Terminámos mais um ato eleitoral na expetativa de que nos próximos meses seja possível alguma estabilidade, seguramente interrompida com as eleições europeias, isto se na região autónoma da Madeira não vier a ocorrer novo ato eleitoral.
Contudo, se algumas conclusões poderão ser retiradas da noite do dia 10 de Março, seguramente elas serão três, a saber: primeira, a redução da taxa de abstenção, segunda, a viragem do País à direita, e a última, a manifestação do extremismo em plena noite eleitoral junto à comitiva da coligação da Aliança Democrática (AD).
Em relação à redução da taxa de abstenção ela beneficiou, sem dúvida alguma, a direita portuguesa, e neste particular o Partido CHEGA. Algo que deverá merecer uma profunda reflexão por parte dos politólogos, mas especialmente de toda a Sociedade.
Escusado será dizer que manter a “cabeça enterrada na areia” como forma de fugir à discussão de alguns temas não é a solução, e apenas conduzirá ao corroer do sistema democrático.
É preciso aceitar que uma parte dos portugueses, que tinha perdido o hábito de votar, decidiu, desta vez, expressar a sua vontade e, acima de tudo, obrigar a uma profunda reflexão sobre a forma como a Democracia tem funcionado.
Esta reflexão ganha maior preponderância quando estamos no ano de celebração da passagem de meio século desde o 25 de Abril, sem deixar de ser referido que vários deputados do CHEGA foram eleitos no sul do País, em zonas tradicionalmente dominadas pela esquerda, e que houve apenas um Distrito (Bragança) em que esse partido não viu esse objetivo concretizado, e um outro (Faro) em que conseguiu, inclusive, vencer.
Depois, também ficou claro, que o CHEGA entrou nos grandes centros urbanos, e não é um Partido reduzido a comunidades do interior, muitas vezes alvo de chacota por parte de alguns intelectuais da cidade. Afinal, os receios com a segurança, com a imigração e as desigualdades de oportunidades, estão bem presentes nas metrópoles portuguesas.
Por outro lado, a redução da abstenção foi um grito de revolta para uma parte dos portugueses, especialmente contra uma agenda mediática da extrema-esquerda, que teima em introduzir temas que criam clivagens na Sociedade Portuguesa e que os partidos moderados, Partido Socialista (PS), Partido Social Democrata (PSD) e Centro Democrático Cristão (CDS), não podem continuar a pactuar com essa agenda, isto se não quiserem, daqui a uns tempos, ser reduzidos na sua expressão parlamentar.
É preciso perceber que não foram apenas os mais velhos, mas também os mais novos, a decidir abanar o regime democrático português e a dizer que basta de discutir o acessório dessa agenda mediática, quando o que é preciso é resolver os problemas do Portugal real.
Já a viragem do País à direita, mais não é do que a afirmação de que quem governa em nome do Estado, não pode continuar a asfixiar a economia, que não pode “cilindrar” a classe média com impostos que apenas alimentam uma máquina pública ineficaz e que é geradora de desigualdades, que não pode impor, unilateralmente, conceções ideológicas sobre matérias como modelos de famílias, de educação ou privilegiar o carreirismo em detrimento da meritocracia.
As eleições de 10 de Março vieram dizer-nos ainda, que o modelo económico vigente está condenado, pois sem produzir riqueza não será sustentável manter o modelo de proteção social vigente e que é fundamental para a Democracia.
Por fim, o terceiro dado a registar da noite eleitoral foi o ataque de um grupo de ambientalistas ao espaço onde estava instalada a comitiva da AD, num momento em que se projetava a vitória dessa coligação.
Em plena Democracia, o fanatismo, a coberto da preocupação com o ambiente, apenas serve para alimentar os extremismos, e não tenhamos dúvida alguma que estes grupos, organizados e com uma agenda ideológica próxima da extrema-esquerda, contribuirão para destruir as fundações do nosso regime político.
Era bom, que esses radicais da preservação do clima, que no meu entender pouco sabem de natureza e história, fossem capazes de perceber que os grandes percursores em Portugal no que à proteção do ambiente diz respeito, foram governantes do PSD, com a criação dos mais importantes parques naturais e a introdução das primeiras regras ambientais em Portugal.
Esperemos que essas demonstrações de extremismo por esses grupos, não sejam indiciadores da falta de cultura democrática por parte da extrema-esquerda, que é igual à extrema-direita que diz criticar mas que desconhece por onde realmente ela anda, e dos designados novos partidos da natureza, dos animais e outras coisas.
Governe quem foi eleito pelo programa que apresentou, e faça oposição quem foi penalizado pelo programa que levou a votos.