma bicicleta!

A transição energética desceu da utopia em que vinha sendo construída, à realidade dos portugueses mais pobres e que recorrem ao mercado de venda de viaturas em segunda mão, para dessa forma continuarem a deslocar para realizarem as coisas mais básicas do seu dia-a-dia.

Em suma, quem se “lixa é sempre o mexilhão” que apenas deseja ter um pouco mais de conforto, mas esse objetivo choca com a preservação do ambiente…e da receita fiscal.