Na realidade, a comunidade de S. Pedro de Alva, que encheu por completo o salão da Casa do Povo local, no dia 19 de Novembro findo, pode sentir-se muito orgulhosa por ter tido entre os seus filhos – Mário da Cunha Brito e seu filho Maurício Vieira de Brito – pois como disse o responsável da Fundação Mário da Cunha Brito, Ernesto Coelho, «foram duas pessoas, com coração do tamanho do mundo, ligadas a S. Pedro de Alva» e agora focadas no livro ««Um Percurso da Sombra Até à Luz – Maurício Vieira de Brito».
Refira-se que Mário da Cunha Brito abalou novo para Angola – Benguela Velha-Monte Redondo – onde viria a criar uma grande empresa de plantação de café e a sua comercialização, vindo a constituir em Lisboa a firma Mário Cunha, Lda., e numa das suas vindas ao seu torrão natal, passados que foram vários anos sem visitar as suas raízes natais, num desses anos, ao abeirar-se do padre David Marques e do médico Viegas Pimentel, desejava saber quais as mais prementes necessidades da comunidade onde nascera, pois desejava mandar construir uma obra em benefício dos mais desprotegidos e foi deste encontro que tomou a decisão de mandar construir um posto médico, o que já não concretizou este seu sonho, porque o destino assim o não quis, pois a morte bateu-lhe à porta aos 63 anos.
Mas seu filho Eng. Maurício Vieira de Brito honrou a vontade e memória do pai…
Tanto assim foi, que deu corpo e vida à Fundação, cuja vontade não ficou por aqui, porque a sua ideia foi para além disso, pois não só criou uma instituição polivalente, com hospital, dotado com bloco operatório (sob a responsabilidade de uma outra magnânima figura local, que foi o Dr. Viegas Pimentel), maternidade, cantina escolar, sopa dos pobres e a designada «Casa de Trabalho», que teve como função a formação de raparigas.
Mas a estratégia benemérita do Eng. Maurício Vieira de Brito, não se limitou a criar a obra atrás referida, como ainda, face à sua visão estratégica-benemérita, preocupou-se com a sua sustentabilidade e por isso dotou-a de património imobiliário, constituído por dois prédios que lhe permitisse a sua sustentabilidade, situados na Avenida D. Rodrigo da Cunha, em Lisboa, prédios que contêm 15 inquilinos e casa para porteira, cujo rendimento, à data, como referiu Ernesto Coelho, «era considerado suficiente para a manutenção da Fundação, mas ao longo do tempo este rendimento estagnou devido ao congelamento das rendas e às elevadas taxas de inflação que se seguiram».
Porém, a visão progressista do Eng. Maurício Vieira de Brito e tendo como consciência de que «um povo só progride se for um povo instruído», não esqueceu de, nos Estatutos da Fundação, o seu artigo 27.º, dizer respeito «à concessão de bolsas de estudo do ensino técnico, secundário, incluindo Seminários e superiores a estudantes pobres de reconhecido merecimento que tenham frequentado as Escolas Primárias de S. Pedro de Alva e demais freguesias mencionadas no artigo 3.º».
Inauguração da Fundação em 1959, com posteriores gestos religiosos e obras comunitárias
E foi a 31 de Maio de 1959, que o Eng. Maurício Vieira de Brito deu corpo ao início da instituição, com a sua inauguração, fazendo questão, em memória de seu pai, lhe atribuir o seu nome, que desde então passou a designar-se Fundação Mário da Cunha Brito, instituição dotada de personalidade jurídica, com fins humanitários, caritativos e educacionais, visando especialmente a protecção na infância, na adolescência, na velhice, na maternidade e na doença as populações necessitadas da freguesia de S. Pedro de Alva e quando necessário e sem prejuízo destes, as das freguesias de Travanca do Mondego, Paradela da Cortiça, São Paio do Mondego e Oliveira do Mondego, pois como recordou Ernesto Coelho, «nessse dia S. Pedro de Alva viveu um momento ímpar da sua história, que ficou gravado na memória dos vários milhares de pessoas que partilharam o grande acontecimento, com foguetes, filarmónicas, ranchos folclóricos «e até um comboio especial transportou de Lisboa até Coimbra muitos convidados», para assistir a uma obra que, situada numa freguesia do interior, apetrechado do melhor equipamento existente na época, dotado de bloco operatório, maternidade, consultas externas e internas.
Mas a generosidade do Eng. Maurício Vieira de Brito não fica por aqui, pois na parte de outras obras que realizou, há a registar a restauração dos altares da Igreja Matriz de S. Pedro de Alva, em cujo templo foi batizado, bem como o calcetamento do respectivo adro, assim como da Capela de Santo António, devendo-se-lhe também o arranque da rede de distribuição domiciliária de água ao Alto Concelho de Penacova, para cuja obra contribuiu com avultado financiamento, complementado com o apoio do Estado, quando era presidente da Câmara Álvaro Barbosa Ribeiro, outra figura grande penacovense.
E por tudo isto, como concluiria Ernesto Coelho, «a gratidão de S. Pedro de Alva ao Senhor Eng. Maurício, como era referenciado localmente, manter-se-á pelos tempos vindouros, cabendo-nos a nós e às novas gerações, manter viva a sua memória, que o presente livro pretende perpectuar», embora a toponímia de S. Pedro de Alva já esteja enriquecida com o seu nome: Largo Engenheiro Maurício Vieira de Brito.
Porém, a obra benemérita do Eng. Maurício abrange outros concelhos e o ensino teve sempre para ele grande importância
Outra nota aqui fica, anunciada por sua filha Dr.ª Margarida Marques Vieira de Brito, presidente da Fundação Mário da Cunha Brito, que para além da obra solidária deixada em Angola, também a terra de sua mãe Zenóbia Ramos Vieira de Brito, a aldeia da Soalheira, do concelho do Fundão, foi bafejada com a construção de um bairro social, para benefício das pessoas mais necessitadas, e jamais se esqueceu das palavras de seu pai, que para ele o ensino «sempre teve a maior importância» e muitas vezes lhe dizia «estuda, filha, ninguém sabe ao que chega, por isso mesmo tomou providências para que as raparigas de São Pedro de Alva se pudessem preparar para a vida profissional, ensinadas na Fundação» e de seguida apresentou o livro que «dá a conhecer a sua vida e obra, através da escrita inspirada do autor João Bernardo Galvão Teles», afirmando este, que apesar de não ser sportingusita, o Eng. Maurício Vieira de Brito «soube trilhar um caminho que o levou à Luz: como empresário, que conseguiu manter e desenvolver os negócios herdados do pai, como benemérito que, em tantas frentes, ajudou o seu próximo e como presidente do Benfica alcandorou às maiores glórias desportivas».
O Sport Lisboa e Benfica também sentiu a força e dinâmica associativa
O Eng. Maurício Vieira de Brito, que nasceu em Novo Redondo (Angola), em 6 de Março de 1919 e faleceu em Lisboa a 8 de Agosto de 1975, tendo-lhe sido concedido por sua Santidade o Papa a Comenda de São Silvestre, o seu caminho prosseguiria também na área do desporto. Sendo eleito presidente do Benfica em 1957, onde se manteve até 1962. As primeiras iniciativas, como presidente, foram os projectos do parque de jogos, bem como da iluminação do Estádio da Luz, e das obras do seu terceiro anel, para além de ter a missão de ter escolhido como treinadores Otto Glória a Béla Guttman e foi na sua gerência que o Benfica venceu duas Taças dos Campeões Europeus.
Os autarcas têm orgulho por este passado
Embora os presidentes da União de Freguesias, Vítor Cordeiro e da Câmara Municipal de Penacova, Álvaro Coimbra, não tenham passado, naquela altura, por esta grande bora realizada em S. Pedro de Alva, pelo Eng. Maurício Vieira de Brito, mas que estão a gozar delas, desde o seu nascimento, deixaram palavras de muito orgulho pela obra desenvolvida e deixada pelo benemérito, que hoje acaba por enriquecer o viver da comunidade, com mais bem-estar e felicidade, e por isso o presidente da Câmara, que elogiando o livro lançado, relevou: «Eng. Maurício Vieira Brito, um Português Extraordinário».