A conhecida jornalista Aura Miguel (da Rádio Renascença), especializada em assuntos religiosos com acreditação permanente junto da sala de imprensa da Santa Sé, esteve na Roda Cimeira, a convite da Câmara Municipal, no seguimento da 1.ª edição do Clube do Livro no âmbito da 25.ª Feira do Livro de Góis, realizada em Abril passado.
A Sociedade de Melhoramentos de Roda Cimeira, por iniciativa dos seus associados, manifestou interesse em se juntar a este evento cultural numa edição seguinte e assim, numa parceria com a Câmara Municipal, foi escolhido o livro (editado Bertrand Editora) “Um longo caminho até Lisboa” e, para falar dele, foi feito o convite à autora, que prontamente aceitou, para se deslocar a esta aldeia e participar numa conversa ao vivo com os leitores e, entre os 23 leitores inscritos e todos os mais que se juntaram, falou-se de religião e de fé, de humanidade e de solidariedade, de forças e fragilidades, de coragem e de medo, de culturas, de organização e improviso, através do relato de muitos episódios. As semelhanças e diferenças de personalidades, de culturas, de raças, de idades, mas sempre o mesmo entusiasmo e esperança.
“Foi um momento único de partilha, em que durante quase duas horas se percorreram algumas das Jornadas espalhadas pelas cidades dos vários continentes”, ouvindo as histórias de Aura Miguel (de que fala no seu livro) sobre os três Papas nas 13 Jornadas da Juventude este encontro com a jornalista portuguesa que mais vezes tem integrado a comitiva que viaja a bordo do avião papal e que agora teve oportunidade de vir à pequena aldeia de Roda Cimeira e ao mesmo tempo partilhar também das melhores receitas de doces e salgados numa longa mesa, sabores e saberes feitos antigos e presentes, de todos quantos quiseram participar na iniciativa que, para a receber, mobilizou a aldeia em peso.
“Um enorme obrigada à Aura Miguel e à Câmara Municipal de Góis, por esta parceria vencedora. Venham mais!”, foi o sentimento manifestado pelos responsáveis da Sociedade de Melhoramentos de Roda Cimeira, considerando mais uma vez que “esta iniciativa é um pouco uma antecipação ao grande evento (a Jornada Mundial da Juventude) e um pequeno contributo para que se espalhe a mensagem pelo país e que os que não podem estar presentes fisicamente na capital ou em Fátima, estejam na realidade a participar, a refletir e a sentir”, salientando ainda que “adicionalmente, o objectivo é que estas iniciativas conjuntas deem razões para que cada vez mais as aldeias do concelho se unam em torno de interesses – neste caso, o gosto pelos livros -, fomentando um relacionamento mais estreito e vivência da comunidade: os associados e membros das Comissões, as suas famílias, mas também os amigos, residentes e não residentes e todos os mais que se queiram juntar”. Como aconteceu.
Mas antes, na praia fluvial da Peneda, em Góis, não deixou de acontecer também uma agradável e interessante conversa/tertúlia entre alguns jornalistas (e outras pessoas) com a jornalista Aura Miguel para falar do seu livro, da sua experiência, numa palavra deste seu “Um longo caminho até Lisboa”, um livro “graças” ao qual está a ser convidada para andar “pelo país fora” a falar sobre “esta aventura” que são as Jornadas Mundiais da Juventude que, enquanto vaticanista, acompanha desde 1989.
E sem deixar de manifestar a sua satisfação por também ter ido a Góis, Aura Miguel começou por recordar que “já são 36 anos a acompanhar o Papa”, tendo assistido de perto a 13 Jornadas, de Santiago de Compostela à cidade do Panamá, próximo dos Papas João Paulo II, Bento XVI e Francisco, “fiz até agora 106 viagens papais e para mim é sempre uma aventura cada viagem”, assim como “é sempre novo cada JMJ”.
A autora de “Um longo caminho até Lisboa”, cujo prefácio é do Papa Francisco e que já vai na sua 2.ª edição, questionada sobre qual a viagem que mais gostou confessou, “gostava de ir à Mongólia e falta ir à Rússia e à China. Existe este sonho de um Papa ir à Rússia, João Paulo II bem tentou, Bento XVI não tentou e este está nesta tentativa, (…) ir à Rússia seria uma coisa histórica”, acrescentando ainda que “a Argentina também nunca fui”.
Questionada também sobre o é que distingue cada um dos três Papas com quem conviveu, Aura Miguel disse que “os três Papas são fascinantes”, João Paulo II “introduziu uma grande vitalidade na Igreja”, havendo “imensos episódios divertidos à volta dele. Era muito vigoroso e atractivo como pessoa”, também “falava como ninguém e era muito forte”, recordando que “depois tivemos o atentado”, pelo que este foi “um pontificado cheio de peripécias”, dando ainda a conhecer que “o meu baptismo foi com uma cerimónia com o João Paulo II, em 1986, num encontro inter-religioso em Assis”,
Ainda sobre João Paulo II, Aura Miguel revelou que “teve outra fase interessante que foi a da doença, na segunda parte do pontificado, em que começou a envelhecer de maneira grave e nunca se escondeu. Aprendi com ele que a pessoa não é definida pela aparência”, salientado o facto de não se ter preocupado em mostrar “a sua fragilidade”, sobretudo “em duas Jornadas Mundiais da Juventude em que já estava muito doente”, enquanto “com Bento XVI, que foi eleito 20 anos mais velho, com 78 anos, já com fragilidades físicas, foi um pontificado diferente, no fundo, um pontificado das razões da fé, para ajudar a ‘assentar’ a poeira que tinha sido levantada durante o pontificado de João Paulo II”.
O Papa Francisco “é completamente livre, uma força da natureza, que fura os esquemas todos. (…) Gosta de conviver” e “se pudesse, andava no meio da rua”
Bento XVI foi um Papa que mostrou “uma grande liberdade”, pelo facto de “ter resignado”, disse Aura Miguel, acrescentando que foram “dois homens com uma grande liberdade, com atitudes opostas” e referindo-se depois ao Papa Francisco acentuou que “é completamente livre, uma força da natureza, que fura os esquemas todos. (…) Gosta de conviver” e “se pudesse, andava no meio da rua”.
E depois de “duas operações que já teve, duas delas graves, aos intestinos”, o Papa Francisco “não só vem à JMJ em pleno Agosto, como, passados quinze dias, vai para a Mongólia”, referiu Aura Miguel, sem deixar de dar a conhecer também que “vou a Roma buscá-lo” e que “o Papa tinha mais simpatia que esta Jornada fosse em Estocolmo, por aquela região do norte da Europa ser mais descristianizada”, mas “terá vencido Lisboa por ser uma cidade multicultural”, onde “encontramos pessoas de todas as raças e religiões” e, para além disso, “estamos muito próximos de África e nunca aí houve nenhuma Jornada Mundial da Juventude”.
No final da conversa e depois de referir que nesta sua vinda a Portugal o Papa vai visitar ainda um bairro social “complicado”, em Lisboa, Aura Miguel não deixou de se congratular também pela nomeação de mais um cardeal português, o Bispo Américo de Aguiar e primeiro responsável pela Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, no âmbito da qual deseja e como está escrito no prefácio do seu livro, que os jovens, ligados cada vez mais ao mundo digital, “venham, encontrem-se com outros, levantem-se do sofá, desinstalem-se porque é na realidade que se tornam adultos”.