
Assinalaram-se esta terça-feira, sete anos dos trágicos incêndios que queimaram 290 mil hectares de terreno, só na Região Centro, e provocaram 50 vítimas mortais, sendo que os distritos de Coimbra e Viseu foram os mais afectados, com o registo de 25 e 15 mortes, respectivamente.
O fim-de-semana de 15 Outubro (domingo) ficou marcado pela passagem da tempestade tropical “Ophelia” ao longo da costa portuguesa, e trouxe massas de ar quente e ventos fortes que potenciaram a dimensão dos fogos.
Apesar de todos os esforços, bombeiros e população foram impotentes para travar a devastação. Ao início da tarde de domingo, dois focos de incêndio – um na zona de Coja (Arganil) e outro na Lousã – depressa atingiram proporções que deixavam antever um mau cenário. A força dos elementos – o fogo e o vento – facilmente ganhou proporções num terreno montanhoso, com difíceis acessos e sobretudo demasiado seco. Depressa a paisagem ficou transformada num cenário dantesco.
As altas temperaturas que se fazem sentir em pleno Outono contribuíram para o pior desfecho, e os vários fogos acabaram por se tornar num só, deixando um rasto de destruição nos concelhos de Lousã, Vila Nova de Poiares, Penacova, Arganil, Tábua, Oliveira do Hospital (distrito de Coimbra); Mortágua, Santa Comba Dão, Carregal do Sal e Tondela (distrito de Viseu); e Seia (distrito da Guarda), são apenas alguns exemplos das marcas do fogo, onde, desde armazéns de distribuição de produtos alimentares a unidades fabris (confecções e transformação de madeiras), a empresas de transportes de mercadorias (no concelho de Tábua, só numa empresa arderam 14 camiões e reboques), para além das perdas totais ao nível da floresta e agricultura, bem como da pastorícia. São vários os criadores ovinos e caprinos que viram morrer na totalidade os seus rebanhos.
A título de exemplo, no concelho de Oliveira do Hospital, na localidade de Digueifel (“paredes meias” com Vila Cova de Alva, Arganil) nem uma agência funerária escapou à fúria do fogo, com avultados prejuízos em urnas e carros fúnebres.
Só no dia 15 de Outubro de 2017 foram registados 440 incêndios em Portugal. A então porta-voz da Proteção Civil descreveu a data como (…) «o pior dia do ano em matéria de incêndios florestais».
O número de vítimas mostra bem o horror da tragédia que se abateu sobre a região. Recorde-se o número de vítimas mortais só no distrito de Coimbra: Arganil 4 | Oliveira do Hospital 12 | Pampilhosa da Serra 1 | Penacova 5 | Tábua 3, de um total de 50 vítimas mortais e mais de 70 feridos (entre ligeiros e graves) um pouco por todo o lado. Distrito de Viseu, com 15 mortes
Na Região Centro de Portugal, de acordo com a CCDR-Centro, área total ardida foi de 290 000ha, tendo sido 825 habitações permanentes apoiadas, 490 empresas foram afectadas, correspondendo a total de 268 milhões de euros os prejuízos empresariais. Ao todo foram 38 municípios afectados pelos incêndios de 15 de Outubro de 2017.
7 anos depois a “história” repete-se…
A pouco menos de um mês de se assinalarem sete anos desde os incêndios de Outubro de 2017, outro violento incêndio – que deflagrou em Vale de Madeiros, no concelho de Nelas, no dia 17 de Setembro – voltou a provocar devastação, mas, sobretudo mortes.
Na região, houve o registo de três bombeiros da corporação de Vila Nova de Oliveirinha, do concelho de Tábua que pereceram no combate às chamas, na zona de Vila do Mato (Midões – Tábua). «Três valorosos heróis de Portugal», como fez questão de evidenciar, Ricardo Cruz, presidente da Câmara Municipal.
Para todo o sempre ficarão na memória colectiva os seus nomes: Susana Carvalho (44 anos), Paulo Santos (38 anos) e Sónia Melo (36 anos), que (…) «perderam a vida a defender o nosso território, a nossa Nação, o nosso Portugal», como assinalou o vereador Municipal David Pinto.
“Ninguém aprendeu nada…”
Esta será, porventura, a frase mais proferida por muitos portugueses, ao referirem-se às “semelhanças” entre os dois incêndios.
De facto, a realidade “nua e crua” mostra-nos que, quer seja por parte dos proprietários e mesmo das entidades estatais, pouco ao nada se fez (de concreto) para mitigar estes flagelos.
A “olho nu” todos nos deparamos com a “invasão” da floresta em caminhos e estradas municipais e mesmo nas nacionais.
As próprias campanhas de alerta – vê-se – por muito que façam, são, aqui e acolá goradas de eficácia.
Oliveira do Hospital recordou as vítimas do concelho
O Município de Oliveira do Hospital realizou esta terça-feira uma cerimónia evocativa dos sete anos do trágico incêndio, com uma romagem ao “Mural em Memória do Grande Incêndio de 15 de Outubro de 2017”, nos Bombeiros Voluntários de Oliveira do Hospital, onde foi colocada uma coroa de flores.
O presidente da Câmara Municipal, José Francisco Rolo, e o seu Executivo, prestaram também uma homenagem às vítimas do grande incêndio, com uma romagem aos cemitérios das localidades do concelho onde se encontram sepultadas, tendo sido depositadas coroas de flores nos cemitérios de Avô, Ervedal da Beira, Nogueira do Cravo, São Gião, São Paio de Gramaços, cemitério velho de Oliveira do Hospital, Travanca de Lagos e Vila Pouca da Beira.
No decorrer da missa evocativa, na Igreja Matriz de Oliveira do Hospital, foram acesas 13 velas em memória das treze vítimas mortais.
Pelas 18h45, os sinos das igrejas tocaram 13 badaladas em homenagem às vítimas mortais.