Depois das festividades de natal, às quais se juntaram as festas de final de ano, é tempo de regressar à normalidade e às rotinas quotidianas, parecendo que estas em nada mudaram, a começar por mais um caso com o atual Governo da República.
Já não é novidade a queda de Secretários de Estado, no entanto, já a saída de Ministros é algo para o qual ainda não nos habituámos, embora seja expetável que este género de eventos poderá começar a ser regular, pelo que, será bom começarmos a aceitar esta nova normalidade politica.
No entanto, desenganem-se aqueles que pensam que Pedro Nuno Santos, o Ministro que se demitiu, foi corrido ou empurrado, antes pelo contrário, saiu pelo seu próprio pé e já deu o tiro de partida à sucessão de António Costa como Secretário-geral do Partido Socialista.
Mas a semana ficou ainda marcada pela morte do Papa Emérito, Bento XVI.
O Papa João Paulo II ficou associado à imagem do sofrimento, levando até ao limite da sua existência o seu longo Papado, tendo suportado sobre os seus ombros toda uma Igreja que nele encontrou um exemplo de coragem e entrega.
Sofreu vários atentados, e tornou-se devoto da Nossa Senhora de Fátima, talvez um dos seus maiores defensores em toda a História da Santa Sé.
Com idêntica dimensão de coragem, mas percorrendo um percurso inverso, Bento XVI teve um curto Pontificado, tendo acabado por resignar, dando mostras de uma inabalável fé nos Homens ao ter assumido, de forma corajosa, abdicar do cargo de Sumo Pontífice para que outro pudesse liderar a Igreja num momento conturbado da sua existência.
Profundamente conservador mas, simultaneamente, culto e conhecedor da doutrina Cristã, cedo percebeu as mudanças em curso no Mundo e, rapidamente, fez a leitura de que o seu conservadorismo era um obstáculo à limpeza que uma parte dessa mesma Igreja milenar necessitava, muito devido aos escândalos de natureza sexual que começavam a vir à luz do dia, com consequências ainda hoje imprevisíveis, mas de igual modo, com os escândalos, menos falados é verdade, mas de natureza financeira associados ao famigerado Banco do Vaticano.
João Paulo II marcou a Igreja, mas será conveniente reconhecer que o exemplo de desprendimento ao lugar, manifestado pelo Papa Bento XVI, não é de menor relevância, pois foi o exemplo deste último que abriu caminho a uma viragem que o atual Papa Francisco conseguiu iniciar.
Bento XVI faleceu já neste ano novo, e importa não esquecer o seu sacrifício para que a Igreja, primeiro Cristã, e só depois Católica, Apostólica Romana, conseguisse renovar-se e preparar-se para os novos desafios.
Mas se esta semana foi marcada pela morte de Bento XVI, Papa Emérito, não podemos ainda, negar o impacto da tomada de posse de “Lula” da Silva, para um terceiro mandato como Presidente da República Brasileira, qual retorno sebastiânico no nosso País Irmão.
Com um País profundamente dividido entre o saudosismo de um regime securitário e militar, do qual Jaír Bolsonaro era uma ténue réplica, e um regime ideologicamente marxista, mesmo que com toques de uma certa esquerda moderna e ambientalista, a tomada de posse foi feita com pompa e circunstância, destacando-se uma forte emoção do Presidente eleito e das massas populares que o elegeram.
Há no entanto algo que não posso deixar de registar, e que uma parte da comunicação social portuguesa pouco relevo deu, embora não se perceba porquê!
É que, para além do convite ao nosso mais alto magistrado da Nação, o Presidente da República Portuguesa, Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, também outra figura nacional recebeu honras de convite pessoal e, neste caso, foi o antigo Primeiro-ministro, José Sócrates.
Tal convite é bastante revelador, não apenas do grau de intimidade entre o atual Presidente do Brasil e o ex-governante Português, o que não deixará de dar azo a algumas leituras maldosas, mas de igual modo, não deixa de revelar que as amizades verdadeiras resistem a tudo, mesmo ao desgaste da Justiça, e por isso, mérito deve existir e honra também, entre os que aguardam pelo veredito dos Tribunais…
E se esta foi apenas a primeira semana, imaginem o que para aí vem para as próximas semanas de 2023.
NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)