No dia 25 de Abril de 2024 terá lugar o ponto alto das comemorações dos 50 anos da revolução dos cravos, cerimónia que tem vindo a ser programada com a devida antecipação e organizada ao pormenor.
Dela fará parte a evocação de diversos acontecimentos que tiveram lugar, antes e depois, dessa data que marcou a mudança de regime em Portugal, para isso tem trabalhado com afinco uma Comissão designada para o efeito.
Em contrapartida, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) vai-se despedaçando com urgências a encerrar, sem que se perceba muito bem quais os interesses que se movimentam e mobilizam nesse setor essencial ao bem-estar dos cidadãos.
Com constantes anúncios da reorganização do SNS que passaram pela criação de uma Direção Executiva, a anunciada extinção das Administrações Regionais de Saúde e a constituição de mais de 30 Unidades de Saúde, a lembrar as anteriores e extintas Sub-regiões, entre tantas outras medidas, ainda não se percebeu muito bem quais as melhorias para os Portugueses.
Na realidade, parece não existir qualquer melhoria visível, e o recurso ao Setor Privado para colmatar as deficiências do SNS tem vindo a aumentar, sendo caso para perguntar qual o motivo para que nos privados não haja recusa ao limite de horas extraordinárias, isto por parte de algumas classes profissionais que o fazem no público?
Mas voltemos ao 25 de Abril e aos seus 50 anos, meio século portanto de Liberdade e Democracia.
Do role de eventos a celebrar nos 50 anos da revolução dos “Capitães de Abril”, não faz parte o 25 de Novembro de 1975, o que não se entende.
Vem isto a propósito do discurso de Carlos Moedas, aquando do 5 de Outubro nos Paços do Município de Lisboa, local que por tradição acolhe os festejos da implantação da República, os quais, por imposição da eventual ameaça de protestos pelos ativistas/vândalos climáticos ditou o afastamento do “Povo” com a colocação de baias policiais.
Tendo Augusto Santos Silva, Presidente da Assembleia da República anunciado dias antes, que o 25 de Novembro não iria figurar no programa de celebrações do 25 de abril, maior impacto ganharam as palavras do edil Lisboeta.
Na realidade o espírito de liberdade prometido pela revolução dos Cravos apenas foi assegurado com o 25 de Novembro do ano seguinte, data em que o Processo Revolucionário em Curso (PREC) é derrotado, ou pelo menos estancado.
Portugal livrou-se de ser um País satélite da União das Republicas Socialistas Soviéticas (URSS), quando os militares moderados, os Partidos Políticos democráticos (PS, PSD e CDS) da altura, a par de diversas organizações da Sociedade Civil, incluindo a Igreja, conseguiram parar os radicais de esquerda que tinham como objetivo a instalação de uma ditadura socialista ao estilo soviético.
Hoje, por estranho que pareça, uma parte do Partido Socialista esquece essa parte da história, sucumbindo às interpretações da cartilha intelectual da esquerda radical que defende que o 25 de Novembro foi apenas a luta dos reacionários fascistas e saudosistas do Estado Novo!
Felizmente, o 25 de Novembro veio colocar o 25 de Abril nos eixos, impedindo que este último não tivesse sido apenas a transição para uma nova ditadura, neste caso mais ao género Estalinista, com os resultados certos que daí adviriam.
Contudo, o Partido Socialista, ou uma parte deste, quer esquecer que o 25 de Novembro é tanto da direita moderada como da esquerda moderada, na qual pontificavam Mário Soares, salgado Zenha, entre tantos outros.
Negar o 25 de Novembro pelos atuais Socialistas é negar a existência de Mário Soares, e todos aqueles que com ele trabalharam para que não houvesse unicidade sindical, ocupação de terras, saneamentos no Estado e nas empresas, prisões arbitrárias ditadas por um comité de militares comunistas e radicais, entre tantas outras coisas.
Recordar o 25 de Abril implica reconhecer o papel do 25 de Novembro na assunção dos direitos, liberdades e garantias que o nosso Estado tem de assegurar junto dos cidadãos.
O 5 de Outubro de 2023, foi pois o dia em que a direita moderada deu a mão à esquerda moderada e verdadeiramente republicana, para que esta não se sentisse órfã e traída por apenas ter feito aquilo que a sua consciência ditou, ou seja, defender o Pais de uma ditadura proletária ao participar ativamente no 25 de Novembro.
Com uma maioria absoluta na Assembleia da República por parte do Partido Socialista, era caso para se pensar que a memória de Mário Soares merecia mais respeito por parte de Augusto Santos Silva.