Foram vários os momentos que assinalaram o cinquentenário de 25 de Abril na vila de Penacova. Desde a inauguração de um mural alusivo à homenagem aos que combateram (e tombaram) na Guerra do Ultramar, ainda houve oportunidade – para os mais novos – assistirem à recriação de uma aula de ginástica do tempo do Estado Novo.
No decorrer da sessão solene evocativa dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, o presidente da Assembleia Municipal, começou por lembrar o que era Portugal antes e depois da data. Admitindo que não está tudo bem (…) «mas estamos muito melhor», Humberto Oliveira conclui que a discussão conjuntural deve ser deixada para a “espuma dos dias”, e por isso a necessidade de concentração (…) «em tentar melhorar esses problemas conjunturais para que na soma de cada bocadinho, na soma de cada uma das pequenas partes continuemos a contribuir para a mudança estrutural só visível com o afastamento que o tempo permite».
Aludindo ao desenvolvimento económico e social registado pós-25 de Abril, o ex-presidente da Câmara Municipal defendeu o valor principal da “Revolução dos Cravos”, a Liberdade, defendida pelos democratas. «Livres, livres… Livres nas escolhas, livres nas opiniões, livres nas opções. Liberdade de expressão. Liberdade política. Liberdade. Liberdade». «A minha geração e as gerações seguintes, daquelas e daqueles que nasceram depois de 1974 teremos eternamente essa dívida de gratidão para com as gerações anteriores que de alguma forma contribuíram para que o 25 de Abril tivesse ocorrido», recordando que graças a todos eles (…) «uma das principais conquistas políticas que o 25 de Abril nos deixou: o Poder Local. O Poder Local eleito. Foi o 25 de Abril que permitiu que hoje 308 comunidades organizadas nos municípios possam, através do voto universal e das escolhas individuais de cada um, eleger aqueles que gerem os seus destinos».
E porque se tratava de assinalar a (…) «data da História de Portugal mais (d)escrita, mais cantada, mais representada», não esqueceu aquele que Humberto Oliveira considera como sendo o militar que melhor simboliza o 25 de Abril e os seus valores, o Capitão Salgueiro Maia (…) «aquele que eventualmente mais riscos teve de correr, mas teve ainda a coragem e a honradez de nada pedir e nada aceitar para si quando poderia ter tido tudo. Aliás se há coisa que nos devemos orgulhar pouco depois do 25 de Abril de 1974 foi a forma como Salgueiro Maia, e mesmo o Zeca Afonso, talvez pela sua LIBERDADE de espírito, foram tratados. Mas disso não tem o 25 de Abril qualquer culpa…», disse.
Lembrando que (…) «é mais fácil ser fascista numa sociedade livre do que ser livre numa sociedade fascista», o presidente da Assembleia Municipal concluiu que (…) «faltarão completar etapas de Abril! Não me digam é que ainda não saímos do ponto de partida…».
Começando por lembrar os primeiros autarcas eleitos por sufrágio directo e universal em Dezembro de 1976 – Artur Sales Guedes Coimbra, do Partido Socialista foi o primeiro presidente da Câmara – o actual presidente do Município foi peremptório: «É inegável que o 25 de Abril foi o ponto de partida para uma transformação do país, a todos os níveis», destacando o SNS e o abastecimento de água». Sem dissociar a entrada de Portugal na CEE, em que os fundos comunitários foram, e continuam a ser fundamentais para o desenvolvimento do país, Álvaro Coimbra trouxe à memoria a recente entrevista de Ramalho Eanes à SIC (…) «o ex-Presidente da República aponta como factor crítico e mais negativo, o facto de Portugal, 50 anos depois da revolução, continuar a ter uma economia frágil e muito dependente de factores externos».
Contudo, reconhece que meio século depois da “Revolução dos Cravos, Penacova (…) «acompanhou os ventos de mudança e deu um salto qualitativo em vários domínios», enumerando as acessibilidades, o parque de edifícios públicos e de serviços, múltiplos apoios sociais, rede de transportes escolares. «Progredimos muito, mas não estamos satisfeitos», lembrando o envelhecimento e a perda de população, a tendência das novas gerações em procurar oportunidades profissionais fora do país ou noutras regiões, e, ao nível das infraestruturas (…) «a cobertura de saneamento básico que ainda está longe dos níveis satisfatórios», admitiu.
«Perante estes enormes desafios, os sucessivos governos do país teimam em privilegiar os grandes centros urbanos e áreas metropolitanas, ali concentrando grandes investimentos, contribuindo deste modo, para agravar o fosso entre interior e litoral.
Aos municípios são exigidas cada vez mais competências… na Educação, na Acção Social, na Saúde. Sim, estamos mais próximos dos cidadãos e conhecemos melhor a realidade no terreno. Sim, estamos disponíveis para abraçar novos desafios, mas não a qualquer preço.
É nosso dever enquanto autarcas, é a nossa missão, exigir igualdade de tratamento e ferramentas financeiras para executar essas políticas.
Qualquer cidadão do concelho de Penacova deve ter os mesmos direitos, os mesmos serviços públicos de qualquer cidadão que resida numa grande cidade.
É para isso que pagamos os nossos impostos!!
Assim deve ser no acesso aos cuidados de saúde. Exigimos que todos os cidadãos deste concelho, sobretudo os da freguesia de Figueira de Lorvão, tenham acesso permanente a um médico.
Exigimos que os nossos cidadãos tenham acesso a serviços públicos de qualidade, serviços que não funcionem em repartições com obstáculos quase intransponíveis para muitos idosos e pessoas com mobilidade reduzida.
Exigimos uma rede de transportes públicos de qualidade, que ligue Penacova à região, e que desonere o município de uma pesadíssima obrigação de serviço publico, que exige anualmente um esforço anual de centenas de milhares de euros.
Queremos que a fibra óptica e as comunicações móveis, tão essenciais no mundo de hoje, liguem Penacova ao resto do mundo. Queremos que Penacova, enquanto município produtor de energia limpa e renovável, com uma das principais unidades hidroelétricas no seu território, a Aguieira, seja devidamente recompensado por isso. Queremos que Penacova e todas as regiões fora das grandes áreas metropolitanas sejam descriminadas positivamente. Queremos que a expressão “Coesão Territorial” seja realmente exercida pelos nossos governantes e não seja apenas um nome simpático de um ministério».
«Neste momento importante da história do nosso país, em que assinalamos os 50 anos do 25 de Abril formulo o desejo de um país mais equilibrado, mais justo, com politicas publicas que ajudem as regiões mais esquecidas, politicas publicas que impulsionem o investimento no interior, que mitiguem os efeitos da desertificação, que apoiem as novas gerações».
«Enquanto autarca tenho a nobre missão de lutar, todos os dias, por este concelho e pelo bem-estar dos meus conterrâneos».
Convicto, Álvaro Coimbra concluiu que o 25 de Abril deverá ser sempre celebrado com alegria de vivermos em Democracia e em Liberdade (…) «mas com a firme convicção de que ainda há muita estrada para andar!», sustentou.