NOTA DA SEMANA: Um País de marinheiros de “água doce”

Foto: DR

Não sei se a culpa é dos barcos, ou dos marinheiros, mas não tenho dúvidas de que a culpa do nosso País se transformar numa anedota é de todos nós.

Se bem me recordo, há algumas semanas atrás, ficámos todos a saber que, de um lote de 37 tanques de guerra – Leopard – apenas pouco mais de dois ou quatro desses, estariam perfeitamente operacionais, e que o seu envio para a Ucrânia retiraria capacidade às nossas Forças Armadas.

Seria pois, mais aconselhável, darmos formação aos militares ucranianos, isto se tivéssemos peças sobresselentes, não fossem, durante a formação, os incautos formandos dar cabo dos poucos tanques ainda funcionais.

Muitos de nós ficámos estupefactos, primeiro, porque com tantos tanques apenas alguns estavam em condições de funcionar, e depois, a surpresa de sabermos que bastavam às nossas Forças Armadas terem dois ou quatro tanques operacionais para se considerarem em prontidão para a guerra!

No entanto, e quando menos esperávamos, entra-nos um navio russo pelas nossas águas territoriais, impondo-se a respetiva escolta pela nossa Marinha de Guerra, não fosse o agora procurado internacionalmente Vladimir Putin, pensar que Portugal é uma República das Bananas.

Azar dos azares, o barco que deveria zarpar da nossa bonita ilha da Madeira, por sinal onde a cultura da banana ainda por lá se vai mantendo, e com o nome de Mondego, tal como o rio que tão perto de nós passa, nem sequer saiu do porto onde estava fundeado.

Tenho para mim, que o nome de tal “barcaça” deveria ser, não Mondego, mas antes “basófias”, tal como a alcunha que o rio tem.Aliás, “basófias” seria até mais aconselhável para designar a nossa embarcação, protegendo assim ao vexame do ridículo o nome do nosso rio.

Ordem para aqui, e “insubordinação” para acolá, o barco ficou no porto, e o navio russo lá passeou pelas nossas águas nacionais.

Sabemos agora, que foram treze os marinheiros que não embarcaram no “Mondego”, o que inviabilizava o funcionamento do dito barco, com o argumento de que este não tinha condições de segurança.

Sei bem que não podemos, nem devemos, fazer julgamentos prévios das razões invocadas, e muito menos condenar alguém em praça pública, mas também sei hoje que essa declaração de se dizer que “chuva civil não molha militar” não passa disso mesmo, uma afirmação para encher o ego dos militares mais voluntariosos e ciosos do seu dever.

Para tristeza de muitos de nós, as funções de soberania do Estado Português – Defesa, Justiça e Segurança – não passam de meras peças decorativas de uma Constituição da República Portuguesa que se resume a ser arma de arremesso ideológico quando convém a alguns Partidos Políticos.

Estou certo, que nenhum cidadão português ficaria satisfeito se, por acaso, o famigerado Mondego tivesse um acidente, ou fosse abalroado pelo navio russo.

Desde logo, porque alguém teria de dar explicações aos familiares dos marinheiros que, eventualmente, viessem a ter sofrido com isso.

No entanto, não tenho dúvidas que se fosse esse o cenário que tivesse vindo a suceder, todos os marinheiros envolvidos passariam a ter a glória da sua arma e os prantos da sua Pátria.

Infelizmente, estamos com mais uma vergonha nacional e internacional, pois já não bastava não termos tanques, sabemos agora que também não temos barcos, especialmente num País de marinheiros como o nosso.

Contudo, o pior ainda está para vir, na medida em que estamos perante uma clara atitude de desrespeito para com a hierarquia militar, o seu código de honra mais básico e os seus princípios castrenses, e sobre isto o poder político não tem qualquer noção ou sequer consideração.

Por mais razões que assistam aos marinheiros em causa, e pelos quais possa sentir simpatia por assumirem uma posição suportada nos alegados riscos para a missão pela eventual situação do “navio”, considero que o código militar mais ancestral foi violado e neste caso, o de cumprir uma ordem militar destinada a proteger o País.

Que não meta o civil a “foice em seara alheia”, e que não caiam na patetice os políticos, especialmente os da esquerda trauliteira e “caviar”, de querer ensinar o código de ética e honra aos militares.

O tempo agora é da justiça militar e das suas tradições, pois será o que pouco ainda resta às nossas Forças Armadas – a ilusão das tradições militares.

Cabe aos políticos, especialmente aos que não fizeram o serviço militar, e que por isso desconhecem o papel das Forças Armadas, o valor da camaradagem, do respeito e amor pela Pátria, dotar o Exército, a Força Aérea e a Marinha de Guerra, das condições para que, à nossa dimensão, sejamos capazes de dignificar todos os Homens e Mulheres que servem os três ramos com os meios necessários para as suas missões, sejam estas de vida ou de morte.

NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)