NOTA DA SEMANA: Rui Rio Teimosia ou Resiliência!

Foto: PÚBLICO

Amoda é algo que define as tendências no que diz respeito ao vestir e ao calçar, e por meio dela somos rotulados como pessoas de bom gosto e atualizadas ou, pelo contrário, sem gosto algum e desatualizadas do que melhor valoriza a imagem num determinado momento do ano.

No entanto, a moda, ou modas, é algo que não se restringe a meros objetos e artefactos de uso diário que, invariavelmente, contribuem para a definição do nosso estatuto social.

Há quem diga que somos aquilo que comemos, mas não seremos menos do que aquilo que vestimos e calçamos, ou não fosse a nossa Sociedade marcadamente consumista e individualista.

Infelizmente, estas questões da moda já não se restringem aos meros objetos de uso diário, chegando inclusive ao uso de expressões linguísticas e conceitos.

A nossa linguagem, escrita e verbal, está cada vez mais marcada pelo recurso a estrangeirismo, como sinal de intelectualidade e domínio dos temas.

No mundo das empresas, por exemplo, “players” são grandes investidores/parceiros, “Budget” é orçamento, “governance” é o governo/estrutura da organização, entre tantas outras expressões, a maioria das quais com tradução em Português mas que, quando proferidas na nossa língua materna não são tão…”chiques e modernas”, dando mais um certo ar de “parolo” a quem as profere.

Contudo, não é apenas o recurso ao estrangeirismo que é moda, também o uso de expressões, palavras e termos é mais, ou menos, valorizada conforme a “moda” em uso na língua materna.

Teimosia é uma palavra distinta de resiliência, e ambas com significados distintos no dicionário, pelo menos aparentemente.

A primeira, teimosia, entenda-se, será uma característica marcada pela obstinação, ou seja uma pessoa que não desiste facilmente, ou recua, em relação à concretização de algo, revelando persistência em levar a efeito uma determinada ação.

Curiosamente, a palavra teimosia tem sido associada e ilustrada ao longo dos tempos, a comportamentos mais negativos, através de expressões usadas como: “é teimoso que nem um burro”!

Já resiliência significa resistência à adversidade, podendo ser entendida como a capacidade para enfrentar, recuperar e superar as dificuldades, através da demonstração de flexibilidade e capacidade de adaptação aos obstáculos.

Mais recentemente, a palavra resiliência passou a ser o termo da moda na linguagem, e o seu uso proliferou de tal forma que hoje todos desejam ser resilientes, mas nunca teimosos! Resiliência passou a ser uma característica positiva das pessoas, já teimosia encerra tudo de negativo que a obstinação possa conter.

Já imaginaram se António Costa, não o primeiro-ministro, tivesse chamado Plano de Recuperação e Teimosia ao PRR (Plano de Recuperação e Resiliência)?!

Na realidade, uma pessoa resiliente passou a ser entendida como uma lutadora, aquela que crê nos seus objetivos, ajustando-se ao contexto para os concretizar.

É como o bambu que se verga perante a força do vento, mas, por ser flexível e assim acompanhar as suas ondulações, nunca se quebra.

Uma pessoa teimosa deve ser mais do género do “carvalho”, pois de tão dura que é, vergar não verga, mas acaba por “quebrar” e sucumbir, talvez por isso as “árvores morram de pé”.

Agora, veja-se o caso de Rui Rio, recente presidente eleito do PSD, pela terceira vez consecutiva e contra inúmeras expetativas.

Será Rui Rio teimoso, ou resiliente?
Tenho para mim que a imagem de teimoso facilmente se lhe cola, não vergou perante as crises, manteve-se teimosamente no seu lugar e irredutivelmente na relação com os seus opositores.

Contudo, não deixou de ser resiliente, pois perante as adversidades que resultaram de várias derrotas em anteriores mandatos como Presidente do PSD, manteve-se no lugar ajustando o seu discurso perante as adversidades do momento.

Mas repito a pergunta, pergunta esta que poderá ser associada a tantos de nós – Rui Rio é teimoso ou resiliente?

Sabem uma coisa, vou partilhar esta inconfidência convosco caros amigos.
Quando um teimoso ganha será sempre um resiliente, mas quando um resiliente perde, nunca deixará de ser um teimoso.

Esta é a triste realidade e a moda não consegue lidar com ela, mesmo que use expressões mais consentâneas com um pensamento mais moderno.

Agora é moda ser-se resiliente, mas para tal é preciso ganhar-se, caso contrário não passaremos de teimosos que nem mulas!

NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)