Começa a ser habitual, demasiado habitual por sinal, ficarmos a conhecer da existência e funcionalidade de alguns serviços da República pelos piores motivos.
O último exemplo foi o recente episódio envolvendo o SIS (Serviço de Informações e Segurança), vulgo os Serviços Secretos cá do País, que, por incúria, no mínimo, de um ex-adjunto do Ministro das Infraestruturas, levou um computador portátil do Estado para sua casa, a pretexto de retirar ficheiros pessoais que tinha no referido equipamento.
Em poucos instantes, um alegado furto terá passado para mero esquecimento, com o reporte que se impunha ao responsável pela gestão dos equipamentos informáticos do Estado, não sem antes o diligente Gabinete do Ministro das Infraestruturas ter comunicado “às entidades competentes” o desaparecimento de tão importante equipamento, no qual se incluíam documentos devidamente classificados, alguns dos quais, alegadamente, por proposta do infame “ex-adjunto” que foi exonerado, sem apelo nem agravo.
Para adoçar a trama, seguiu-se o conhecimento de um conjunto de alegadas agressões, perpetradas pelo ex-adjunto à diligente equipa do Gabinete do referido Ministério, toda ela composta por elementos do género feminino e que, por necessidade de salvaguarda da integridade física e pessoal, acabaram fechadas numa casa de banho.
O alegado agressor, perante as autoridades (PSP) chamadas ao local, tenha sido pelo próprio ex-adjunto, ou pelas alegadas agredidas, acaba por não ser detido, e isto porque não foram identificadas testemunhas no local!
Qual filme de espionagem, eis que os intrépidos agentes secretos portugueses entram em cena, face à comunicação da chefe de Gabinete “às entidades competentes”, não se percebendo ainda quais são estas, pelo desaparecimento do computador, recheado com ficheiros de interesse nacional.
Esses ficheiros, quiçá com planos secretos de desenvolvimento para a economia portuguesa, pois não vislumbro qualquer outra coisa, e muito menos uma qualquer arma secreta a desenvolver pelo Ministério da Defesa Nacional, tal a desgraça em que estão as nossas Forças Armadas, passaram a ser o foco dos nossos Serviços Secretos e prioridade para a Segurança Nacional.
E a trama adensa-se com as declarações do ex-adjunto à comunicação social, com a divulgação de mensagens trocadas com o Ministro que estava numa reunião lá para os lados de Singapura, enquanto este, por sua vez não querendo ficar atrás, e no seu regresso, lá divulga mais umas quantas mensagens, tendo por perto as diligentes colaboradoras do Gabinete do dito Ministro, vitimas ofendidas do infame vilão que não respeitou o género feminino.
Contudo, e certamente depois de uma intensa investigação, apenas possível graças às competências de que o nosso SIS dispõe, com recurso a inovadores sistemas de vigilância e toda uma panóplia de equipamentos semelhantes aos dos filmes de James Bond, lá é recuperado o famigerado computador, com os tais ficheiros classificados e a segurança nacional do País é, finalmente, reposta.
Pelo meio, temos ainda tempo para assistir a uma conferência de imprensa onde é destacado o impagável papel dos elementos do Gabinete do Ministro na defesa do interesse nacional, sabendo-se que o computador está já à guarda do cofre da Policia Judiciária, para ser sujeito a perícias que irão provar o quanto estava em risco a República Portuguesa!
O pobre ex-adjunto, por sua vez, está já disponível para ir à Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP para dar nota da sua versão dos factos e, já agora, para rebater o seu anterior “patrão”, o Ministro entenda-se, deduzindo-se daqui que a novela ainda terá mais alguns episódios que permitirão uma nova sequela sobre os nossos Serviços Secretos, os quais dependem, diretamente, do Primeiro-ministro de Portugal.
Já o Diretor Nacional da PSP, homem proveniente da Unidade Especial de Policia e habituado a meliantes de outro gabarito e envergadura, quando confrontado pela comunicação social, optou, sabiamente, por não fazer comentários à situação, embora eu imagine o que lhe irá na cabeça – “Senhores, eram umas bastonadas nesta garotada toda e isto voltava ao sítio”.
Viva o 25 de Abril, o 1.º de Maio e a República, mesmo que esta última seja a das bananas!