Os militares gostam de dizer, talvez fruto do orgulho “castrense”, que “chuva civil não molha militar”.
No entanto, e resultado dos acontecimentos dos últimos dias, sabemos que a chuva civil realmente não molha os militares. Simplesmente encharca-os!
Depois do sucesso do processo de vacinação contra o COVID-19 em Portugal, precisamente liderado por um militar, neste caso do ramo da Marinha, o Vice-Almirante Gouveia e Melo, nada fazia esperar uma polémica, e em tão poucos dias depois do términus da missão da “Task Force”, envolvendo militares da mesma arma.
Como se não bastasse a polémica ter ocorrido no ramo da Marinha, ainda acabou por envolver, mesmo que indiretamente, o nome do mais recente herói cá do burgo nacional, o mesmo Vice-Almirante Gouveia e Melo.
É verdade que desconhecemos todos os contornos que envolvem a suposta exoneração que deixou de a ser, neste caso do Chefe de Estado-Maior da Armada, o Almirante António Mendes Calado.
Contudo, sabemos que o poder político não lidou bem com a “tropa”.
O Poder Politico, representante da Sociedade Civil, tem a obrigação de zelar pelo normal funcionamento das Instituições e neste caso em concreto, tem os deveres de zelar e cuidar da estabilidade das Forças Armadas.
E todos sabem que as Forças Armadas têm uma hierarquia e desconsiderá-la é simplesmente humilhar os militares.
Com efeito, uma das consequências do fim do serviço militar obrigatório é a de que muitos dos jovens políticos não sabem o que é seguir regras e obedecer a uma estrutura que se rege, ainda, por valores como a honra e o conceito de servir a Pátria.
E muito menos conhecem a importância da camaradagem entre “pares de armas”.
No entanto, o Primeiro-Ministro, o Ministro da Defesa ou mesmo o comandante supremo das Forças Armadas, neste caso o Presidente da República, não vão correndo para novos, o que lhes dá a responsabilidade de saberem, pelo menos, as divisas e as patentes que cada ramo ostenta na farda.
Com alguma ironia à mistura, importa dizer que os jogos políticos não se aplicam na mesma medida ao xadrez dos militares, e que estes têm o seu mundo ritualizado que deve ser respeitado.
Embora, como já referi, desconhecendo todos os contornos da polémica com o ainda Chefe de Estado-Maior da Armada, é por demais evidente que a putativa substituição do Almirante António Mendes Calado foi fora de tempo, mesmo que este tenha visto o seu mandato renovado em Março último, na perspetiva de que antes do fim dos dois anos habituais no cargo, seria substituído por outro camarada.
É bom que os políticos entendam que quando se estabelece um compromisso com os militares, seja ele de que natureza for, diz o bom senso que este deve ser respeitado, mesmo que alguma das partes não goste do estabelecido, ou dos intervenientes.
Depois, é bom que não se esqueça que em Democracia e num Estado de Direito quem manda é o Poder Civil, mas quem tem as armas são os militares e se há coisa de que estes não gostam é de quem lhes mexe com a hierarquia e com os princípios de lealdade à arma a que pertencem.
Siga a Marinha!
NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)