SANTA OVAIA (Oliveira do Hospital): Arguinas e Professores mereceram gratidão

Padre Borges recordou o «Pai Nosso dos Arguinas»

Com o intuito de não olvidar a história, a comunidade de Santa Ovaia, através da sua União de Freguesias, recordou o tempo de uma actividade que era o ganha-pão local, bem como a do professor, enquanto uns deram nome à profissão de trabalhar a pedra, como o seu devido desenvolvimento, outros desenvolveram os cérebros da população através do ensino como é o caso dos professores.

Pois bem, foi no passado dia 16 de Outubro que a União de Freguesias de Santa Ovaia, desde a primeira hora que tomou posse como representante local, como referiu o seu presidente Bruno Ricardo Dias Amado, logo a ideia foi tomando forma, com a solicitação da população fazer chegar fotografias, para assim levar a bom porto a ideia iniciada, tanto mais que, já existindo a conhecida «Praça dos Arguinas», seria de justiça, após a candidatura dos Verbos dos Arguinas ao concurso das 7 Maravilhas da Cultura Popular e dos livros publicados, «darmos a cara» com esta iniciativa, pois quando se fala dos Arguinas, «falamos de uma palavra que muito enobrece a freguesia e o concelho, sobretudo os arguinas da nossa aldeia que tiveram esta profissão», a qual é ainda exercida por dois ou três que ainda vão picando e trabalhando a pedra, já que «hoje em dia está mais maquinada».

Padre Borges não deixou de intervir

Nesta cerimónia seria impensável que não estivesse presente o padre António Borges de Carvalho, que foi pároco local, amigo dos Arguinas e defensor da sua história, que citando a relação que tinha com o Dr. Vasco de Campos, cujas cartas eram escritas com os verbos dos Arginas, recordou o «Pai Nosso dos Arguinas», que era praticado durante a semana: «Segunda-Feira, Fartura; Terça-Feira, Ainda Dura; Quarta-Feira, Já Mingua; Quinta-Feira, Faminta; Sexta-Feira, Passaremos; Sábado, Pra casa iremos e aí vamos matar a fome».

Mas há mais verbos como este, que tinha como alcance os pedreiros usarem para dialogar entre si, sem que ninguém os percebesse: «A caneira de moiano é lhega gidaça e não foca o badejo na pilatra de soianos» (A minha esposa é mulher e não dorme na vossa cama); «O lhego é mais estrufêgo que os calcúrrios de mioano» (O indivíduo é mais feio ou somenos que os meus sapatos); «Quantas quilôas foca o bandarra?» (Quantas horas dá o relógio?); «O calhau é gidaço» (O patrão é boa pessoa).

Os nomes dos Arguinas que estão explanados no monumento: Albertino Gouveia, Francisco de Sá, Luís de Sá, Agostinho de Sousa, Graciano Domingos, Adelino Duarte, João Madeira, Abílio Pereira, António Dias, Francisco Fernandes, Manuel Nunes, Agostinho Marques Dias, Luís Nunes, António Marques da Fonseca, Adelino Mendes, José Correia, António dos santos, José Gouveia, Adelino Cunha, António Rodrigues Valente, António de São Bento Rodrigues e Adelino da Silva.

De Escola a Biblioteca

A escola primária de Santa Ovaia, que como outras deixram de funcionar, com a criação dos Agrupamentos de Escolas, passou a ser uma Biblioteca, e foi neste espaço, devidamente requalificado, em 2017, que foram homenageados os professores que ali leccionaram. De destacar a exposição de fotografias ali patente, das diversas turmas que por ali passaram, o que dá azo a que se faça uma viagem no tempo. Como o espaço jamais funcionou com essa função, é intenção do presidente Bruno Amado colocar ali alguém, para que aquele local de memórias possa assumir um papel de apoio educativo.

Professores que passaram pela escola: Olga Bento, João Paulo Veloso, Luís Albuquerque, Júlio, Manuel Rolo, António Dinis, Fátima Pereira, Joaquim Prata, Aurora tavares e Natividade Silva.

«Quem fomenta o desenvolvimento de uma terra são os cidadãos, a população e a vontade de fazer…»

…É uma frase proferida pelo presidente da Câmara de Oliveira do Hospital, José Francisco Rolo, relevando ainda que «ao homenagearem-se os Arguinas passa a ser um gesto importante e bonito para os construtores daquilo que é a afirmação de Santa Ovaia», pois é importante que «se perpectuem estes saberes». E quanto ao papel da escola, o edil oliveirense relevou o quanto foi e continua a ser o papel do professor dentro de uma comunidade, «na edificação de homens e mulheres», sendo a saúde e a educação «pilares fundamentais para um povo» e como sendo «um servidor do concelho, tenho que lutar por eles» e seguindo o raciocínio da União de Freguesias, «este sinal de reconhecimento é dado a quem transmitiu arte e saber».

«Precisamos destas mobilizações…»

Graça Silva, vereadora da Educação, exprimiu a sua satisfação por ver esta mobilização humana, pois «ela dá vida às comunidades, sendo disso que se precisa, estarmos juntos, imbuídos dos mesmo espírito e conseguirmos que as nossas comunidades tenham vida», embora sublinhasse, com tristeza, que «somos cada vez menos».