Os Estados Unidos da América (EUA) são profícuos no que a “teorias da conspiração” diz respeito, sendo quase um fator de identificação cultural dessa Sociedade o aparecimento, de forma mais ou menos elaborada, de explicações, mais ou menos bizarras, para muitos dos acontecimentos alvo de atenção pela comunicação social.
Seja por força da sua história enquanto País, ou da construção, mais ou menos mitológica, do sonho americano, assente numa ideia de “pais fundadores da terra da liberdade”, a construção de explicações alternativas aos eventos, nomeadamente, os mais traumáticos, encontram sempre uma versão popular que radica na eterna luta entre o bem e o mal, e na necessidade de combater o domínio de uma autoridade governamental que procura sempre calar a vontade do povo.
Em bom rigor, esta lógica de construção de uma explicação alternativa aos factos, traduzida na ideia das “teorias da conspiração”, faz parte da expressão cultural de muitas das comunidades americanas e encontra nelas um nicho de proliferação, muitas vezes alimentada pela máquina de Hollywood.
Contudo, se no passado o número de pessoas influenciadas pelas mesmas era muito reduzido, ou mesmo sem expressão, a realidade atual é bem mais distinta, desde logo pelo peso das redes sociais que, ao sabor de um algoritmo, fizeram crescer exponencialmente os consumidores destas teorias.
Ao longo dos tempos, essas “teorias da conspiração” tiveram um papel que o capitalismo americano sob sempre gerir em seu próprio proveito, alimentando a imaginação de milhões de consumidores que, na generalidade, apenas por mero divertimento e diversão consumiam inúmeros artefactos e produções fantasiosas do quotidiano, sob o prisma dessa visão alternativa da realidade.
No entanto, face à enorme polarização da sociedade americana, traduzida nos dois candidatos a concorrer às próximas eleições (Joe Biden e Donald Trump) as notícias falsas, e com elas as “teorias da conspiração”, ganharam uma importância que nunca deveriam ter, e que, muito provavelmente, irão ditar quem ocupará a cadeira na Sala Oval da Casa Branca, centro do poder norte-americano.
Para ajudar a tudo isso, o mais recente atentado a Donald Trump veio alimentar ainda mais a importância das “teorias da conspiração” no imaginário americano, ocorrendo no momento que antecede a convenção republicana e que apenas vai servir para confirmar o respetivo candidato, ao mesmo tempo que promove uma união em seu redor.
Donald Trump, que mais não é do que um produto do imaginário americano, estrela de inúmeros programas televisivos, conseguiu em breves segundos, aproveitando o cenário da tentativa de assassinato de que foi vitima, afirmar a sua imagem de lutador e desafiador do “establishement” dominante, traduzido numa elite intelectual do aparelho democrata.
Na realidade, a ascensão de Donald Trump, proveniente de uma burguesia citadina e que por esse pormenor tinha tudo para ser desprezado por uma parte da américa rural, representou completamente o inverso, na medida em que a sua figura passou a ser associada ao sonho americano, que não se verga ao politicamente correto dos corredores de Washington, D.C.
Ou que dizer da implantação de Donald Trump junto das comunidades latinas, defendendo uma politica de imigração mais restritiva, quando seria suposto suceder completamente o inverso!
Por outro lado, Joe Biden, com as suas inúmeras gaffes, que diga-se em bom rigor são em muito suplantadas pelas afirmações de Donald Trump no desrespeito que representam pela verdade dos factos, sofre do abandono gradual dos políticos democratas que pululam pelos corredores de Washington, e que o apelidam de “velho”.
Até nisso Donald Trump capitaliza junto do seu eleitorado, na medida em que classifica os seus oponentes democratas como traidores que abandonam o seu próprio candidato.
Em bom rigor, tudo se conjuga para uma aparente eleição de Donald Trump, numa disputa também ela inédita, porque, pela primeira vez na América, estão, frente a frente, dois Presidentes Norte-americanos, um em funções e outro que saiu de funções.
Contudo, o grande trunfo de Donald Trump é o de que olha para estas eleições de forma muito pragmática, e olha para os EUA como uma grande empresa que tem que ser gerida com eficácia, num mundo em que a geoestratégia está centrada na ascensão da China e no papel da América para travar essa ascensão.
Os resultados nos EUA serão sempre uma incógnita até à contagem dos votos, a que acresce a particularidade do sistema eleitoral americano, e Joe Biden ainda não está derrotado, mesmo estando “no tapete” poderá sempre levantar-se.
No entanto, o candidato republicano, Donald Trump, pode agora bradar aos céus que sobreviveu a uma tentativa de assassinato, mais uma a juntar às anteriores de carácter judicial, aspetos que irão influenciar o eleitorado americano cujo único verdadeiro traço identitário é o de acreditar viver na “terra da liberdade”, e irá escolher aquele que pensa que melhor defenderá a sua liberdade.