
O apelo foi feito pelo presidente da Associação no decorrer do almoço/convívio de aniversário – que teve lugar no “Restaurante Social” da Santa Casa da Misericórdia de Pampilhosa da Serra – e tem como objectivo ajudar os combatentes do concelho que (…) «estão na miséria e que precisam de ajuda».
José Alexandre, aludindo ao “subsídio” (complemento de reforma), lembrou os presentes que, tal como há 50 anos na frente de combate (…) «não havia diferenças, eramos iguais entre nós», por isso, hoje (…) «quando se diz que queremos um subsídio para todos, é impossível. Se todos recebermos, receberemos uma “migalhita”, mas se nós juntarmos estas ninharias todas, podemos dar aos combatentes que estão naquelas situações mais qualidade de vida», defendeu.
«Temos que ir à luta como fomos na frente de combate, e temos que lutar por estes combatentes que nada têm, temos que dar as mãos e dizer bem alto “queremos que os nossos combatentes que estão na miséria sejam ajudados”», declarou.
O apelo foi feito na presença de representantes das instituições que, por questões de proximidade e logística, estão em condições de fazer o levantamento dos casos, como sejam a Câmara Municipal, as Juntas de Freguesia; a GNR e os Bombeiros Voluntários de Pampilhosa da Serra (…) «a todos eles, que tenham conhecimento dos nossos combatentes que estão sessa situação, que nos façam chegar esses casos, para que possamos recolher toda a documentação necessária e fazermos chegar esses casos ao Ministério da Defesa Nacional».
«Só assim seremos capazes de conseguir. Sei que vai ser uma batalha dura. Temos que arregaçar as mangas e fazer alguma coisa por eles, nos poucos dias que têm à sua frente», vincou, emocionado, o presidente da Associação de Combatentes do Concelho de Pampilhosa da Serra.
Começando por dar nota do decréscimo de afluência dos sócios na vida da Associação, José Manuel de Almeida depois de expressar a gratidão ao presidente do Município, Jorge Custódio, e ao presidente da Assembleia Municipal e ex-presidente da Câmara Municipal, José Brito Dias, agradeceu ainda a todas as Associações e Núcleos da Liga dos Combatentes (com representações de norte a sul do país) que se associaram ao aniversário, destacando ainda a presença do Comandante da Marinha de Guerra Portuguesa, António Rodrigues Pereira, e do assessor do Presidente da República, Tenente-Coronel Anselmo Dias, bem como do Comandante dos Bombeiros Voluntários, Luís Almeida, e do Comandante da GNR de Pampilhosa da Serra, Paulo Martins, entre outras individualidades.
Aproveitando a presença daqueles altos dignatários, o dirigente da Associação de Combatentes da Pampilhosa da Serra, repudiou declarações feitas (…) «por membros do governo, que até já nos chamaram de “peste grisalha”», mas (…) «na mais bela das idades fomos chamados em defesa da nossa Pátria, e dissemos PRESENTE. Fomos para uma longa viagem que não sabíamos se teria RETORNO… muitos não o tiveram, nada por eles podemos fazer, apenas recordar com saudade a sua memória», disse comovido.
Também o presidente da Associação Nacional dos Combatentes do Ultramar (Tondela), usou da palavra para recordar a província de Cabo Delgado (Moçambique), onde comandou uma Companhia – onde foi ferido em combate – como Capitão Miliciano. «No sítio onde combati (na zona de Macomia) a morte voltou (rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico) e nós perguntamos: “Porque é que fizemos a guerra?” e todos, tristes e acabrunhados, dizemos: “Para nada!” Mas ficou-nos uma coisa: a nossa entreajuda, a nossa coragem, o sacrifício de ir cumprir o nosso dever, porque era naquela altura o nosso dever, e um exército nunca discute as missões que lhe apontam, mesmo que os políticos erradamente conduzam a guerra».
Com as reivindicações dos combatentes em cima da mesa, António Ferraz, anunciou a Lei da gratuitidade dos medicamentos já saiu (…) «mas vamos ver se assim será», já que à data, ainda não tinha sido regulamentada, mas, recordou (…) «tudo isso saiu do empenho das associações, do nosso sacrifício, do nosso trabalho. Mas enquanto não trabalharmos, enquanto não formos unidos – mesmo que tenhamos uma média de idades já de 77 anos – temos que continuar a lutar porque não estamos livres de qualquer dia, um governo ou outro cair, e o anterior se esquecer daquilo que prometeram», constatou.
Ainda antes de ser servido o almoço, coube ao presidente da Câmara Municipal encerrar as intervenções.
Começando por homenagear todos os combatentes da Pampilhosa da Serra pelas “agruras daqueles tempos de combate”, recordando que eram pessoas (…) «que não conheciam mais nada para além da sua aldeia, de repente viram-se obrigados a embarcar e a ir para um país distante para defender uma coisa que nem eles sabiam muito bem o que era, mas, ainda assim, foram uns grandes e excelentes combatentes, e é a eles que hoje devemos muito, porque foi com muito sangue, suor e lágrimas, que eles deram o máximo pelo nosso país, pela nossa Pátria. E por isso, a nossa eterna gratidão». «Associarmo-nos a estes encontros, é o mínimo que podemos fazer para agradecer a todos os que, lá longe trabalharam e defenderam por nós. Portanto, em meu nome e em nome da Câmara Municipal, um bem-haja e um agradecimento muito grande a todos vós».
Dirigindo-se à Associação de Combatentes, Jorge Custódio reconheceu o trabalho que tem desenvolvido ao longo destes nove anos de existência (…) «fazer com que a História não se esqueça, fazer com que as gerações mais novas continuem a perceber o sacrifício que alguns fizeram», porque (…) «engane-se quem achar que essa História é uma história do passado e que não se repete. Só quem não percebe de História é que não sabe que a história vai-se repetindo», alertou.
O autarca reconheceu que os combatentes da Pampilhosa da Serra continuam a não esquecer a data (…) «e teimosamente continuam a não deixar esquecer todas as pessoas que caíram (em combate) e que batalharam nessa guerra (colonial)», agradecendo-lhes por (…) «continuarem a trabalhar em prol da História e em prol da Pampilhosa da Serra».
A terminar, o presidente da Câmara Municipal deixou uma “mensagem de crítica”: «Hoje, damo-nos muitas vezes a criticar a nova geração. Eu costumo dizer que, quando começamos a criticar os mais novos é sinal de que estamos a ficar mais velhos… mas muitas vezes criticamos os mais novos porque não defendem os valores que nós (mais velhos) defendemos ou como nós os defendemos. Mas a critica que eu quero fazer é, quem é que falhou? Eles porque não estão a defender esses valores ou se fomos nós que não conseguimos passar verdadeiramente essa mensagem e esses valores a todos eles».
«Hoje choca-me quando vejo muitos jovens que não sabem cantar o Hino Nacional. Hoje choca-me quando vejo muitos jovens que tratam a Bandeira Portuguesa como se fosse um lençol de trazer por casa. Mas é preciso nós também fazermos esse exercício que é, chamarmos à atenção, chamarmos à razão, e pelo menos – que outra coisa não seja – dignificar esta Pátria que tanto amamos e sobretudo dignificar a História (em tantos deram tanto por ela). É esse o desafio que vos deixo. É que sejamos todos audazes o suficiente para tentar incutir isso nas pessoas mais novas», disse.
“Honrar os mortos… dignificar os vivos”
Combatentes que tombaram no decurso da “Guerra Colonial” (1961 – 1975)
Alfredo Matias Alves (Malhadas da Serra) – faleceu em Moçambique a 10/05/1966 | Álvaro Martins da Costa (Brejo de Cima) – faleceu em Moçambique a 24/12/1974 | Aníbal Gonçalves de Almeida (Malhadas da Serra) – faleceu em Angola a 02/04/1961 | Aníbal Alves Pires (Sobral Valado) – falecem na Guiné a 03/06/1965 | António José Barata Antunes Bento (Dornelas do Zêzere) – faleceu em Moçambique a 08/06/1972 | Austrelindo Gaspar Dias (Janeiro de Baixo) – faleceu na Guiné a 03/12/1964 | Belmiro Pereira Alves Vicente (Meãs) – faleceu em Angola a 20/05/1969 | Fernando Oliveira de Almeida (Fajão) – faleceu na Guiné a 17/04/1968 | João Gonçalves Nunes Pereira (Vidual) – faleceu em Angola a 02/06/1973 | José Simão Gaspar Benedito (Dornelas do Zêzere) – faleceu em Moçambique a 23/06/1974 | Lino Gonçalves Fernandes (Dornelas do Zêzere) – faleceu na Índia a 18/12/1961 | Manuel Catarino Gonçalves (Dornelas do Zêzere) – faleceu em Moçambique a 03/06/1972 | Mário Antunes Gaspar (Machialinho) – faleceu em Angola a 24/11/1969 | Sebastião José da Cruz Carlos Antunes (Dornelas do Zêzere) – faleceu em Angola a 03/05/1974 | Virgílio Ventura Gomes Simão (Janeiro de Baixo) – faleceu em Moçambique a 23/02/1971 | António Augusto Pacheco Gomes (Unhais-o-Velho) – faleceu a 17/10/1975 (de acidente, no regresso a casa depois de cumprir o serviço militar nas ex-colónias)
“O Município de Pampilhosa da Serra perpetua a memória destes heróis que perderam a vida em defesa da Pátria”, lê-se na placa de “Homenagem aos Combatentes da Guerra Colonial”.